Após um ano das inundações, aproximadamente 380 indivíduos permanecem em locais de abrigo no Rio Grande do Sul
30/04/2025 às 17h58

Almerinda Veiga da Silva, de 57 anos, está no quinto abrigo desde que precisou sair de casa, há um ano, quando o bairro Rio Branco, em Canoas, foi atingido pelas águas na maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul.
Ela precisou se afastar do marido, que ingressou em um abrigo para homens, e acompanhou a filha, com Síndrome de Down, para um local destinado a mães diferentes. Nesse momento, todos foram salvos e receberam proteção. Com o tempo, o que seria uma história de reinício se transformou na maior dor emocional de sua vida.
Há um mês que solicitei auxílio para minha filha, devido ao trauma da enchente. Causou danos, digamos, emocionais. Ela era portadora da síndrome de Down. Perdi também o marido por conta da enchente. Ele ficou muito traumatizado, entrou em depressão e acabou falecendo no Natal. Então, não está sendo fácil, lamentou, em entrevista à Agência Brasil, durante visita da reportagem ao Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Esperança, que fica no Centro Olímpico, em Canoas.
É o único abrigo em funcionamento na cidade, com 216 pessoas, de acordo com a prefeitura, mas deverá ser fechado até o final de maio. O local foi instalado em julho do ano passado, em uma parceria entre o governo do estado, a Fecomércio-RS e a Agência da Nações Unidas para as Migrações (OIM), principal organismo intergovernamental no campo da migração.
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A unidade oferece, além de alimentação e assistência em saúde, serviços de assistência social, apoio na busca por emprego, suporte para inscrição em programas de habitação, creche e um abrigo para animais domésticos de tutores que frequentam o centro.
Outro abrigo, resultado da mesma parceria, está situado em Porto Alegre. O local acolhe aproximadamente 120 indivíduos e também se encontra em fase de desmobilização nas próximas semanas.
Dois abrigos, dos nove ainda em funcionamento, representam os maiores e concentram 93% das pessoas atendidas no estado. Em meio à crise climática, mais de 80 mil pessoas chegaram a ser abrigadas. Atualmente, são 383 pessoas assistidas no Rio Grande do Sul.
Em risco.
Não existe um levantamento socioeconômico sobre o perfil desses abrigados, mas é fácil constatar que são pessoas em situação de grande vulnerabilidade social.
Desde meados do ano passado no CHA Esperança, Claudio Joel Bello, de 43 anos e desempregado, relata ter sido afetado pelas inundações no bairro Mathias Velho, que permaneceu completamente alagado por mais de um mês.
Ele foi escolhido pelo programa Compra Assistida para receber uma casa em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, e lamenta a demora para concluir o processo.
Por que eu não vou morar na casa que o governo me deu, considerando que estou quase um ano em abrigos?
O programa do governo federal oferece apoio de R$ 200 mil para a aquisição de imóveis já existentes em qualquer cidade do estado para os beneficiários. Até o momento, aproximadamente 1.500 contratos foram formalizados.
Bello é o único no abrigo que recebeu a Compra Assistida. Os demais se encontram em duas situações: concessão de aluguel social por 12 meses, no valor de R$ 1 mil, e moradia provisória mobiliada instalada no bairro Estância Velha.
Almerinda relatou à reportagem que visitou o bairro precário, mas considerou o local inseguro e preferiu alugar uma moradia social. Contudo, ela não possui móveis para ocupar o imóvel alugado.
A casa está alugada, foi assinado o contrato, o adiantamento foi pago, mas a mobília… Eu vou morar na casa sem nada?
Em um abrigo, uma pessoa da ONU Migrações, em parceria com empresas privadas, busca facilitar doações de eletrodomésticos, porém a procura não tem sido suficiente: “minha saída do abrigo só acontecerá quando eu tiver meus móveis”.
Josébete da Silva, com 47 anos, está à ponto de sair do abrigo no bairro provisório da Estância Velha. Ele irá residir em um contêiner de concreto de 27 metros quadrados, acompanhado da esposa e duas filhas.
Para mim, que pago aluguel, seria melhor. A esposa escolheu [essa alternativa], conforme relatou. A expectativa dele, que trabalha em um moinho de farinha, é ser contemplado em um programa de habitação para uma moradia definitiva.
Respostas
A prefeitura de Canoas comunicou que um acordo com o governo do estado viabiliza a construção de 58 residências temporárias. As obras devem ser concluídas até o dia 15 de maio, data em que as famílias poderão se mudar.
O custo da instalação dos módulos é de R$ 133 mil por unidade, incluindo móveis e eletrodomésticos. Há 58 módulos transportáveis localizados no bairro Estância Velha. O governo municipal possui o programa Aluguel Social, que atende atualmente 1.249 famílias, com 77 contratos de benefícios do CHA.
Em relação às moradias definitivas, a administração municipal informa que existem dois empreendimentos com obras iniciadas nos bairros Niterói e Fátima, que totalizarão 400 unidades habitacionais, financiadas pela Caixa Econômica Federal. A previsão de conclusão das obras é de até 18 meses.
De acordo com a prefeitura, das três mil unidades habitacionais autorizadas pelo Ministério das Cidades para Canoas, já foram assinados dois contratos totalizando mais de 1,5 mil unidades destinadas exclusivamente a famílias afetadas pelas enchentes, com previsão de entrega em 18 meses. A prefeitura busca autorização para mais 3 mil novas unidades.
A prefeitura informou que outro programa, em colaboração com o governo federal, visa a reconstrução de até 210 residências, com custo unitário de R$ 150 mil, totalizando R$ 31 milhões, provenientes do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.
Após a enchente, foram solicitadas 18.633 vistorias. Destes, 11.862 foram avaliados como habitáveis, enquanto 5.502 imóveis foram classificados como inviáveis e passarão por interdição. Permanecem pendentes no município outras 1.269 solicitações de vistoria.
Fonte: Metrópoles