Ansiedade e gordura corporal apresentam ligação biológica

O estudo inédito detalha o mecanismo biológico pelo qual o tecido adiposo afeta os sistemas cerebrais relacionados à ansiedade.

07/05/2025 10h07

3 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

Normalmente, as pessoas consideram a relação entre ansiedade e obesidade de maneira superficial, supondo que indivíduos ansiosos comem para amenizar sentimentos ou que pessoas obesas se tornam ansiosas por causa da pressão social e do estigma relacionado à incapacidade de controlar o consumo de alimentos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Pesquisadores da Universidade McMaster, no Canadá, identificaram uma ligação fisiológica entre o acúmulo de gordura corporal (tecido adiposo) e a ansiedade. Essa descoberta altera a compreensão da relação entre o metabolismo e a saúde mental.

Um estudo publicado recentemente na revista Nature Metabolism afirma que o estresse psicológico altera tanto o comportamento quanto o metabolismo para proteger os organismos.

LEIA TAMBÉM:

Sob estresse psicológico, o corpo ativa o mecanismo de “luta ou fuga”. Esse sinal de estresse provoca a lipólise, que é a quebra das gorduras armazenadas na corrente sanguínea em ácidos graxos e glicerol, para serem utilizadas como fonte de energia.

A liberação dessas gorduras ativa células do sistema imunológico, que liberam uma proteína com função hormonal, o GDF15. Essa substância viaja pela corrente sanguínea até o cérebro, onde se liga a um receptor (GFRAL), ativando circuitos neurais associados à ansiedade.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como os cientistas estabeleceram a ligação física entre corpo e mente?

Os pesquisadores da Universidade McMaster testaram suas hipóteses “por meio de uma série de experimentos meticulosamente planejados envolvendo camundongos”, conforme explica um comunicado.

Os roedores foram submetidos a injeções no abdômen, contendo adrenalina ou solução salina, para simular os comportamentos de luta ou fuga. A adrenalina, hormônio do estresse, provocou respostas ansiosas sem afetar a atividade geral. Amostras de tecido adiposo e soro foram coletadas após uma hora.

A análise do tecido adiposo branco gonadal e do soro identificou mecanismos-chave ativados pela adrenalina. Esses dados indicam que alterações metabólicas periféricas podem influenciar respostas cerebrais relacionadas à ansiedade, conectando o corpo e a mente.

O estudo demonstra, pela primeira vez, que substâncias inflamatórias ou hormonais, liberadas pelo tecido adiposo em resposta ao estresse, conseguem cruzar a barreira hematoencefálica e impactar circuitos neurais, evidenciando que obesidade e ansiedade possuem bases biológicas comuns.

Ao demonstrar a existência de mecanismos biológicos reais, a pesquisa contesta o mito de que doenças (como a obesidade e a ansiedade) são resultados de escolhas comportamentais negativas ou falhas morais.

Ademais, os autores demonstram que o tecido adiposo não é apenas um armazenamento passivo de energia, mas um órgão endócrino ativo, com capacidade de influenciar processos cerebrais.

Implicações da descoberta da via biológica entre tecido adiposo e ansiedade

Para o autor sênior do estudo, Gregory Steinberg, “Compreender a ligação entre tecido adiposo e ansiedade abre novos caminhos para pesquisas e possíveis tratamentos”. A expectativa, segundo o especialista em ciências da saúde, é que a descoberta possa beneficiar pessoas com ansiedade.

O estudo, conduzido pelo pós-doutor Logan Townsend da McMaster, propõe uma abordagem distinta para o tratamento da ansiedade. A proposta envolve a intervenção nas vias metabólicas, nos processos químicos do organismo.

Isso inclui, por exemplo, bloquear moléculas como o GDF15, já testadas contra o câncer. Ao interromper sinais inflamatórios ou hormonais liberados pela gordura sob estresse, é possível romper o ciclo que liga alterações adiposas à ansiedade, sugere Townsend.

Em última análise, o estudo atual ressignifica nossa compreensão da relação entre corpo e mente. Além de sugerir que a gordura corporal não é só o resultado passivo de hábitos alimentares, os autores mostram que ela influencia ativamente estados mentais por meio de sinalizações bioquímicas.

Associação propõe novos critérios para diagnóstico da obesidade.

Fonte: CNN Brasil

Ative nossas Notificações

Ative nossas Notificações

Fique por dentro das últimas notícias em tempo real!

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.