A indústria busca alternativas para a redução do consumo de bebidas no Brasil
Diversos fabricantes introduziram produtos com menor teor alcoólico, diminuindo o consumo sem comprometer a experiência dos consumidores.

Uma pesquisa do Datafolha, em abril, revela que o Brasil apresenta uma divisão significativa. Os dados mostram que 51% dos entrevistados relatam o consumo de álcool, enquanto 41% afirmam não consumir. Adicionalmente, entre os que consomem, 53% indicaram uma redução no consumo.
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Um dado relevante é a relação com a renda per capita. Contrariamente ao senso comum, o consumo de álcool é inferior nas camadas mais pobres. Os dados indicam que na população até dois salários mínimos, 43% bebem álcool. O número aumenta até chegar a 64% entre os que ganham entre cinco e dez salários mínimos. Já entre os mais ricos, que ganham mais de dez salários-mínimos, 59% dizem consumir bebidas alcoólicas. Esse é o elemento que explica o desempenho de marcas de cerveja com maior valor agregado, como Corona e Heineken, por exemplo.
Antigamente, consumir álcool era visto como demonstração de força, sendo o indivíduo que suportava mais elogiado, principalmente entre os homens. “Eu bebo sim, e vou vivendo.” Posteriormente, a bebida passou a estar ligada à violência e à imprudência: direção sob efeito de álcool, agressões, violência doméstica. Recentemente, surgiram baladas sem álcool e festas matinais em cafeterias, onde se consome cafeína – e, por vezes, álcool.
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A Organização Mundial da Saúde estabeleceu, há alguns anos, a meta de reduzir em 10% o consumo prejudicial de álcool até 2025. Posteriormente, expandiu o objetivo para 20% até 2030. As metas são ambiciosas e refletem dois movimentos da sociedade, que fazem parte da estratégia da indústria.
Diversos fabricantes lançaram produtos com menor teor alcoólico, visando diminuir o consumo sem comprometer a experiência dos consumidores. Bebidas mistas e certas cervejas com teor alcoólico reduzido estão se tornando mais comuns. O objetivo é claro: a diminuição do teor alcoólico em diversos tipos de bebidas implica em uma redução de custos. As empresas garantem, assim, espaço no mercado e na percepção do consumidor.
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Sem formação de espuma.
A Ambev se configura como um caso exemplar em termos de estratégia. A empresa demonstra capacidade de dar passos consistentes, possui força para alterar mercados e comportamentos, notadamente quando direciona sua atenção para suas próprias qualidades, em vez de se concentrar nos concorrentes. Nos últimos anos, a empresa tem se dedicado a otimizar sua operação e a sustentar seus negócios com uma constância notável.
Atualmente, a empresa identificou um cenário mais negativo para 2025, devido à volatilidade econômica e às ameaças impostas pela tarifação de Trump. O aumento das commodities representa a principal preocupação, ainda que existam outros fatores a serem considerados.
O lucro líquido se manteve na casa dos 3,8 bilhões de reais. Já a receita líquida global avançou 6,7%, atingindo 22,497 bilhões de reais, enquanto o volume consolidado do grupo chegou a 45,317 milhões de hectolitros. O crescimento foi de 0,7% em volume.
O alumínio destaca-se entre as commodities que influenciam o desempenho da Ambev. As latinhas de cerveja entraram em uma dinâmica de crescimento contínuo, impulsionada pela pandemia de Covid e pela preferência em relação às embalagens de vidro, especialmente nas marcas de preço médio e popular. A questão do preço das embalagens representa um desafio para a manutenção das margens de lucro. O crescimento das marcas premium da Ambev contribui para o dinamismo da empresa, embora o cenário do segundo semestre possa apresentar maiores dificuldades.
A principal concorrente da Ambev, a Heineken, também enfrenta dificuldades com a mudança de comportamento dos consumidores e o aumento das vendas de produtos de maior valor agregado. A vantagem da Heineken reside na capacidade de manter o preço médio de sua marca principal, a Heineken, que possui uma reputação de qualidade e uma estratégia de “onde colocar, vende”.
Apesar da previsão de desafios, a Ambev se mantém como a cervejaria mais apta a superá-los. A empresa mantém uma gestão de portfólio, elemento chave para o setor, que produz resultados. As marcas Corona, Spaten, Stella Artois e Original impulsionaram o crescimento acima de 20% nos segmentos premium e super premium no Brasil, evidenciando a ascensão das marcas em relação à Heineken e o potencial de melhoria com a linha de produtos de maior valor agregado.
Fonte: Carta Capital