Bolsonarismo: o sabor amargo da exploração do sofrimento dos outros
Com a detenção do ex-presidente, a direita radical obstruiu o retorno da Câmara dos Deputados, do Senado e de Comissões.

Bolsonaro foi enfim preso. Nesse sentido, a prisão domiciliar representa um início, certo? A posterior utilização de tornozeleira eletrônica e a proibição do uso das redes sociais, que, aliás, foram a causa da sua queda com a ajuda de seus filhos e do deputado Nikolas Ferreira, não cessaram a reação da extrema direita.
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O Brasil não é para fracos e a semana não poupou emoções. A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na segunda-feira (4). A decisão inclui o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de visitas exceto de familiares próximos e advogados, e recolhimento de todos os celulares do local.
Tudo isso ocorreu porque o ex-presidente permaneceu à distância do protesto de manifestações bolsonaristas realizadas no dia anterior (3) em algumas cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) colocou brevemente o pai no viva-voz para falar com o público e, posteriormente, divulgou um vídeo mostrando Bolsonaro em casa enviando uma mensagem aos apoiadores.
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O deputado federal Nikolas Ferreira repetiu a tática, empregando o ex-presidente para fortalecer as mensagens apresentadas na manifestação. Parece que nem todas as ações dos aliados efetivamente contribuíram para ajudar e Bolsonaro precisou passar a semana em casa.
Em relação aos aliados, a oposição também buscou apoio. Deputados e senadores ligados ao ex-presidente tentaram obstruir as votações nas casas legislativas em favor da anistia a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o fim do foro privilegiado e solicitaram o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Eles classificaram as ações como um “pacote de paz”.
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Deputados e senadores da oposição alternaram a ocupação das presidências da Câmara e do Senado, obstruindo os trabalhos do parlamento. Nas imagens, bocas, olhos e ouvidos cobertos com fita adesiva, correntes nos pulsos, pressão sobre o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB), grande alvoroço e constrangimento.
Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), buscaram solucionar a situação e responder ao bloqueio, porém, para quem observa externamente, a impressão é de ausência de firmeza e incerteza. Paralelamente, o pedido de impeachment de Moraes foi formalizado com o apoio de diversos senadores, mas Alcolumbre declarou que o assunto não será discutido.
A oposição demonstra desespero na tentativa de aprovar o PL de anistia aos investigados pela tentativa de golpe de Estado e pelo fim do foro privilegiado. Tudo isso para evitar a prisão definitiva de Bolsonaro, fora de casa. Contudo, a ação penal no STF está prestes a ser concluída e talvez seja o momento de se dedicar a outras questões.
A crise sanitária desta semana se deu em paralelo com o início oficial da taxação de 50% sobre produtos exportados para os Estados Unidos, determinada pelo governo de Donald Trump, que teve início na quarta-feira (6) com demissões nos setores impactados. O próprio governo brasileiro está elaborando um plano de contingência para auxiliar os setores afetados, utilizando um “critério” para considerar a variação de exportações dentro de um mesmo setor, a fim de tornar o auxílio mais preciso.
É notável que, ao enfrentar os desafios da economia brasileira, uma fração de parlamentares se concentra em proteger um ex-presidente, considerando que sua atuação não contribuiu significativamente para o desenvolvimento do país durante sua trajetória política.
Talvez não seja estranho. De fato, como afirmou o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Paulo Niccoli Ramirez, trata-se apenas de um “sintoma do fundamentalismo político e religioso” no país. “São políticos que não estão preocupados com o Brasil, não colocam o Brasil acima de tudo, mas os Estados Unidos acima de todos, e a ignorância e estupidez como uma regra de suas práticas políticas.”
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Rafaella Coury é coordenadora de redes sociais do Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato