Alterar a cor dos olhos como Maya Massafera é sonho estético ou perigo para a visão?

A busca pela aparência ideal tem levado muitas pessoas a optarem por procedimentos estéticos cada vez mais arriscados. Um dos mais controversos é a cirurgia para alterar permanentemente a cor dos olhos. Diferentemente das lentes de contato coloridas – que são externas e reversíveis – esses procedimentos envolvem alterações internas e irreversíveis. Contudo, será que vale a pena assumir esse risco?

Atualmente, estão sendo implementadas três técnicas principais em algumas regiões do mundo:

Consiste na implantação de um implante de silicone com a cor selecionada pelo paciente, colocado sobre a íris natural. A técnica foi inicialmente desenvolvida para corrigir deformidades congênitas ou lesões traumáticas da íris — mas passou a ser utilizada com finalidade estética.

A técnica é considerada a mais perigosa. Está associada a alto risco de perda das células da córnea, glaucoma (aumento da pressão ocular), inflamações severas e até cegueira irreversível.

Com esta técnica, um laser é utilizado para “queimar” o pigmento marrom da íris, expondo um tom azul ou acinzentado que estaria por baixo da camada superficial. Apesar de ser apresentada como minimamente invasiva, os riscos são consideráveis.

Risco: Pode levar a glaucoma, inflamações crônicas e danos irreversíveis ao tecido ocular, uma vez que o pigmento liberado pode obstruir os canais naturais responsáveis pela drenagem do fluido intraocular.

Recentemente, tem-se investigado uma técnica que envolve a aplicação de tintas específicas diretamente na córnea, a camada mais externa do olho. A aplicação é realizada por meio de um túnel ou bolsa criado com laser de femtosegundo, onde o pigmento é introduzido. Essa técnica já é utilizada há anos com finalidades terapêuticas, principalmente para recuperar a aparência de olhos que perderam completamente a visão.

A situação atual: Em alguns países — principalmente na Europa — a ceratopigmentação assistida por laser de femtosegundo começou a ser utilizada com finalidade estética. Contudo, ainda não há estudos de longo prazo sobre sua segurança em olhos saudáveis. Os riscos incluem rejeição do pigmento, inflamações, migração da tinta para áreas nobres da visão e complicações imprevisíveis com o tempo.

Nenhuma dessas técnicas é permitida no Brasil por órgãos como o Conselho Federal de Medicina ou o Conselho Brasileiro de Oftalmologia. As duas primeiras – implante de íris artificial e despigmentação a laser – já foram associadas a casos graves de perda definitiva da visão.

A ceratopigmentação, embora pareça promissora, só é recomendada atualmente para olhos cegos que ficaram brancos e sem cor, sem qualquer função visual.

A avaliação dos especialistas é direta: ainda não se justifica o risco. Os olhos são estruturas extremamente delicadas, e qualquer alteração pode comprometer de forma irreversível a visão. A recomendação dos oftalmologistas é clara: nenhuma das técnicas atuais deve ser utilizada com finalidade estética em olhos saudáveis.

Atualmente, a estética assume importância relevante – e, por vezes, excede os limites da razão. Alterar artificialmente a cor dos olhos, que não afeta diretamente a saúde, não justifica os riscos à visão. Essa é uma questão ética relevante: até que ponto devemos seguir um desejo estético? Quando a vaidade coloca em risco a visão, é responsabilidade dos profissionais de saúde orientar, informar e proteger.

A alteração da cor dos olhos por cirurgia ainda não é segura. Quem se submete a esses procedimentos pode estar colocando sua visão em risco real e irreversível. A recomendação dos oftalmologistas é clara: nenhuma das técnicas atuais deve ser utilizada com finalidade estética em olhos saudáveis.

A ciência ainda não oferece uma solução comprovadamente segura, a forma mais confiável de alterar temporariamente a aparência dos olhos permanece o uso de lentes de contato coloridas, desde que com qualidade adequada e orientação profissional. Trata-se do caminho mais seguro, reversível e consciente para quem busca uma transformação estética sem comprometer a saúde ocular.

Por Dr. Fábio Medina Rocha – CRM MG 42220 Oftalmologista

Fonte por: Jovem Pan