7 respostas para se proteger contra o sarampo, que volta a preocupar
Até agora, cinco casos isolados da doença foram identificados no país; o vírus apresenta alta transmissibilidade e a vacinação representa a principal estratégia de proteção.

Em 2024, o Brasil recuperou o certificado de eliminação do sarampo, após perdê-lo em 2019 devido a um surto no país. Contudo, novos casos começaram a aparecer, gerando preocupação entre as autoridades de saúde. Entre janeiro e abril deste ano, foram registrados 416 casos suspeitos e cinco confirmados, conforme dados do Ministério da Saúde. Em 2023, foram notificadas 2.260 suspeitas, com cinco confirmações.
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Atualmente, os casos são considerados esporádicos e não há registro de óbitos. Dois ocorreram no Rio de Janeiro, em bebês gêmeos que ainda não tinham idade para receber a vacina. No Distrito Federal, uma mulher adulta foi diagnosticada após provável contaminação durante uma viagem internacional. Outro caso foi registrado em Porto Alegre, também relacionado a uma viagem ao exterior. O mais recente, em São Paulo, envolve um homem de 31 anos, cuja origem da infecção está sob investigação.
O Ministério da Saúde afirma que “casos esporádicos como estes não comprometem a certificação do Brasil como país livre da circulação endêmica do sarampo, concedida pela OPAS/OMS em novembro de 2024”. A pasta ressalta que, embora o sarampo ainda circule em algumas regiões do mundo, a rápida resposta das autoridades de saúde tem sido essencial para evitar a transmissão local. A pasta informou ainda que tem apoiado estados com casos de sarampo, com o envio de equipes técnicas para ações de vigilância e vacinação.
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Em nível global, os casos confirmados de sarampo excederam 359 mil em 2024, conforme dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A combinação com a falta de cobertura vacinal resultou em surtos isolados em seis países das Américas, com 2.313 casos notificados até 2025. Foram registradas três mortes, e mais uma está sob investigação.
O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo, alertou Jarbas Barbosa, diretor da OPAS em coletiva de imprensa realizada no final de abril. Os países têm tido dificuldades para manter a cobertura recomendada de 95% da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), deixando-nos suscetíveis a casos importados, acrescentou.
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Nos Estados Unidos, o número de casos de sarampo aumentou significativamente em 2025, com 884 registros confirmados até 24 de abril, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Desses casos, 93% estão relacionados a surtos em áreas específicas do país. O aumento é notável em comparação com o ano anterior, quando foram registrados 285 casos.
A Europa e a África também enfrentam um cenário de alerta, com o aumento consistente de infecções em diversos países. O mundo tem vivenciado um aumento gradual de registros de sarampo. Anualmente, o número de casos aumenta globalmente, com a Europa e a África sempre sendo os epicentros e, atualmente, a região das Américas – concentrando casos em surtos nos Estados Unidos, principalmente. Argentina e Brasil também reportaram casos, daí a preocupação, observa o infectologista pediátrico Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
As viagens internacionais permanecem como uma das principais formas de reintrodução de doenças previamente erradicadas ou controladas em países específicos. O sarampo ilustra essa dinâmica, devido à sua alta transmissibilidade e disseminação em populações com baixa cobertura vacinal.
O sarampo é, entre as doenças infecciosas, aquela com maior transmissibilidade. Costuma-se dizer que não poupa indivíduos suscetíveis. Se encontra alguém não vacinado e que nunca teve a doença, a chance de contágio é enorme. Por isso, em cenários de baixa vacinação, o sarampo é sempre o primeiro a ressurgir e se espalhar com facilidade, alerta Kfouri.
Abaixo, informações sobre a doença e como se proteger contra ela.
Qual é a doença?
O sarampo é uma infecção viral altamente contagiosa que afeta exclusivamente seres humanos. “Por essa característica, seria facilmente erradicada pela vacinação, caso houvesse adesão por grande parte da população”, afirma a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein. A doença ocorre em todo o mundo e continua sendo uma causa relevante de óbito em crianças menores de 5 anos.
Qual é o modo de transmissão do vírus?
O sarampo é causado por um vírus de transmissão respiratória, que se propaga através de gotículas liberadas ao falar, tossir ou espirrar. Sua facilidade de disseminação e alta taxa de contágio preocupam especialistas: uma única pessoa infectada pode transmitir a doença para até 18 outros indivíduos não vacinados.
Para fins de comparação, no pico da transmissão, o vírus Sars-CoV-2, responsável pela pandemia de Covid-19, apresentava uma taxa média de transmissão de aproximadamente 3,8 pessoas por infectado, quase cinco vezes inferior à do sarampo. “Ao detectar um caso, se houver um grupo suscetível, o vírus se dissemina de maneira eficiente. A doença é considerada um indicador de quão frágil é a cobertura vacinal de uma determinada região”, explica o infectologista pediátrico Daniel Jarovsky, secretário do departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Quais são os sintomas?
Após o contato com o vírus, o período médio de incubação varia de seis a 21 dias (em média, são 13 dias), quando o patógeno entra nas mucosas dos olhos ou das vias aéreas da pessoa suscetível. Trata-se do período de latência, em que o vírus fica replicando no organismo sem ainda causar a doença.
Segue o período de pródromo, marcado por sintomas não específicos, como tosse, coriza, conjuntivite e febre alta (até 40 graus Celsius), semelhantes a um quadro gripal. Essa fase tem duração de aproximadamente dois a quatro dias e pode prolongar-se por até oito dias.
A etapa seguinte da infecção é o aparecimento do enantema, ou “manchas de Koplik”, lesões típicas que surgem na mucosa da boca, próximos aos molares, e que devem ser observadas antes do surgimento das manchas da pele. Essas lesões têm duração entre 12 e 72 horas e começam a desaparecer com o início da fase exantemática, caracterizada pelo surgimento das manchas/erupções da pele.
As lesões aparecem de dois a quatro dias após o início da febre, começando no rosto e se estendendo de cima para baixo e do centro para a periferia do corpo. Palmas das mãos e plantas dos pés costumam estar isentas.
Aproximadamente 48 horas após o surgimento das lesões, o paciente começa a apresentar melhora. As lesões mudam para uma cor mais amarronzada, podendo ocorrer descamação. A tosse pode ocorrer por até duas semanas e a piora da febre entre o 3º e 4º dias do surgimento das lesões da pele indica a possibilidade de complicações da doença.
A transmissão do sarampo pode ocorrer até cinco dias antes do surgimento do exantema (as erupções na pele). “a pessoa apresenta um quadro típico de síndrome gripal e, eventualmente, não está em isolamento, frequentando a escola ou mesmo serviços de saúde”, alerta a infectologista do Einstein. A transmissão continua até quatro dias após o aparecimento das manchas da pele. “Uma pessoa positiva [para a doença] pode neste período acometer 90% das pessoas que estão suscetíveis no seu entorno”, afirma Emy Gouveia.
Quais são os possíveis problemas?
Mais de 90% dos casos de sarampo são considerados benignos. Contudo, a doença provoca um efeito de imunossupressão que compromete significativamente as defesas do organismo. Esse enfraquecimento do sistema imunológico torna o paciente mais vulnerável a outras infecções oportunistas secundárias, elevando o risco de complicações mesmo após a fase aguda da doença.
Entre as mais frequentes, encontram-se a pneumonite (pneumonia viral decorrente do próprio vírus), otite média, diarreia intensa e pneumonia bacteriana secundária. Em casos mais graves, a doença pode resultar em danos permanentes, como a perda da visão devido a lesões na córnea.
Existem ainda riscos de complicações neurológicas potencialmente fatais, como a panencefalite esclerosante subaguda, uma condição degenerativa que pode surgir anos após a infecção e leva à morte de forma muito rápida. Há ainda a encefalomielite disseminada aguda, que afeta o cérebro e a medula espinhal.
Qual é a vacinação?
A vacina tríplice viral é a principal forma de prevenção contra o sarampo. Ela utiliza vírus vivos atenuados, que enfraquecidos, estimulam o sistema imunológico a gerar uma resposta protetora sem provocar a doença.
No Programa Nacional de Imunizações (PNI), a estratégia de imunização concentra-se na população pediátrica, sendo aplicada em duas doses, aos 12 e 15 meses de idade. Adolescentes e adultos que não foram vacinados ou possuem esquema incompleto também devem ser imunizados: até os 29 anos, são necessárias duas doses com intervalo de um mês; e entre 30 e 59 anos, uma dose. Em situações de surto, pode ser considerada a vacinação de crianças entre 6 e 12 meses e de adultos com mais de 59 anos.
Em 2023, a cobertura vacinal atingiu 90,02% na primeira dose e 67,42% na segunda. Em 2024, os valores aumentaram para 95,33% na primeira dose e 79,86% na segunda, com o objetivo de alcançar 95%. O Ministério da Saúde não divulgou informações para 2024.
O principal objetivo da vacina é prevenir a infecção, pois ela proporciona uma resposta forte de anticorpos. No entanto, nenhuma vacina é totalmente eficaz – uma pessoa vacinada pode se infectar, mas provavelmente apresentará uma forma branda ou incomum da doença.
Segundo Jarovsky, a vacina é contraindicada para pessoas imunodeprimidas devido à sua composição de vírus atenuados. Contudo, a vacinação da população em geral contribui para a proteção dessas pessoas, através da chamada “imunização de rebanho”, que deve manter acima de 85 a 95% de cobertura vacinal.
A vacina contra o sarampo proporciona imunidade duradoura quando administrada na idade adequada. Contudo, devido à não-eficiência total de todas as vacinas, é fundamental aumentar e alcançar as metas de cobertura vacinal no Brasil e no mundo.
Além da vacina, como se proteger?
A vacinação é a principal forma de proteção contra o sarampo, sendo importante verificar a carteira de vacinação. “Cabe ressaltar: se uma pessoa está doente e precisa se expor à comunidade, como ir ao médico, por exemplo, deverá utilizar uma máscara cirúrgica para proteger as pessoas ao seu redor, evitando assim a disseminação de qualquer doença infectocontagiosa”, orienta Gouveia.
Para viajantes, é importante verificar se o país de destino apresenta surtos de sarampo e avaliar o estado vacinal de todos que acompanham. Recomenda-se estar totalmente imunizado contra a doença pelo menos seis semanas antes da viagem. Caso a viagem seja em menos de duas semanas e a proteção não esteja garantida, é necessário tomar uma dose, que oferece 93% de proteção contra a enfermidade.
Os casos de sarampo identificados no Brasil são, até o momento, classificados como importados e, conforme as autoridades, não estão relacionados a circulações locais. A razão, segundo especialistas, é que esses casos isolados não encontraram indivíduos vulneráveis, devido à proteção oferecida pela vacinação.
O grande desafio reside em manter uma população altamente vacinada para evitar que casos isolados, inevitáveis em um mundo com tanta mobilidade, se transformem em surtos, avalia o infectologista Renato Kfouri.
Para ele, a lição de casa das autoridades sanitárias é clara: reconhecer precocemente os casos, manter vigilância ativa, isolar os pacientes confirmados, vacinar os contactantes e, se necessário, realizar busca ativa de possíveis infectados. “Só assim evitamos o acúmulo de suscetíveis que possa criar um ambiente propício à propagação do vírus”, conclui o vice-presidente da Sbim.
Sarampo: informações sobre sintomas, transmissão, tratamento e prevenção.
Fonte: CNN Brasil