O desmatamento na Amazônia aumentou 163% em dois anos, ao mesmo tempo em que houve uma redução no desmatamento

Déficit na proteção de biomas registrado entre 2022 e 2024 pode afetar metas internacionais do Brasil, alertam pesquisadores do Inpe.

14/05/2025 9h51

4 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

O rápido aumento da destruição da Amazônia brasileira, sobretudo devido a incêndios, diminuiu a expressiva redução do desmatamento entre 2022 e 2024. Esse “saldo negativo” na proteção do bioma ameaça as metas internacionais de combate à crise climática, considerando que o Brasil é sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) neste ano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O aviso surge de um artigo publicado na revista “Global Change Biology” por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP) e instituições do Reino Unido e dos Estados Unidos.

O desmatamento elimina completamente a cobertura vegetal nativa, enquanto a degradação enfraquece a floresta sem destruí-la por completo. Por exemplo, o corte seletivo de árvores se enquadra nessa situação.

Leia também:

De acordo com o estudo, os alertas de degradação na Amazônia aumentaram 44% de 2023 para 2024 e 163% em relação a 2022. Em 2024, cerca de 25.023 km² de floresta foram degradados, sendo aproximadamente 66% devido a incêndios florestais. Essa área é maior que a do estado de Sergipe.

O desmatamento reduziu 27,5% e 54,2%, representando o menor aumento em uma década. No período de 2024, foram desmatados 5.816 km², conforme dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Inpe.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A degradação é um processo mais complexo de ser detectado do que o desmatamento, pois se manifesta enquanto a floresta ainda está presente. É causada principalmente pelo fogo, que nos últimos dois anos foi intensificado pelo cenário de seca na Amazônia. Também ocorre o corte seletivo de árvores e o efeito de borda, o que reduz os serviços ecossistêmicos prestados por essas florestas. O entendimento dessa realidade contribui para a formulação de políticas públicas, afirma Guilherme Mataveli, pós-doutorando na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe.

O impacto da seca

Entre 2023 e 2024, a Amazônia sofreu com uma intensa seca, caracterizada por déficits de precipitação de 50 a 100 milímetros mensais, aumento de temperatura acima de 3 °C e atraso na estação chuvosa, resultando em níveis mínimos nos rios. O bioma registrou, nesse período, o maior número de focos de calor desde 2007, totalizando 140.328.

Para o pesquisador Luiz Aragão, que também assina o trabalho, a importância do estudo foi demonstrar que os satélites – tecnologias espaciais críticas para o país e utilizadas no sistema de monitoramento do Inpe – já permitem a detecção dos processos de degradação.

Esses processos vinham comprometendo a integridade de nossas florestas de forma silenciosa. As tecnologias atuais não só permitem monitorar os eventos, reportar as emissões de carbono associadas, seus impactos no ambiente, na população e no clima planetário, como também possibilitam o planejamento estratégico para uma gestão territorial sustentável e de baixo carbono, afirma Aragão, que também coordena o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

A liderança do Brasil no cenário internacional em relação às ações de combate às mudanças climáticas e à perda da biodiversidade depende de respostas eficazes à degradação florestal. Relatar as emissões associadas a esses processos é um caminho inevitável nos Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa. Dessa forma, a intensificação de medidas de controle, com a implementação de políticas consistentes que abordem esse processo, torna-se uma prioridade nacional.

Metas de redução de CO2

O Brasil foi o primeiro país a apresentar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) à nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). A definição estabelece o compromisso de diminuir em 59% a 67% as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2035 em relação aos níveis de 2005 (850 milhões a 1,05 bilhão de toneladas de CO2 equivalente).

As NDCs representam as metas de cada país para diminuir a emissão de gases de efeito estufa e impedir que a temperatura média global aumente em mais de 1,5 °C, conforme o Acordo de Paris. Elas serão revisadas e atualizadas até a COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).

A degradação compromete a qualidade da vegetação remanescente, impactando a biodiversidade e diminuindo a capacidade de prover serviços ambientais cruciais, como a absorção de carbono e a regulação do ciclo da água, elementos essenciais para a resiliência do ecossistema.

Estudos prévios já demonstraram que cerca de 40% das florestas desmatadas na Amazônia são causadas por incêndios, efeito de borda, exploração ilegal de madeira e eventos climáticos severos de seca, evidenciando a magnitude e a relevância desse problema.

Nesse caso, as emissões de carbono decorrentes da perda progressiva de vegetação – entre 50 milhões e 200 milhões de toneladas ao ano – foram equivalentes ou até superiores às provenientes do desmatamento – entre 60 milhões e 210 milhões de toneladas/ano.

Os pesquisadores defendem que é necessário implementar medidas para aprimorar o controle de incêndios, além de desenvolver projetos de restauração e reflorestamento em grande escala.

Outra alternativa é a integração dessas estratégias com mercados de créditos de carbono, gerando incentivos financeiros para que proprietários de terras, empresas e comunidades locais implementem práticas sustentáveis.

Destacam-se ainda dificuldades no refinamento do rastreamento e na quantificação da deterioração, juntamente com a necessidade de estabelecer mecanismos para responsabilizar os responsáveis.

Você pode ler o artigo completo neste link.

Fonte: CNN Brasil

Ative nossas Notificações

Ative nossas Notificações

Fique por dentro das últimas notícias em tempo real!

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.