A polícia concluiu que o suspeito apresentava comportamento obsessivo e era um “stalker” da ex-vereadora Vitória
29/04/2025 às 14h09

São Paulo — O relatório final da Polícia Civil sobre o homicídio de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, aponta que o principal suspeito, Maicol Antônio Santos, de 23 anos, mantinha contato com a jovem, indicando um padrão de comportamento de “perseguidor”.
A polícia constatou que Maicol possuía diversas fotografias de Vitória no celular. Além disso, rastreou o percurso de Vitória por meio da conta do Instagram, através de publicações que possibilitaram sua localização.
No celular de Maicol também constavam diversas fotografias de outras jovens com características muito semelhantes às de Vitória, além de imagens de facas “absolutamente compatíveis”, de acordo com a polícia, em relação aos ferimentos que a jovem sofreu, conforme laudo médico.
As múltiplas fotografias da vítima e de jovens com características semelhantes à dela, indicando, em alguns casos, o perfil de “stalker” do agressor, sobretudo quando combinava imagens de facas de combate e armas de fogo”, consta em trecho do documento assinado pelo delegado Fábio Lopes Cenachi.
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O relatório também concluiu que um terceiro material biológico, além do da vítima e principal suspeito, foi encontrado no veículo de Maicol. A amostra, localizada na parte de trás do banco do carona do carro, é masculina e ainda não foi identificada. “Sendo certo que pertenceria a um indivíduo qualquer, sem vinculação genética a Maicol e Vitória”, diz o documento.
Foram identificados no automóvel vestígios genéticos da vítima e do suspeito nos apoios dos bancos dianteiros, na área posterior e no porta-malas. O laudo indica a chance de que um terceiro perfil biológico seja uma combinação do material genético de Maicol e Vitória.
Diante disso, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) solicitou a instauração de um novo inquérito policial para apurar a possibilidade de participação de mais alguém no crime de ocultação de cadáver. Segundo o promotor Jandir Moura Torres, os novos elementos produzidos no curso da investigação indicam que, em relação a esse crime, o Maicol pode ter tido a participação de terceiros que ainda não foram identificados. Não há suspeitos, afirmou Torres.
O delegado Fábio Cenachi afirmou que a nova investigação será instaurada porque havia apenas uma pequena porção do material genético masculino encontrado. “Naquela pequena porção, por si só, não é possível que você associe a participação de um terceiro indivíduo na ocultação do cadáver. Ela é factível pela presença do material”, declarou.
Devido ao sigilo da Justiça, o promotor não forneceu detalhes sobre os fatos que sugerem a possibilidade de um terceiro ter participado da ocultação do cadáver. “Existem elementos que indicam que neste segundo crime, as circunstâncias devem ser melhor apuradas, pois é possível que tenha havido a participação de mais uma pessoa para ocultar o cadáver”, afirmou Torres.
Feminicídio
O Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra Maicol Antonio Sales dos Santos por sequestro qualificado, feminicídio qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual. Para os promotores, Maicol agiu com desprezo em razão do gênero e a morte foi provocada por meio cruel.
Na coletiva de imprensa de terça-feira (29/4), o promotor Jandir Moura Torres Neto, autor do documento, declarou que Vitória faleceu devido ao seu gênero.
A Vitória não teve responsabilidade direta para que o resultado se concretizasse, considerando o que ocorreu. Ela era uma adolescente comum, que compartilhava fotos e momentos de alegria nas redes sociais.
A morte foi causada por meio cruel, consistente em hemorragia traumática após a submissão de Vitória à situação que levou à sua morte por não ceder ao fim libidinoso perseguido pelo denunciado. O feminicídio foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, uma vez que ela teve a liberdade restrita e permaneceu sob o jugo do denunciado, que empunhava uma faca. Por fim, o feminicídio foi realizado para assegurar a ocultação e impunidade do crime de sequestro.
A morte de Vitória
Único preso.
Maicol permanece detido desde o dia 8 de março, em decorrência de homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver, após admitir sua responsabilidade pelo crime. As investigações seguem em andamento na Delegacia de Cajamar para a finalização do inquérito policial.
Exames periciais identificaram a presença de sangue de Vitória na residência do suspeito. Adicionalmente, foram apreendidas amostras de DNA da vítima em seu veículo. Um vídeo divulgado pela Metrópoles apresenta um trecho do depoimento.
Conforme o documento, ela sofreu lesões fatais e faleceu devido a hemorragia interna e externa.
Confissão
De acordo com o relato de Maicol, ele e Vitória mantiveram um relacionamento há cerca de um ano e meio, caracterizado por “alguns carinhos”. Na época, o suspeito também se relacionava com a atual esposa, e Vitória teria começado a ameaçá-lo, afirmando que revelaria o caso à companheira de Maicol.
Conforme declarado, a adolescente manteve a compostura durante todo o período, o que alarmou o suspeito, que temia a separação da esposa. Na noite de 26 de fevereiro, Maicol aguardou Vitória em um terminal de ônibus, sem saber se a jovem desembarcaria naquele local. Ao não vê-la descer, o homem abandonou o ponto e seguiu viagem.
Contudo, segundo ele, por coincidência, o caminho percorrido por ambos é o mesmo e, em um ponto, eles se encontraram. Maicol teria chamado Vitória para conversar, a jovem aceitou e entrou no veículo. Já dentro do carro – um Corolla prata –, o homem relata que pediu para Vitória não falar com sua esposa, visto que, quando a adolescente e Maicol tiveram o relacionamento, ele estava no início da relação com a atual esposa, e, as ameaças de Vitória não teriam sentido.
Segundo o investigado, foi nesse momento que a adolescente teria se exaltado e o agredido com arranhões no pescoço e no antebraço esquerdo, deixando cicatrizes que, de acordo com ele, já eram perceptíveis na data do primeiro depoimento prestado à polícia. Maicol confessou que também se exaltou, pegou uma faca na parte lateral do banco do motorista, entre o apoio de braço e o banco, e desferiu dois golpes na jovem.
Segundo o relato do preso, Vitória não gritou, pois a ação ocorreu de forma muito rápida e a jovem desmaiou após o segundo golpe.
Reconstrução do falecimento
A reconstituição da morte de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, ocorreu na quinta-feira (24/4), em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo. A nova data, determinada pela Polícia Civil, substituiu a anterior, que havia sido adiada sob a justificativa de “razões técnicas”.
Maicol Antônia Santos, de 23 anos, que está preso e é o único indiciado pelo crime até o momento, não participará da reconstituição devido a uma proibição judicial à sua presença na diligência.
A informação sobre a reconstituição foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública. De acordo com a pasta, os laudos da investigação ficaram prontos em 17 de abril e foram enviados às autoridades responsáveis pelo caso.
Fonte: Metrópoles