Armênia comemora 110 anos da tragédia que ceifou a vida de grande parte de seu povo

24/04/2025 às 12h48

Por: José News
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(Imagem da internet).

Em Yerevan, o aroma e a cor das flores que se espalham por todo o país em 24 de abril contrastam com a solenidade e a importância da data. Caminhando em direção ao Memorial de Tsitsernakaberd, armênios de diversas localidades participam de uma marcha silenciosa e lenta para honrar a memória dos mais de 1,5 milhão de vítimas do genocídio armênio, ocorrido há 110 anos.

Massacres em larga escala, deportações forçadas para desertos da Síria e campos de detenção, estupros, escravidão e sequestros. Essa foi a experiência vivida por armênios étnicos no antigo Império Otomano – atual Turquia – entre 1915 e 1923.

Apesar de sua presença histórica no antigo reino imperial, os armênios eram considerados subordinados do império, representando uma minoridade cristã em um território majoritariamente muçulmano.

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Com o declínio do Império Otomano, os armênios passaram a ser responsabilizados pelo colapso do reino. Em 24 de abril de 1915, aproximadamente 250 líderes armênios foram caçados e assassinados em Constantinopla, antiga capital da Turquia, atualmente Instambul. Esse evento marcou o início de oito anos de massacres em larga escala.

“Isto não é um dia feliz, porque, há muitos anos atrás, em 1915, meus heróis na Armênia estavam lutando”, declarou o estudante Sasuh Tabakyah, de 14 anos, ao Metrópoles.

Ao visitar este local [no memorial], é possível recordar de muitas situações em que eles [soldados no Império Otomano] tentavam combater a guerra. Eu, por outro lado, ainda estou vivo. Infelizmente, eles perderam suas vidas.

Apesar de ter nascido mais de 90 anos após o holocausto armênio, Tabakyah é um dos descendentes da diáspora armênia, resultante da página manchada de sangue na história do país. A perseguição contra a população no Império Otomano obrigou milhares de sobreviventes a se exilar e se estabelecerem nos sete continentes do mundo.

Diversas famílias de armênios foram formadas e residiram em vários países ao redor do mundo, assim como adolescentes nascidos nos Emirados Árabes Unidos e posteriormente retornados para a Armênia, mantendo, no entanto, as tradições e a defesa da identidade armênia, marcada pelo cristianismo e pela capacidade de reconstrução.

Reconhecimento

Na noite anterior, um protesto da Federação Revolucionária Armênia (ARF), iniciado na Praça da República, em Erevan, seguiu para o Memorial de Tsitsernakaberd.

Com tochas, velas, cartazes e gritos de ordem, a manifestação tradicional realizada em 23 de abril visa um maior reconhecimento internacional do ocorrido.

Apesar de documentos e registros que comprovam o massacre sistemático de armênios no antigo Império Otomano, apenas aproximadamente 30 países reconhecem o evento como genocídio. Entre eles, Argentina, Bolívia, Chile, França, Alemanha, Líbano, Rússia, Síria, Venezuela, Estados Unidos e Uruguai.

A Turquia, país herdeiro do Império Otomano, se recusa a admitir o genocídio. Para o governo, as múltiplas mortes de armênios não foram consequência de uma política estatal, mas sim de uma guerra civil em que ambos os lados praticaram atrocidades.

No Brasil, o episódio é reconhecido pelo Senado desde 2015. Os estados do Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná aprovaram projetos que classificaram os assassinatos em massa como genocídio.

Em âmbito federal, o governo brasileiro ainda não o reconheceu. Contudo, anualmente, envia uma coroa de flores ao memorial do genocídio armênio, através da embaixada do Brasil em Yerevan, como forma de homenagear os mais de 1,5 milhão de armênios vítimas do massacre ocorrido há mais de um século.

O jornalista viajou por convite da União Geral Armenia de Beneficência.

Fonte: Metrópoles

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