As dificuldades enfrentadas por mulheres no acesso à anestesia em Brasília
25/04/2025 às 8h59

Apresentando-se como um modelo cooperativo de médicos, o mercado de anestesiologia do Distrito Federal tem demonstrado uma realidade preocupante: além do controle monopolístico exercido por grupos ligados à Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Distrito Federal (Coopanest-DF), há, supostamente, um padrão sistemático de discriminação de gênero. Relatos de médicas anestesiologistas coletados durante investigação conduzida pela Polícia Civil do DF revelam um ambiente hostil, caracterizado por exclusão, assédio velado e falta de oportunidades para mulheres na especialidade.
Conforme relatos, os grandes hospitais privados de Brasília são controlados por grupos fechados de anestesistas, todos membros de uma cooperativa. Esses grupos rejeitam a participação de mulheres e operam como um feudo, impedindo que outros profissionais atuem no hospital sem a aprovação do grupo dominante.
Uma médica informou ter ouvido de colegas homens: “Aqui não é lugar para mulher”. Em outra mensagem, um anestesista justificou a ausência de mulheres nos grupos dominantes com a frase: “As mulheres não aguentam a pressão, o ritmo é outro”.
Essa realidade direciona os anestesistas para serviços de menor porte, como clínicas de pequeno porte, unidades de endoscopia, oftalmologia ou o serviço público. Para muitos, o acesso aos hospitais é restrito, sendo designados como “bagres”, termo utilizado no meio para descrever os anestesistas que atuam em condições desfavoráveis.
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Os “bagres” recebem um valor fixo por plantão, sem considerar o volume ou a complexidade dos processos. A progressão dentro dos grupos exige o pagamento de cotas milionárias, porém, mesmo quando profissionais se dispõem a arcar com esse custo, são desconsideradas por critérios informais que favorecem homens. Relatos indicam que os grupos evitam a inclusão de mulheres e dão preferência a anestesistas que assumam os turnos mais pesados, permitindo que os membros trabalhem menos.
A agressividade se intensificou quando essas médicas romperam com os grupos dominantes. Isso ocorreu quando um hospital encerrou o contrato com uma das clínicas vinculadas à Coopanest-DF. Médicas que aderiram ao novo modelo passaram a ser vítimas de perseguição, recebendo ameaças, mensagens intimidatórias e, em alguns casos, processos para expulsão da cooperativa. Houve também tentativas de prejudicar essas profissionais em outros locais onde atuavam, por meio de denúncias anônimas e informações falsas.
A Operação Toque de Midaz, iniciada em abril, visou os principais envolvidos na cooperativa e nas clínicas que coordenavam o sistema. A ação foi resultado de uma investigação aprofundada da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), com apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra os principais responsáveis pelas práticas abusivas no setor.
Fonte: Metrópoles