Armazém do Campo, em Porto Alegre, inaugura nova etapa com refeições diárias que combinam sabor e engajamento político

Reabriu no SindBancários, no centro da capital gaúcha, o espaço reforça o vínculo entre o setor privado e a urbe.

04/08/2025 11h41

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(Imagem de reprodução da internet).

A alimentação é um ato político. Essa ideia, presente nas paredes do Armazém do Campo em Porto Alegre (RS), vai além do discurso: é colocada em prática no prato. O Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz as novidades do espaço, que, após mais de um ano fechado na capital gaúcha, está de portas abertas desde maio na sede do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (Sindbancários).

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Além de comercializar produtos da reforma agrária, a loja do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou a oferta de almoços diários preparados com alimentos provenientes de assentamentos e cooperativas da região.

O acordo político foi o que levou o assessor político Charles Scholl ao local. Contudo, no final, foi o sabor da comida que agradou seu paladar. “Nesse sentido, o político me motivou a vir cá, mas só que isso ficou em segundo plano depois da qualidade da comida que se experimenta aqui, porque é uma comida deliciosa. E se pode comer com tranquilidade, não vai ficar ruim para a saúde, a gente sabe o que está comendo”, comenta.

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Scholl destaca o “lastro de referência” em relação ao MST, aos movimentos sociais e àqueles ligados à agricultura, com foco na alimentação. “Porque o agronegócio nem sempre é focado na alimentação. Precisamos, hoje, justamente fomentar a agricultura familiar, fomentar as iniciativas do MST para qualificar a nossa alimentação na cidade, que é bastante deficiente, na minha opinião”.

A qualidade dos alimentos também chama a atenção de Natiele Santos, que trabalha na Cozinha Solidária da Vila Jardim, na periferia de Porto Alegre. “Olha, eu acho muito bom, né? São produtos de qualidade, e é um alimento que não tem veneno, sem agrotóxico, de qualidade mesmo. Trabalho com cozinha, sei muito bem como é”, destaca.

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Parceria com o Sindicato Bancário.

Um ponto importante é o apoio do Armazém do Campo pelo SindBancários. A colaboração fortalece uma questão essencial para a segurança alimentar e a produção de alimentos saudáveis, conforme avalia o ativista do MST, Tomaz Brunette.

A batalha travada no campo, a relevância da centralidade da terra, das pessoas possuírem moradia no campo, terem condições para produzir e produzirem alimentos saudáveis, a partir da agroecologia, é muito importante, complementa ele.

Para Brunette, é importante ter um espaço como o Armazém do Campo no centro de Porto Alegre. “Um espaço que consiga disputar o sentido do que é a comida também no centro da cidade”, salienta.

Espaço resistência une cultura e alimentação saudável.

A professora Andreia Meinerz expressa um sentimento de afeição por aquele local. Isso devido à presença do Cinebancários, cinema ao ar livre do sindicato, que há 17 anos oferece programação diária focada em produções nacionais.

“Foi um casamento perfeito! Uniu o útil ao agradável, porque aqui já é um espaço de resistência, também é um ponto de cultura”, afirma. “E aqui a gente encontra vários camaradas, várias pessoas da luta, e se alimenta de uma comida boa, uma comida bem feita, gostosa, caseira, mas principalmente oriunda da agricultura familiar, agroecológica”, completa.

Um empreendimento colaborativo.

A retomada do Armazém do Campo, em Porto Alegre, é liderada pela família do Assentamento Integração Gaúcha, composta pela cozinheira Arlete da Silva Dorneles e pelo agricultor Adelar Cibulski, popularmente conhecido como Sabiã.

Acompanhamos a trajetória das demais lojas do MST no centro: a da Reforma Agrária, no Mercado Público, e o Armazém do Campo, ali na José do Patrocínio, na Cidade Baixa. Como não havia nenhuma referência sobre os produtos da reforma agrária aqui no centro, fomos procurados pela direção do movimento, o pessoal da Cooperativa Terra Livre, para verificarmos se tínhamos disponibilidade de assumir e instalar o armazém junto ao Sindicato dos Bancários.

Arlete Dorneles relata que se sente realizada ao cozinhar utilizando produtos da reforma agrária. “Está sendo uma experiência muito boa para nós. Muito boa mesmo! Trabalhamos com arroz dos produtores, leite dos produtores, creme de leite, enfim, tudo que é produtos da reforma agrária nós estamos trabalhando.”

Ela afirma estar ainda mais satisfeita com o feedback positivo dos clientes. “Estamos muito bem, sabemos que todos estão elogiando bastante. As pessoas, todos vêm aqui, aplaudem nosso trabalho, dizem que a comida está maravilhosa. Coisas incríveis que eles não conheciam e nós estamos implementando agora”, comemora.

Arroz agroecológico e criatividade

Além da comida caseira, no Armazém do Campo é possível encontrar o arroz agroecológico do MST, além da sua criatividade, conforme conta Sabiã.

Sempre procuramos oferecer dois tipos de arroz: o arroz branco e o arroz integral. Atualmente, também temos a opção de risotos, como os de sálvia e açafrão, ou de castanha, ou cogumelo. Assim, busca-se uma experiência inovadora e quem os prova tem gostado.

Alimentação e política.

Os clientes do Armazém do Campo aprovam e deixam lá com a sensação de que estão dando sua contribuição para a transformação do sistema de produção de alimentos.

Acredito que tudo o que está no nosso prato é resultado de decisões políticas: o excesso de agrotóxicos na comida e no solo, a política das grandes corporações e da produção agroindustrial. Assim, o que comemos diz muito sobre nós, o que conseguimos comer e o tipo de alimento que temos acesso.

É muito importante assegurar o acesso de um grupo de pessoas a esses alimentos e promover o debate ideológico, a discussão das ideias sobre como se deve ser a produção e qual alimento devemos ter em nossa mesa, afirma Tomaz Brunette.

O Armazém do Campo, em Porto Alegre, está localizado no SindBancários: rua General Câmara, 424, centro. Opera de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, e aos sábados, das 14h às 20h.

Fonte por: Brasil de Fato

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