Analise os efeitos potenciais das tarifas Trump no cinema global
O presidente dos Estados Unidos anunciou a imposição de uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora do país.

A indústria do entretenimento manifestou preocupação e incerteza nesta segunda-feira (5), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a aplicação de uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora do país, sem detalhar o funcionamento da taxa.
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O anúncio de Trump foi a mais recente de uma série de medidas fiscais e ameaças direcionadas a diversas indústrias globais, em um esforço para estimular a atividade industrial nos Estados Unidos.
Suas políticas comerciais – uma combinação de tarifas, revervões e investigações – que podem resultar em mais impostos de importação, minaram a confiança dos consumidores e das empresas devido à sua implementação confusa, deixando muitas empresas em situação incerta.
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A imposição de tarifas sobre filmes apresenta desafios maiores do que a indústria automobilística norte-americana, que é altamente integrada.
Trump não declarou se as tarifas se aplicariam a filmes em plataformas de streaming, assim como a lançamentos nos cinemas, e também não especificou se as taxas seriam calculadas com base nos custos de produção ou na receita de bilheteria.
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Não ficou claro se produções divididas entre os Estados Unidos e outros países — como os filmes de James Bond ou “Missão: Impossível” — seriam atingidas por uma série gradual de taxas ou seriam total ou parcialmente isentas.
“Há muita incerteza e esta última medida levanta mais perguntas do que respostas”, declarou Paolo Pescatore, analista da PP Foresight. “Não parece algo que vá acontecer no curto prazo, pois todos estão lutando para entender todo o processo. Inevitavelmente, os custos serão repassados aos consumidores.”
Em janeiro, Trump nomeou os atores Jon Voight, Sylvester Stallone e Mel Gibson, ambos veteranos de Hollywood, para impulsionar a indústria, buscando que ela se tornasse “a maior, melhor e mais forte do que nunca”. No domingo, ele expressou o desejo de que mais filmes fossem produzidos nos Estados Unidos.
A incerteza levou a ações de empresas de mídia a registrarem queda em diversos setores nesta segunda-feira, devido ao temor de que essa movimentação elevasse significativamente os custos dos estúdios de Hollywood, afetando a indústria global de entretenimento.
O aumento das tarifas pode afetar significativamente a Netflix, principal empresa de streaming que depende da produção global para gerar conteúdo para o público internacional. Suas ações caíram cerca de 2% no fechamento da tarde.
Disney, Warner Bros Discovery e Comcast (proprietária da Universal) cederam entre 0,7% e 1,7%. Já as ações de operadoras de cinema, como Cinemark e IMAX, caíram 5,5% e 5,3%, respectivamente. A IMAX não quis comentar, enquanto outras empresas não responderam aos pedidos de comentários.
forma clara
Aumento do risco de tarifas retaliatórias.
A Hollywood tem buscado incentivos fiscais para estimular a produção em Los Angeles, local histórico da indústria cinematográfica e centro de luxo do cinema. Ao longo dos anos, as produtoras transferiram a produção para países como Reino Unido, Canadá e Austrália, em razão de créditos fiscais vantajosos e menores custos de mão de obra.
A grande parte dos filmes indicados ao Oscar de melhor filme deste ano foi produzida fora dos Estados Unidos. Uma pesquisa entre executivos de estúdios, conduzida pela ProdPro, revelou que as cinco principais preferências de locais de produção para 2025 e 2026 também se encontram em outros lugares.
Entretanto, as tarifas imporiam maior pressão a um setor que já se recuperava do desmembramento das assinaturas de TV a cabo e do aumento dos custos com mão de obra, após as greves em Hollywood em 2023 assegurarem salários mais elevados e benefícios mais abrangentes para roteiristas e atores.
Não ficou evidente se as medidas tarifárias alcançariam o objetivo de estimular a produção cinematográfica nos EUA.
O aumento dos custos de produção cinematográfica pode resultar na diminuição da quantidade de conteúdo produzido pelos estúdios. Existe também o risco de tarifas de retaliação contra conteúdo americano no exterior, afirmou Barton Crockett, analista da Rosenblatt Securities.
Hollywood agora está sob a mira da China, que prometeu, no mês passado, restringir as importações de filmes dos EUA em retaliação às tarifas mais amplas. Contudo, analistas afirmam que o impacto pode ser limitado, visto que as bilheterias chinesas têm apresentado declínio.
Ainda, o ex-alto funcionário do Comércio William Reinsch, membro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, afirmou que a retaliação contra as tarifas cinematográficas de Trump seria desastrosa.
A retaliação extinguirá o nosso setor. Temos muito mais a perder do que a ganhar, afirmou ele, ressaltando que seria difícil defender o cinema como um caso de segurança nacional ou emergência nacional.
Analistas apontaram que a fiscalização seria complexa, uma vez que grandes grupos de mídia poderiam reorganizar suas operações para evitar as taxas, produzindo conteúdo por meio de subsidiárias no exterior ou licenciando conteúdo para fora do país.
A postura de Trump provocou preocupação em toda a indústria cinematográfica global.
Figuras de destaque na Austrália e na Nova Zelândia, que serviram como cenários para filmes da Marvel e da saga “O Senhor dos Anéis”, manifestaram seu apoio às indústrias cinematográficas locais.
A união sindical britânica Bectu solicitou ao governo que assegure a proteção do setor cinematográfico, considerado “vital”, alertando que inúmeras milhares de posições temporárias estão em risco.
Matthew Stillman, presidente-executivo da Stillking Films, com sede em Praga, uma das maiores produtoras de conteúdo internacional financiado pelos EUA na Europa Central e Oriental, afirmou que a ameaça tarifária corre o risco de comprometer os canais de produção globais.
A criação de instabilidade nos negócios e no mercado também terá impacto em qualquer estratégia de investimento de médio prazo, pois as pessoas ficam incertas sobre como será a situação em 3 a 5 anos.
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Fonte: CNN Brasil