Quem é Janira Rocha, a advogada que permitiu a entrada do Comando Vermelho no Ministério da Justiça?
15/11/2023 às 10h08
Em Brasília, a advogada Janira Rocha, responsável por levar Luciane Barbosa Farias, esposa do líder do Comando Vermelho no Amazonas, conhecido como Tio Patinhas, ao Ministério da Justiça, recebeu financiamento da facção criminosa antes da visita ao prédio do ministro Flávio Dino.
No dia 13 de novembro, o Estadão revelou que Luciane esteve no Ministério da Justiça em duas ocasiões, representando o Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), uma ONG que, segundo a polícia do Amazonas, é financiada pelo tráfico.
O ministério se defendeu, alegando não ser possível saber da ligação de Luciane com o Comando Vermelho, pois Janira foi a autora do pedido de audiência. No dia 14 de novembro, o Estadão apresentou documentos que evidenciam a conexão da advogada com a facção criminosa.
Recibos encontrados no celular de uma integrante do Comando Vermelho, apreendidos pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), revelam três transferências no valor total de R$ 23.654 feitas por um “contador” do CV para a conta de Janira. Esses pagamentos ocorreram em um único dia, próximo à data em que Luciane, também conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, se encontrou com o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, em março deste ano.
Os depósitos foram realizados por Alexsandro Barbosa, considerado pela Polícia Civil do Amazonas como o contador do Comando Vermelho no Estado, de acordo com diálogos do grupo captados pelos investigadores. Importante notar que Janira não é a advogada de Alexsandro.
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Janira foi deputada pelo PSOL e acumulou riqueza durante o período em que ocupou o cargo
Janira da Rocha Silva, de 61 anos e natural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é graduada em História e Direito. Nas redes sociais, ela se apresenta como uma militante feminista, socialista, apoiadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ativista de Direitos Fundamentais e Humanos.
Em 2010, iniciou sua carreira política sendo eleita deputada estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro, com 6.642 votos, sendo a menos votada entre os 70 parlamentares empossados. Embora tenha concorrido ao mesmo cargo em 2006 e 2014, não obteve votos suficientes para se eleger.
Ao ser eleita em 2010, Janira declarou um patrimônio de R$ 9 mil. Em 2014, quando tentou a reeleição para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), seus bens foram estimados em R$ 402 mil, um aumento de 4.366%.
Em 2021, foi condenada em primeira instância por contratar funcionários fantasmas e por coagir servidores de seu gabinete a devolverem parte dos salários durante o mandato na Alerj, entre 2011 e 2014. No entanto, a acusação prescreveu antes do término do processo.
Janira da Rocha Silva, diretora da ONG Anjos da Liberdade, também atua como advogada de Flordelis
Janira também ocupou o cargo de diretora de Relações Institucionais no Instituto Anjos da Liberdade, outra ONG acusada de servir de fachada para o Comando Vermelho. A fundadora dessa organização é a advogada Flávia Fróes, conhecida por defender líderes de facções como Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar.
Flóes está sendo investigada pela Polícia Federal (PF) por supostamente solicitar dinheiro a chefes de facções criminosas para financiar sua campanha a deputada federal nas últimas eleições, na qual não foi eleita para a Câmara dos Deputados. Os investigadores também estão averiguando se a advogada adquiriu um carro BMW por R$ 280 mil durante o período eleitoral, suspeitando que o dinheiro possa ter origem no tráfico.
Recentemente, Janira ganhou destaque ao assumir, em maio de 2021, a defesa da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, que foi condenada a 50 anos de prisão no ano passado pelo assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo.