Análise: Putin recentemente demonstrou a Trump o quanto ele é pouco relevante

Líderes dialogaram por telefone na segunda-feira (19).

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(Imagem de reprodução da internet).

As origens subjacentes do conflito.

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Foram palavras surpreendentes de um homem que dizia buscar a paz.

Este é o cerne da posição do presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre o que deve ser resolvido para a paz, após duas semanas ou três meses, dependendo de como se conta, de crescente pressão por um cessar-fogo imediato e incondicional de 30 dias. Despreocupado, atendendo a este chamado tão importante em uma escola de música na costa de Sochi, o chefe do Kremlin voltou ao ponto de partida – à sua falsa narrativa de que esta guerra por escolha foi desencadeada pela expansão rápida demais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

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Mais cinco termos distintos emergiram algumas horas antes, podendo ter ressoado na atenção de Putin durante sua conversa de duas horas com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Isto não é a nossa guerra”, declarou o vice-presidente J.D. Vance anteriormente. Retomando seu papel de divulgador de notícias desfavoráveis à segurança europeia, Vance reiterou esta notável não-ameaça: a de que os Estados Unidos poderiam se retirar do conflito – tanto da diplomacia quanto da assistência à Ucrânia – a menos que a Rússia adotasse medidas em direção a um acordo de paz que ela veementemente rejeita. O afastamento de Washington é exatamente o que a Rússia almeja, e para alcançar esse resultado desejado, parece que Putin não precisa fazer absolutamente nada, senão continuar travando uma guerra brutal.

Após momentos da ligação, Trump já soava como um homem se afastando da briga. Cinco dias antes, ele fora o intermediário febril, o pacificador disposto a superar a inimizade entre Putin e o ucraniano Volodymyr Zelensky para um encontro na Turquia. Contudo, após sua ligação desta segunda-feira com Putin, ele simplesmente afirmou que Ucrânia e Rússia deveriam conversar diretamente, “como só elas sabem”. Ele até mesmo delegou a tarefa à casa do novo papa americano, o Vaticano, como um possível local. Os Estados Unidos podem não estar totalmente fora do processo, mas falam como se quisessem que outra pessoa os liderasse.

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Nos últimos 10 dias, ficou evidente o quanto Putin não necessita do Presidente ou de sua aprovação. E a lógica é simples.

Por três anos de guerra, a mídia estatal russa instruiu seu público de que não estão em conflito apenas com a Ucrânia, mas também com toda a OTAN, incluindo os Estados Unidos. A presidência de Trump estabeleceu uma breve oportunidade para o Kremlin alcançar uma posição mais favorável ou até mesmo amenizar o impacto de algumas sanções ocidentais.

Isto não altera o cálculo ou a mensagem central do Kremlin: trata-se de uma guerra existencial, sobre o restabelecimento de sua primazia em seu entorno próximo. Tanto sofrimento e perdas foram infligidos ao povo russo por meio de elevadas baixas de guerra, de modo que a obtenção de resultados médios ou negativos pode limitar significativamente a duração do governo russo. Esta não é uma guerra em que eles possam ser vistos como derrotados.

Os limites do que os Estados Unidos podem oferecer à Rússia no momento, em termos de influência, são evidentes. Sim, os EUA poderiam até mesmo intensificar as sanções, como Trump ponderou na semana passada, adicionando “sanções secundárias” contra os financiadores da Rússia, os compradores de petróleo da Índia e da China. Contudo, isso provocaria outra ruptura comercial com as potências mundiais, que Washington acabou de resolver. Os EUA poderiam, alternativamente, aliviar as sanções para persuadir a Rússia a fazer concessões. Mas essa estratégia irritaria seus aliados europeus e provavelmente fracassaria sem o apoio prático da Europa.

Qualquer nova ação que provocasse sofrimento em Moscou implicaria que Trump havia punido a Rússia de forma mais severa do que Joe Biden. Isso não é o plano geopolítico do MAGA. Aprofundaria o envolvimento dos Estados Unidos em uma guerra, onde, de fato, não há um desfecho aparente, até que um dos lados recue ou ocorra uma mudança drástica na liderança política.

A Ucrânia em 2025 apresenta-se como uma perspectiva preocupante. O princípio fundamental da política europeia era a melhor alternativa em um cenário de opções desfavoráveis: Moscou só poderia ser compelida a diminuir suas ambições se visse a OTAN inabalavelmente unida à sua frente. Sua economia, recursos, mão de obra ou equipamentos poderiam enfrentar dificuldades — bastaria uma para que a máquina de guerra apresentasse falhas. É sombria, mas a Europa dispõe de poucas alternativas. A Ucrânia não tem escolha alguma.

Trump sentiu que tinha uma opção. Sua experiência nos negócios não enxerga mérito em um investimento de longo prazo em um conflito com um adversário com quem se prefere colaborar, cujo melhor resultado é devolver à Europa a tranquilidade que ela conhecia anteriormente. Não há acordo a ser alcançado aqui. Putin não está adquirindo nada; ele busca conquistar e dominar. Trump não possui nada a oferecer, senão o apoio dos Estados Unidos aos seus aliados consolidados. Não é possível que Putin e Trump mantenham sua posição.

A liderança americana foi estabelecida há décadas em torno de mais do que apenas acordos bons e pequenos. Sua benevolência com os aliados, seu poderio econômico considerável e sua hegemonia militar a transformaram na maior economia do planeta, com uma moeda de grande valor e influência.

Trump vê o papel dos Estados Unidos como secundário. Pode ser o momento em que Trump finalmente compreendeu Putin como alguém que não busca sua aprovação ou lealdade, e recuou. Se for esse o caso, os Estados Unidos também recuaram de décadas de poder, admitiram os limites de seu foco e poder e deixaram o acordo de paz mais importante desde a década de 1940 para uma tentativa desesperada no Vaticano.

Fonte: CNN Brasil

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