Análise: Visita de Trump ao Oriente Médio é chance para o mundo árabe
O presidente americano fará uma visita ao Reino da Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, em sua primeira viagem oficial após a posse.

Três países do Golfo árabe, com suas vastas reservas de energia, buscam utilizar a influência sobre Donald Trump para obter benefícios concretos, em vista da visita do presidente agendada para esta semana.
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Eles estabeleceram relações pessoais com o presidente e, em conjunto, asseguraram investimentos aos norte-americanos, atuando como intermediários-chave nos conflitos entre Gaza, Ucrânia e Irã.
Atualmente, os países receberão a primeira visita de estado de Trump em seu segundo mandato.
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O líder republicano embarcará na Arábia Saudita nesta terça-feira (13), seguido por visitas ao Catar e, em seguida, aos Emirados Árabes Unidos, que se estendem até sexta-feira (16).
Considerando a postura transacional de Trump na política externa, os três países têm muito a oferecer.
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“Na perspectiva de Trump, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein preenchem todos os requisitos”, afirmou Hasan Alhasan, pesquisador sênior de política para o Oriente Médio no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos do Bahrein, à CNN.
Eles prometem investir trilhões na economia americana e gastar quantias enormes em sistemas de armas americanos.
A estratégia meticulosamente planejada para envolver Trump visa consolidar e formalizar as posições dos Estados do Golfo como parceiros essenciais de segurança e economia dos Estados Unidos, buscando obter os maiores benefícios factíveis.
Árabes avaliam Trump como oportunidade
As relações entre os Estados Unidos e o Golfo melhoraram consideravelmente com o retorno do republicano ao poder.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos buscam ampliar relações militares, tecnológicas e econômicas, em resposta à percepção de falta de atenção às suas demandas durante o governo Biden.
Com Trump no cargo, consideram uma oportunidade singular para atingir os objetivos de seu país.
Sob a ótica deles, o momento atual é consolidar os vínculos com Washington e até mesmo assegurar maiores vantagens em seu relacionamento com a maior potência mundial, afirmou Ebtesam AlKetbi, fundador e presidente do think tank Emirates Policy Center, em Abu Dhabi.
Cada um dos três países que Trump está visitando possui sua própria lista de prioridades.
Compreenda os desejos das nações e suas ações para atingi-los.
Acordo de segurança entre Estados Unidos e Arábia Saudita
A segurança, segurança e segurança era o que sauditas e outros países do Golfo mais buscavam com a visita de Trump, avaliou Ali Shihabi, autor e comentarista sobre política e economia da Arábia Saudita.
Os países do Golfo desejam assegurar o compromisso dos Estados Unidos com a segurança e a estabilidade da região.
Trump é conhecido por perder o interesse rapidamente e há quem deseje mantê-lo envolvido.
Nos últimos meses, os Estados Unidos e a Arábia Saudita quase concluíram um acordo histórico de defesa e comércio, porém o acordo foi interrompido devido à persistência saudita de que Israel se comprometeria com um caminho em direção à criação de um Estado palestino.
Firas Maksad, diretor-gerente para Oriente Médio e Norte da África da Eurasia Group, relatou a Becky Anderson, da CNN, que Trump provavelmente prosseguirá com grandes acordos, independentemente da normalização, que, segundo ele, está “morta”.
Riad também busca a cooperação americana para desenvolver um programa nuclear civil, mas isso tem sido adiado devido à sua insistência em enriquecer urânio internamente, levantando preocupações nos EUA e em Israel sobre a proliferação de armas nucleares.
O urânio, quando enriquecido em altos níveis, pode ser utilizado para fabricar armas nucleares.
O apoio da Casa Branca ao programa nuclear saudita pode resultar em ganhos financeiros para empresas americanas.
Os sauditas parecem ver seu relacionamento com Washington como uma situação mutuamente benéfica.
Em março, Trump anunciou que visitaria a Arábia Saudita se o país investisse US$ 1 trilhão nos Estados Unidos. “Eles concordaram em fazer isso, então eu irei lá”, disse ele.
Apesar da ausência de confirmação oficial do país árabe, foram anunciados, em janeiro, planos de expansão do comércio e dos investimentos com os EUA em US$ 600 bilhões ao longo de quatro anos, com possibilidade de aumento.
Riad necessita vender, com lucro significativo, para financiar a diversificação de seus negócios além do petróleo.
As recentes quedas nos preços, em parte motivadas pelas tarifas de Trump, colocam em risco essas ambições.
O líder americano expressou o desejo por preços mais baixos do petróleo, o que contrasta com a demanda saudita por receitas elevadas para financiar sua própria transição econômica.
Os Emirados Árabes Unidos em sua busca pelo domínio da Inteligência Artificial.
Os Emirados Árabes Unidos, possivelmente mais do que outros estados do Golfo, avaliam o investimento como fundamental para fortalecer os laços com os Estados Unidos e assegurar resultados financeiros para sustentar essa iniciativa.
Entre os países mais ricos per capita do mundo, o país anunciou investimentos significativos dos Estados Unidos.
Abu Dhabi chegou a se autodenominar “a capital do capital”.
Expandir o comércio e o investimento é uma forma de reforçar essa parceria estratégica, informou AlKetbi. Os EUA continuam sendo um garante essencial da segurança para a região do Golfo, ao mesmo tempo em que oferecem uma economia dinâmica, repleta de oportunidades e capacidades que se alinham com os planos de desenvolvimento de longo prazo da região.
Em março, os Emirados Árabes Unidos divulgaram um plano de investimento de 1,4 trilhão de dólares, durante um período de 10 anos, com ênfase em Inteligência Artificial, semicondutores, fabricação e energia.
Os investimentos nos EUA já somam US$ 1 trilhão, de acordo com a embaixada do país em Washington.
Os Emirados Árabes Unidos identificam uma oportunidade singular de se destacar como um agente relevante em inteligência artificial e tecnologias avançadas, conforme declarado por Anwar Gargash, conselheiro diplomático do presidente dos Emirados Árabes Unidos, à CNN.
O investimento de US$ 1,4 trilhão visa diversificar a economia dos Emirados Árabes Unidos, reduzindo a dependência de hidrocarbonetos e assegurando a prosperidade do país no futuro.
Não será fácil para Abu Dhabi alcançar a meta declarada de se tornar líder global em IA até 2031 sem microchips americanos avançados.
Nos últimos dias do governo do ex-presidente Joe Biden, os EUA intensificaram as restrições à exportação de IA para evitar que a tecnologia avançada caísse em mãos de adversários estrangeiros, como a China, com medidas que deveriam ser implementadas em 15 de maio.
Os Emirados Árabes Unidos têm sido um dos países que enfrentam restrições e podem esperar que elas sejam suspensas durante a viagem de Trump.
Os Estados Unidos anunciaram na quinta-feira (8) que Trump irá revogar uma série de restrições da era Biden.
O Catar desempenha um papel de diplomacia global, buscando construir pontes entre diferentes nações e resolver conflitos internacionais.
O Catar é o país do Golfo Arabe com os acordos de segurança mais desenvolvidos com os Estados Unidos.
É a maior base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, considerada “essencial” pelo Departamento de Estado para as operações militares americanas na região.
Nos últimos anos, os Estados Unidos e o Catar formalizaram um acordo que prolonga a presença militar americana na base do Catar por dez anos.
Também modificaram um acordo de cooperação em defesa de 1992 com os Estados Unidos, buscando reforçar ainda mais sua parceria em segurança.
Em 2022, o governo Biden também designou o Catar como um “Aliado Importante Não-OTAN”, título concedido a parceiros próximos que mantêm relações de trabalho estratégicas com as Forças Armadas dos EUA.
O Catar tem atuado como mediador crucial em conflitos, incluindo os da Faixa de Gaza e do Afeganistão. Analistas apontam que essa atuação visa manter a relevância perante Washington.
Os países do Golfo consideram a mediação de conflitos como uma fonte de influência e prestígio, afirmou Alhasan à CNN. “Eles conseguiram utilizar seu papel de mediadores para se posicionarem como parceiros indispensáveis para a agenda política de Trump.”
Doha mantém laços estreitos com o novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, que busca aliviar seu país das sanções impostas pelo Ocidente há anos.
A Síria deverá ser uma questão central que o Catar abordará com Trump durante a visita, informou uma fonte da CNN na quinta-feira (8).
O Catar está pressionando o governo republicano a suspender as sanções à Síria sob a Lei Caesar, afirmou a autoridade, ressaltando que o Catar é cauteloso ao fornecer qualquer apoio financeiro aos sírios sem a aprovação de Washington.
Analisando a visita de Trump, especialistas avaliaram que seu objetivo final é identificar o que ele pode obter dos três países do Golfo, sendo que cada um deles espera um conjunto de novos acordos que beneficiem ambas as partes.
Ele está vindo para cá porque acredita que é do interesse da economia americana, talvez do seu interesse e daqueles ao seu redor, ter esses acordos aqui com a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar. esperem grandes anúncios.
Fonte: CNN Brasil