Alckmin declara que a tarifa “também não é bom para os EUA” após reunião com grandes empresas de tecnologia
O vice-presidente afirma que a tarifa é “injustificável” e descreve as articulações com empresas e governos estaduais.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, declarou que a tarifa de 50% imposta pelo governo Donald Trump a produtos brasileiros é uma medida “injustificável” e prejudicial também aos Estados Unidos. “É um perde-perde que também não é bom para os EUA”, afirmou, durante entrevista coletiva no final do dia, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
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A declaração se verificou após uma série de reuniões com representantes de setores diretamente afetados pela medida. Na manhã, Alckmin recebeu o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), representantes da Federação das Indústrias do Estado e de empresas exportadoras cearenses. O estado é, proporcionalmente, o que mais exporta para os Estados Unidos – 45% de suas vendas externas têm como destino o país norte-americano.
Na reunião com o governador do Ceará, Alckmin ressaltou a fragilidade do estado frente à tarifização. “São 45% das exportações cearenses direcionadas aos Estados Unidos. Açúcar, pescado, camarão, caju, pã e oleaginosas… um conjunto importante da pauta exportadora local”, detalhou.
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Ademais do Ceará, o vice-presidente já se reuniu com governadores de outros estados com notável atuação no comércio exterior, como Espírito Santo e Maranhão. No caso do Rio de Janeiro, além do petróleo, produtos como aço também estão na lista daqueles que podem ser afetados.
Ao longo do dia, Alckmin também se reuniu com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e com representantes de empresas de tecnologia dos Estados Unidos. O encontro contou com a participação de um representante do governo estadunidense por videoconferência, e reuniu executivos de companhias como Google, Meta, Amazon, Apple, Visa e Expedia.
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O encontro com as grandes empresas de tecnologia, que ocorreu pela segunda vez nas últimas semanas, abordou a questão do tarifário. As empresas de tecnologia haviam sido mencionadas por Donald Trump como um dos motivos para a sanção. Segundo Alckmin, as empresas apresentaram uma agenda dividida em quatro pilares: ambiente regulatório, inovação tecnológica, oportunidade econômica e segurança jurídica.
Foi uma reunião positiva. Também participaram outros órgãos de governo, pois esta é uma questão que envolve não só o Poder Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário”, declarou. Propôs-se uma mesa de trabalho permanente para aprofundar os debates.
O governo dos Estados Unidos acompanhou o encontro por videoconferência. Alckmin afirmou que a participação ocorreu a pedido do secretário de Comércio, Howard Lutnick, com quem ele também mantém contato direto.
Conflito entre cooperativas de transporte.
O vice-presidente afirmou que as reuniões com os estados e o setor produtivo fazem parte de uma articulação mais ampla para impedir a entrada em vigor da tarifa, prevista para sexta-feira (1º).
Estamos trabalhando para evitar que isso aconteça. A taxa de 50% não possui justificativa alguma. Dentre os grandes países com os quais os EUA mantêm relações comerciais, o Brasil é um dos poucos com quem mantêm superávit. Ainda assim, de janeiro a junho, nossas exportações para os Estados Unidos cresceram 4,8%, e as deles para nós cresceram quase 12%.
Durante a coletiva, Alckmin ressaltou o caráter prejudicial da medida não apenas para o Brasil, mas também para o mercado americano. “Você vai encarecer produtos, vai levar à inflação, o que é ruim. E também prejudicar nossas rendas”, declarou.
O Brasil reiterou sua busca por convergências e negou que existam justificativas econômicas ou políticas para a aplicação de tarifas. “Nós almejamos uma redução tarifária para todos. Não há razão para se ter uma alíquota de 50% em relação a um país que é um grande comprador”, declarou.
Apesar das manifestações, Alckmin declarou que o plano de contingência do governo federal será apresentado somente se a tarifa for implementada. “Só deve ser debatido o caso dos 50% se essa situação se concretizar. Não vamos desistir. Continuaremos trabalhando constantemente para impedir que isso aconteça”, assegurou.
Haddad afirmou que o presidente Lula não se curvará aos Estados Unidos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou, também nesta terça-feira, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não adotará uma postura submissa diante da escalada protecionista promovida por Donald Trump. “Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro abanando o rabo e falando ‘I love you’”, declarou, em entrevista exclusiva à CNN Brasil.
Haddad defendeu o emprego de meios institucionais e diplomáticos nas negociações e declarou que o Brasil almeja manter a racionalidade no contexto internacional. “Estamos observando isso, inicialmente com alguma surpresa, mas nós buscamos os canais para trazer a racionalidade”, afirmou.
O ministro também declarou que o protocolo diplomático é essencial para assegurar a segurança institucional. “Não ocorrerá com o presidente Lula o que aconteceu com Zelensky, que utilizou um papel na Casa Branca”, afirmou, referindo-se ao presidente da Ucrânia.
Fonte por: Brasil de Fato