Alice Ruiz recebeu aplausos em pé na Flip em uma mesa que homenageou poetisas
“Essa experiência de estar vivo se resume a instantes como este”, declarou a autora em relação ao ocorrido, onde o homenageado é Paulo Leminski, seu par…

A mesa 8 da Flip 2025 não foi uma “mesa de poesia feminina”, como aquelas que, há poucas décadas, separavam as poetas da conversa principal. Foi uma mesa sobre poesia, e de poesia feita por mulheres. A conversa entre Alice Ruiz, Claudia Roquette-Pinto e Marília Garcia, mediada por Fernando Luna, na manhã desta sexta-feira (1º), abordou as convergências e divergências de três gerações de poetas e gerou diversos momentos aplaudidos pela plateia.
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Alice celebrou “uma magia, um espaço desse lotado de pessoas interessadas em poesia de mulheres às 10h da manhã de uma sexta-feira”, ao relatar sua primeira fala. Em seguida, foi perguntada sobre a emoção de estar na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, no ano em que o homenageado é o poeta Paulo Leminski, que foi seu companheiro e com quem teve os filhos, Miguel Ângelo Leminski, Aurea Alice Leminski e Estrela Ruiz Leminski.
“Normalmente para a mulher se pergunta da emoção, mesmo quando é trabalho. Se eu não tivesse colocado a emoção de lado, não teria conseguido trabalhar”, respondeu Alice. Mais à frente na mesa, voltou a questão: “Espero não ter sido indelicada na primeira questão. É porque isso é o inferno da minha geração”. Mas, de fato, Alice disse, é uma felicidade grande ver o reconhecimento da obra de Leminski, pelo qual ela e as filhas tanto trabalharam “Essa coisa de estar vivo é por momentos como esse”
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Alice, Claudia e Maria contaram como se conheceram através da poesia uma da outra. “Nunca vi um grupo de mulheres com tantas poetisas. Isso se deve a essas pioneiras”, afirmou a Claudia, referindo-se à geração de Alice. “Os homens, para me desculpar, mas em termos de quantidade e qualidade, já estamos à frente”, completou Alice em seguida.
Um dos temas de convergência foi o erotismo, presente sobretudo nas obras de Claudia e Alice. A veterana mencionou que uma de suas grandes influências foi Clarice Lispector (1920-1977), mas também citou Gilca Machado (1893-1980), e disse que a presença do erotismo nas obras da poeta a impressionaram. Na época, ela atraiu críticas de homens do cenário cultural e literário. “Mulher escrever sobre erotismo, para mim, é político”, afirmou Alice.
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Marília afirmou que acredita que a poesia se constrói em conjunto, a partir de quem está produzindo naquele período, mas que agora vê uma pluralidade muito maior de vozes, diferente da época da Claudia. Em seguida, a colega recordou que “ouviu atrocidades” nos anos 1990, quando começou a publicar. “Mostrei um poema e um colega e ele me disse: ‘Você escreve igual a um homem’”, relembrou. Foi nesse momento que ela se lembrou de como eram comuns as “mesas de poesia feminina”. “É muito diferente disso aqui, agora”, declarou.
A mesa ainda exibia as marcas da leitura de poemas, todos muito bem recebidos pelo público, que compareceu em grande número ao Auditório da Matriz. “Eu tinha quase um compromisso em não abordar o tema do sofrimento. Mas, se eu o fizesse, queria propor uma solução”, declarou Alice, antes de ler um trecho de “Milágrafos”, que compôs com Itamar Assumpção. Ao finalizar o último verso, “a cada lágrima que surge, um milagre acontece” foi aclamada de pé pela plateia.
Fonte por: Jovem Pan