Qual representa uma maior ameaça à democracia: uma rede social ou um ladrão que desvia recursos de aposentados?
30/04/2025 9h15

O Supremo Tribunal Federal, o governo Lula e a imprensa buscam convencer que a ameaça à democracia nacional reside nas notícias falsas divulgadas pelas redes sociais.
Não é verdade. Notícias falsas de redes sociais são facilmente desmentidas. A ameaça à democracia nacional continua sendo o conjunto secular que nos aflige desde a época colonial, quando não existia a moderna democracia — composto por patrimonialismo, corrupção, fraude, impunidade, incompetência e ignorância.
Ameaça à democracia é, por exemplo, o desvio de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas, sob o olhar negligente de dois governos, o de Jair Bolsonaro e o de Lula, se trata apenas de negligência.
Não é democracia um regime que admite desvios bilionários como estes e que, uma vez revelados os fraudes por jornalistas dedicados, e não pelos órgãos oficiais supostamente responsáveis pelo controle, pune apenas os níveis mais baixos da hierarquia política, como deve acontecer novamente.
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Contudo, percebe-se que não, visto que a ameaça à democracia reside nas notícias falsas divulgadas pelas redes sociais, e até céticos como eu, por vezes, ficam em dúvida.
Na comemoração do aniversário de 150 anos do Estadão, o tema foi central na discussão, sendo essencial. Estava presente o ministro do STF Edson Fachin, que será o próximo presidente do egrégio tribunal que censurou a revista que fundei por publicar informação verdadeira. Detalhe tão pequeno de nós dois.
Fachin proferiu um discurso alarmante acerca das redes sociais. “Observa-se o desenvolvimento do populismo digital autoritário, cujo impacto ameaça as democracias ocidentais e as tradicionais conquistas da liberdade; o ódio, infelizmente, tem maior rentabilidade do que a solidariedade”, afirmou o ministro, que defende a regulação das redes como solução para diversos problemas – ou, pelo menos, para a maioria deles.
Li as palavras de Fachin e caminhei até a janela para confirmar se eu residia em um andar alto o suficiente para evitar o tsunami de que o ministro alertara. Não me senti suficientemente tranquilo, temendo ser afogado pelo populismo digital autoritário, e acabei lendo o que disse a americana Dana Green, vice-presidente jurídica e conselheira geral do New York Times, também convidada pelo Estadão para participar do evento comemorativo de seu sesquicentenário.
Foi realizada uma entrevista com ela no jornal brasileiro, porém, de forma surpreendente, a resposta sobre o risco das redes sociais não recebeu atenção. Transcrevo a pergunta feita pelo Estado e a resposta de Dana Green:
Alguns especialistas consideram que as redes sociais – onde o conteúdo é influenciado por algoritmos que frequentemente negligenciam a desinformação presente nas publicações – podem ser tão perigosas para a liberdade de expressão quanto os governos autoritários. Você concorda com essa avaliação?
Não estou de acordo. A disseminação intencional é uma questão grave. Contudo, não considero adequado equiparar a liberdade de expressão dos cidadãos ao poder coercitivo e punitivo de um Estado autoritário. Ademais, “controlar a desinformação” tornou-se uma justificativa para controlar a expressão que o governo não aprecia; é um lema comum de regimes autoritários que buscam silenciar a oposição. Qualquer um que preze a liberdade de imprensa deve, em minha opinião, ser muito cético quando o governo busca poderes para determinar quais informações merecem ser consideradas e quais não.
Eu estava otimista. Dado que uma integrante da direção do maior jornal dos Estados Unidos da América, jornal que enfrenta constantes confrontos com o governo de Donald Trump e é alvo de ataques diários de seus apoiadores, discorda de que as redes sociais representam uma ameaça tão grande à liberdade de expressão – e, às demais liberdades democráticas –, não deveria haver nenhum risco iminente de afogamento das democracias ocidentais e de suas liberdades clássicas.
Mantenha-se esperançoso, não resignado. Para evitar tsunamis autoritários, seria fundamental estabelecer-se em uma democracia ocidental.
Fonte: Metrópoles