A maioria dos trabalhadores da categoria 6-1 recebe até um valor equivalente a 1,5 salários mínimos

95% dos profissionais do setor de telemarketing relatam sentir impacto negativo no convívio pessoal.

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(Imagem de reprodução da internet).

A média salarial, próxima do salário mínimo e meio, combinada com deslocamentos superiores a uma hora e meia até o trabalho e o impacto negativo na vida pessoal afeta 75% dos trabalhadores. Os dados são do Atlas da Escala 6, lançado nesta sexta-feira (1º), durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). “Este Atlas é uma síntese. Síntese parcial, já que é impossível traduzir, em palavras e mapas, o sofrimento da classe trabalhadora da escala 6. É oportuno, também, lembrar que o lançamento ocorre em uma festa dedicada a literatura e, agora, aos livros que não foram lidos, em função da ausência de tempo e recursos, pelos trabalhadores da escala 6. A festa, assim desejo, anunciará o bom combate pelo fim da escala 6,” disse ao Brasil de Fato o coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro, Tadeu Arrais.

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O Atlas é fruto de uma colaboração entre pesquisadores do Observatório, do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e da Associação Trabalho, Rede, Acompanhamento e Memória (Trama). A pesquisa foi conduzida a partir de um questionário com 26 questões e contou com 3.775 trabalhadores respondendo em 394 municípios brasileiros, no período compreendido entre dezembro de 2024 e maio de 2025.

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O estudo revela que a média salarial de 46% dos trabalhadores em regime de escala 6×1 situa-se entre R$1.412 e R$2.120, enquanto outros 22% têm remuneração equivalente ao salário mínimo. Os baixos salários impactam particularmente as mulheres negras. A porcentagem de mulheres negras que recebem até R$2.120,00 atinge 80,7%, superior à das pessoas negras em geral (73%), e muito superior à das pessoas brancas em geral (59,47%). Entre os entrevistados, quase 70% não visualizam perspectiva de melhora salarial em suas ocupações atuais. Além disso, o levantamento demonstra a relevância do tempo livre para a qualidade de vida da classe trabalhadora.

O efeito prejudicial da jornada de 6 horas e 1 minuto é patenteizado pelo elevado índice de requerimentos de atestado – 27% dos trabalhadores obtiveram licenças médicas no último mês e 21% relataram atrasos ao trabalho – dados que demonstram o esgotamento decorrente dessa carga horária. A pesquisa também revela que 33% consomem mais de uma hora e meia no deslocamento casa-trabalho, sendo que muitos excedem 30 km por dia apenas na ida.

Os comerciantes (caixas de supermercado, balconistas e vendedores de lojas) apresentaram o maior nível de impacto, com 87% relatando prejuízo na vida pessoal devido à escala 6×1. As atividades mais afetadas incluem o lazer (52,6%), os relacionamentos familiares (43,5%) e o repouso (37,9%). Essa insatisfação também se reflete na dificuldade que alguns empregadores estão enfrentando para a contratação, com a necessidade de recorrer até mesmo ao Exército.

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Já entre os trabalhadores de telemarketing o índice sobe para 95%, o mesmo percentual que defende o fim dessa escala. A pesquisa mostrou ainda que menos de 1% permanece mais de 3 anos na mesma empresa. No capítulo destinado à categoria, o relato de uma trabalhadora indica a necessidade de atender 150 ligações por dia e não gastar mais de dois minutos em cada uma. “Não raro, recebíamos demandas sobre aparelhos e promoções que sequer sabíamos do que se tratavam”, diz o depoimento de uma trabalhadora de telemarketing entre 2004 a 2008 e que de acordo com a pesquisa realizada se mantém atual.

A trabalhadora Alessandra Alves relatou, em entrevista ao Brasil de Fato em 2023, uma série de assédios e pressões no ambiente de trabalho. Ela menciona que a demissão após a licença maternidade e o controle do tempo no banheiro era uma prática comum. “A pressão psicológica era diariamente uma tortura. Houve um episódio em que percebi meu limite. Uma supervisora, vinda de São Paulo, publicou em um grupo de WhatsApp com todos os funcionários: ‘A Alessandra está há 30 minutos no banheiro, o que está acontecendo?’” relata a reportagem da Época.

Os dados da pesquisa indicam que aproximadamente 70,1% dos trabalhadores já foram realocados de suas funções; 67,5% tiveram sua jornada de trabalho modificada em relação ao contrato; 41,5% tiveram uma folga dominical ou feriado substituída por um dia útil; e cerca de 39% sofreram alguma forma de intimidação verbal ou física no ambiente de trabalho. A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023, que compila dados de trabalhadores formais, revela que o setor industrial emprega 4,6 milhões de pessoas, predominantemente em abatedouros, frigoríficos, fábricas de panificação, bebidas e alimentos, produção e refino de açúcar, confecção de fios e roupas, e fabricação de calçados e móveis, além de materiais plásticos.

A escala de 6 horas/1 é um dos temas discutidos no Plebiscito Popular em andamento em todo o Brasil até o dia 7 de setembro. Após o término das votações em setembro e a contagem dos votos, o Ministério do Plebiscito Popular informará o resultado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF). A redução da jornada de trabalho também é objeto de uma Proposta de Emenda Complementar (PEC) apresentada pela deputada federal Erika Hilton, que prevê uma semana com quatro dias de trabalho e três de descanso, sem que a carga horária exceda 36 horas semanais.

Fonte por: Brasil de Fato

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