À medida que a Operação Overclean, da Polícia Federal, avança, políticos e servidores ligados à Prefeitura de Salvador passam a ser diretamente atingidos pelas investigações que buscam desmantelar um esquema de fraudes em licitações e lavagem de dinheiro público. As apurações já expõem vínculos suspeitos e pagamentos milionários a empresas investigadas, com destaque para contratos firmados durante a gestão de Bruno Reis (União Brasil), iniciada em 2021.
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Conforme dados do Ministério Público Federal, divulgados pelo Portal da Transparência, a empresa Larclean, que presta serviços de limpeza e higienização, apresentou um aumento significativo nos valores recebidos do município a partir de 2021, período em que Bruno Reis assumiu a Prefeitura.
Entre 2021 e 2024, a empresa obteve R$ 48.893.897,84 provenientes de pagamentos da Prefeitura de Salvador, um valor superior a R$ 18.054.404,28 acumulados nos três anos imediatamente anteriores.
Alex e Fábio Parente, irmãos e líderes da organização criminosa sob investigação, juntamente com o empresário José Marcos de Moura, apelidado de “Rei do Lixo”, estão sendo mencionados em inquérito que aponta suspeitas de fraudes sistemáticas em licitações e superfaturamento de contratos, com indícios de que os processos foram direcionados para beneficiar a empresa.
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O alto valor e as suspeitas de irregularidades submeteram os contratos a investigação. As apurações indicaram que as licitações para contratar as empresas, sobretudo nas Secretarias de Educação (SMED) e Saúde, foram sistematicamente fraudadas.
A representação da Polícia Federal confirmou que o edital de contratação apresentava direcionamentos para beneficiar a Larclean. Com a colaboração de servidores da prefeitura, foram produzidos editais com critérios que desclassificavam concorrentes, garantindo a contratação de empresas vinculadas ao grupo.
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A Larclean, contratada por várias prefeituras, foi alvo de fraudes em licitações, direcionamento de contratos, pagamento de propinas e superfaturamento de serviços. A empresa também foi utilizada para simular serviços fictícios e ocultar a origem ilícita dos recursos, desviando recursos públicos.
A Conforme a Controladoria Geral da União (CGU), os serviços realizados pela Larclean não possuíam o devido acompanhamento institucional do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
A ausência de fiscalização dos contratos resultou, conforme apontado pela CGU, em um prejuízo de superfaturamento com valor superior a R$ 8,4 milhões.
Alvos e prisões
Foi comprovado o envolvimento de Flávio Henrique de Lacerda Pimenta em fraudes, tendo atuado como diretor Administrativo da Secretaria de Educação de Salvador e mantido contato direto com Alex Parente para favorecer a Larclean em processos de contratação.
Foi detido durante a operação Overclean. Na residência dele, a Polícia Federal apreendeu aproximadamente R$ 700 mil em dinheiro. Após a detenção, a Prefeitura de Salvador dispensou o servidor que exercia função comissionada.
A Polícia Federal investigou Samuca Franco, empresário do setor imobiliário, que é apontado como possível operador financeiro do esquema investigado.
O alvo da Polícia Federal é um empresário que acumula contatos no cenário político baiano. Ele mantém relações próximas com Carlos André Coelho, ex-prefeito de Santa Cruz da Vitória (BA), que está preso na segunda fase da operação, prevista para dezembro de 2024.
O ex-prefeito desempenha um papel relevante no grupo criminoso. Ele é suspeito de facilitar repasses ilegais em contratos no valor de R$ 170 milhões. A Polícia Federal declarou que ele é responsável por contratos em diversas unidades da federação, com ingerência em órgãos públicos, interferindo inclusive em decisões administrativas de encerramento de contratos que beneficiam os irmãos Parente. Ele também teria recebido dinheiro em espécie.
A investigação aponta para ligações indiretas entre a Larclean e Samuca Franco, com a Larclean contratando a BRA Teles Ltda., empresa de fachada que transferiu mais de R$ 500 mil a Franco entre 2022 e 2024.
Na quarta-feira (30/4), a coluna divulgou, em primeira mão, a relação pessoal e societária entre Samuca Franco e Bruno Reis. Franco adquiriu dois apartamentos no condomínio de luxo Bay View, em Barra Grande (BA), e relatos indicam que um dos imóveis seria de uso pessoal do prefeito, que acompanhou diretamente sua personalização. Ambos são sócios na empresa SPE Vento Sul Empreendimentos Imobiliários Ltda. desde 2022.
Bruno Reis descreveu Franco como um “irmão que a vida deu” e afirmou ter contato diário com ele. As relações pessoais e de negócios entre os dois intensificam as dúvidas sobre possíveis conflitos de interesse e vantagens indevidas em contratos públicos.
A operação
A Operação Overclean apura um esquema bilionário de fraudes em licitações, peculato, corrupção e lavagem de dinheiro, com desdobramentos em vários estados. A Polícia Federal aponta que o grupo criminoso movimentou aproximadamente R$ 1,4 bilhão através de contratos fraudulentos.
A investigação teve início para apurar irregularidades em um contrato da Agência Nacional de Salvamentos, mas ampliou seu escopo após o surgimento de quebras de sigilo telefático e gravações ambientais que evidenciaram a atuação de um grupo de empresas em contratos de grande valor celebrados com o governo federal e com prefeituras e governos estaduais.
Fonte: Metrópoles