Cartel da anestesia no DF: entenda os participantes do esquema
27/04/2025 às 18h02

A reportagem revelou a identidade de 12 diretores da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF) identificados pela investigação policial como envolvidos no cartel da anestesia.
As investigações indicam que a Coopanest-DF exerceu abuso de poder econômico por meio desses profissionais, que agiram de maneira autoritária e impuseram, através do sistema monopolista, domínio de mercado e eliminação quase total da concorrência entre anestesistas que não eram filiados à cooperativa.
Através da atuação coordenada e ajustada de profissionais e grupos cooperados, intimidavam aqueles que desejavam se desligar do esquema. Prática que, em tese, pode configurar crime de cartel.
Conheça os diretores.
Segundo os levantamentos, a cooperativa opera por meio de grupos restritos de anestesistas, membros da Coopanest, que exercem o domínio dos procedimentos anestésicos em diversas unidades hospitalares. Cada hospital se configura como um território exclusivo, no qual somente o grupo principal pode exercer suas atividades. Médicos de outras localidades não têm acesso aos contratos, a menos que sejam admitidos pela cooperativa e pelo grupo local.
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Testemunhos coletados na investigação indicam que profissionais autônomos são sistematicamente excluídos, e até mesmo anestesistas recém-chegados ao Distrito Federal só conseguem atuar na rede privada se estiverem integrados a um grupo já estabelecido — e, para isso, precisam da aprovação da cooperativa.
Os documentos indicam que, em cada hospital, existe um núcleo responsável pela definição de demissões e contratações, sem grande atenção aos critérios éticos. Os profissionais só podem atuar na rede privada se estiverem associados a um grupo já consolidado, vinculado à Coopanest-DF.
A estrutura hierárquica da cooperativa também foi objeto de análise. Médicos que não compõem a sociedade majoritária dos grupos são informalmente chamados de “bagres” e assumem os plantões mais intensos — noturnos, aos fins de semana e com procedimentos de maior risco — recebendo valores fixos por hora trabalhada. Já os lucros efetivos são concentrados nas mãos dos sócios, que organizam as escalas e controlam os contratos.
A investigação também demonstrou que a abrangência do domínio da Coopanest-DF se estende ao setor público. Hospitais, incluindo o da Criança de Brasília, e a Secretaria de Saúde do DF, enfrentaram dificuldades na contratação de anestesistas em razão dos altos valores cobrados pela cooperativa. Um estudo citado aponta que mais de 1.300 cirurgias gerais, com 500 pediátricas, foram canceladas por inviabilidade financeira.
Operação Toque de Midaz
A operação Toque de Midaz, lançada em abril pela Polícia Civil do DF e pelo Ministério Público, identificou e expôs as práticas dos principais envolvidos na Coopanest-DF, suspeitos de fazerem parte de uma organização criminosa ligada ao cartel da anestesiologia na capital.
A investigação aponta que o grupo estabelece limitações para médicos independentes, formaliza parcerias exclusivas com operadoras de saúde e emprega intimidação para exercer controle sobre os serviços em hospitais públicos e privados.
A operação, intitulada “Toque de Midaz”, faz referência ao rei Midas, da mitologia grega, que transformava tudo em ouro, representando a ambição do grupo. O “Z” final alude ao medicamento Midazolam, utilizado em anestesias, em uma referência direta ao setor médico.
A cooperativa comunicou, por meio de nota, que “nunca houve e não há cartel ou qualquer outra irregularidade ou ilegalidade por parte da Coopanest-DF e seus diretores”. A defesa também afirmou que “irá comprovar, mais uma vez, a integral regularidade e o compromisso ético dos trabalhos prestados aos seus cooperados por mais de 40 anos”.
Fonte: Metrópoles