A reabertura da Unidade Básica de Saúde Rural Marisa Lourenço da Silva simboliza a batalha por atendimento de saúde no assentamento de Nova Santa Rita (RS)
A ocorrência se dará no mesmo endereço da unidade anterior, situado na Rua das Caturritas, número 445, com acesso pela BR-386.

A comunidade do Assentamento Santa Rita de Cássia II, em Nova Santa Rita (RS), comemora na quinta-feira (31), às 15h30, a reinauguração da Estratégia de Saúde da Família Rural Marisa Lourenço da Silva. A unidade está localizada na rua das Caturritas, nº 445, ao lado da Escola Municipal de Ensino Fundamental Álvaro Almeida.
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A unidade é considerada uma das primeiras experiências no país de implementação da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, das Florestas e das Águas. A reinauguração possui caráter simbólico para os moradores, por significar mais do que o acesso ao atendimento médico.
O assentado e agricultor orgânico José Carlos de Almeida argumenta que a saúde está diretamente relacionada às condições básicas de dignidade. Ele reside no local com sua família e colabora na manutenção do espaço de economia solidária Contraponto, ao lado da Faculdade de Educação (Faced), no campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde atua aos sábados em Porto Alegre.
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Almeida argumenta que possuir saúde é ter acesso à terra para cultivo, alimentação saudável, moradia, água potável, educação e trabalho. “Nosso objetivo sempre foi, como representantes da reforma agrária, estabelecer territórios autônomos a partir da trajetória da luta, das famílias, da solidariedade, da sustentabilidade e da soberania.”
Salienta-se que essa concepção sobre saúde foi influenciada por exemplos históricos, como o do médico argentino Che Guevara, que atuou ao lado de Fidel Castro. “Che era ministro, mas nas horas de folga realizava trabalho voluntário nos campos de produção cubanos. Foi ele quem nos ensinou que saúde é um compromisso coletivo.”
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Almeida recorda o começo da edificação da unidade de saúde da comunidade como resultado da organização popular. Segundo ele, foi um processo coletivo, com mutirões e colaboração de médicos e apoiadores locais. “Iniciamos a organizar mutirões, reunimos médicos e trabalho voluntário para construir o posto de saúde em 2013. Em 29 de setembro de 2014, inauguramos a Estratégia de Saúde. Foi simbólico: conseguimos mais de 100 mutirões para reconstruir o espaço, que era a antiga sede da fazenda. Desejávamos que aquele lugar tivesse uma função social e coletiva.”
A reinauguração acontece no mesmo local da unidade anterior, com acesso pela BR-386, ao lado do Posto SIM.
A ESF tem o nome em homenagem a Marisa Lourenço da Silva, que faleceu com 13 anos após ser atropelada na BR-386, no mesmo dia em que obteve a área do assentamento. A unidade é a primeira rural do Rio Grande do Sul e atende aproximadamente 4 mil pessoas de quatro assentamentos e da zona urbana do município.
Marisa se tornou vítima de um veículo em alta velocidade que ceifou sua vida. Ela residia em acampamento com a família desde 2004, durante a posse da antiga Fazenda Montepio. Honrar sua memória também é recordar tantas outras pessoas que lutaram pela terra e não viram seus sonhos realizados, recorda Almeida.
O autor ressalta que, por meio de ações coordenadas de saúde, proteção ambiental e observação comunitária, a ESF Marisa Lourenço da Silva se configura como um modelo de política pública direcionada às populações rurais. “Nosso espaço enfatiza a relevância do Sistema Único de Saúde (SUS) como ferramenta de equidade e justiça social.”
Almeida argumenta que as conquistas da comunidade decorrem de esforços. “Não existe organização e conquista sem participação e mobilização efetivas. E as vitórias só são reais quando são construídas de forma coletiva e democrática pela comunidade.”
O agricultor relata que a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Fiocruz o selecionaram para representar o Brasil na conferência Proclima, da COP30, compartilhando experiências com mais de 80 países. “Essa conquista demonstra a relevância da luta pelo bem comum. A saúde não é uma construção individual, é uma construção coletiva. Não estamos falando apenas da construção do posto, mas da construção da saúde como bem viver. Essa reinauguração é uma vitória de toda a comunidade.”
É fundamental exaltar as diversas formas de vida no território, em oposição à lógica individualista do sistema capitalista. Necessitamos promover o coletivo e impulsionar a educação, o lazer, a alimentação saudável e o meio ambiente. Construir, em conjunto, o bem-estar. Nada é mais crucial em tempos de conflito do que preservar a vida.
Fonte por: Brasil de Fato