Brasil e Venezuela restabelecem as relações aéreas após oito anos; o primeiro voo ocorrerá na terça-feira (5)

Realizar-se-ão quatro voos semanais entre os países; o voo inaugural contará com a presença de um artista brasileiro.

05/08/2025 12h54

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(Imagem de reprodução da internet).

Brasil e Venezuela realizarão seu primeiro voo direto na terça-feira (5). Isso restabelece a conectividade aérea após 8 anos para atender a uma demanda de aproximadamente 271 mil venezuelanos residentes no território brasileiro, além de impulsionar o turismo e o comércio entre os países.

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Os voos partindo de Caracas para SãO Paulo têm, em média, custo de R$ 4.947,11, ao passo que o trajeto inverso sai por R$ 1.179,70. Anteriormente, os valores eram de, no mínimo, R$ 8.000 com conexões.

Os voos serão operados pela Gol e terão duração de 6 horas entre São Paulo e Caracas. O voo inaugural partirá do Aeroporto de Guarulhos às 17h05 nesta terça-feira com chegada prevista para 22h10 (horário de Caracas). Haverá 4 voos semanais entre os países em um movimento que restabelece a integração. Serão realizados às terças, quintas, sábados e domingos.

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A diplomacia brasileira em Caracas celebrou o restabelecimento dos voos. O encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Venezuela, Breno Hermann, afirmou que a retomada dos voos é muito positiva para os dois países em relação a aspectos comerciais, turísticos e também nas relações.

A retomada dos voos diretos entre os dois países vizinhos é motivo de satisfação, considerando a longa relação existente e a ausência de conexões aéreas. Essa iniciativa impulsionará o turismo em ambos os lados, além de fomentar negócios. Os venezuelanos têm muitas oportunidades no Brasil, e vice-versa. A relação se beneficia também pela facilidade de contato, permitindo que pessoas e agentes governamentais possam viajar e interagir.

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A demanda entre os países se justifica pela comunidade venezuelana que atualmente reside no Brasil. De acordo com o último censo, em 2022 os venezuelanos constituíam o maior grupo estrangeiro no Brasil, com 271,5 mil pessoas. Esse dado representa um aumento significativo em relação aos 3 mil venezuelanos que viviam em território brasileiro em 2010 e é consequência da migração venezuelana dos últimos anos, motivada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos contra o país caribenho a partir de 2015.

O retorno dos voos se configurará como principal necessidade da chamada “reunião familiar”, tanto para os migrantes que viajam da Venezuela, quanto para os venezuelanos que vão ao Brasil visitar aqueles que deixaram o país.

O advogado venezuelano Rodolfo Ruiz, especialista em direito aeronáutico, afirma que as viagens iniciam justamente no período de alta temporada na Venezuela, durante as férias escolares de agosto. A tendência, para ele, é que a principal demanda na compra de passagens aéreas ocorra nos momentos de festividades.

A Venezuela transformou-se em um país que exporta imigrantes. Estabeleceram-se comunidades de venezuelanos em diversos outros países, incluindo o Brasil, o que gerou uma demanda em um período em que os voos foram interrompidos. Trata-se de um fluxo constante, de férias escolares ou do mês de dezembro. Isso justifica, sob uma perspectiva comercial.

A retomada dos voos foi uma decisão da empresa e dependeu da iniciativa da própria Gol, visto que nenhum dos dois países impunha uma proibição à conexão entre o Brasil e a Venezuela. De acordo com fontes da companhia aérea informadas ao Brasil de Fato, outras questões justificam essa decisão.

Uma possibilidade é o incremento da conexão com o sul do continente. Atualmente, não existem voos que conectem Caracas à Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Com o voo direto para Guarulhos, muitos venezuelanos terão um acesso mais fácil a essa região, bem como a outros continentes. O aeroporto internacional mais movimentado do Brasil realiza viagens diárias a 35 países.

A Venezuela inicia hoje a retomada de relações com outros países, ainda sendo um dos destinos mais isolados do mundo. O país possui voos diretos para Cuba, Bolívia, Colômbia, Santa Lúcia, Panamá, Curaçau, Turquia, Portugal, Espanha, Rússia, China, República Dominicana e Panamá.

Os dois últimos destinos retomaram voos em junho com a Venezuela, após suspenderem a conexão após a eleição presidencial do ano anterior. Em julho de 2024, a Venezuela realizava aproximadamente 181 voos internacionais por semana, tanto de entrada quanto de saída. Após o pleito que teve Nicolás Maduro como vencedor para um terceiro mandato, houve uma redução de 98 voos, totalizando 83 voos por semana.

Isso resultou em uma redução de 15 mil passageiros por semana. A empresa aérea Latam, que na época cessou suas operações no país, retomou em 2025 seus voos para Bogotá, elevando a média de voos semanais para 100 em maio.

Após as eleições, um grupo de 10 países governados pela direita criticou a divulgação dos resultados. Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai passaram a emitir questionamentos para contestar o processo eleitoral, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano denominou essa articulação de “novo Grupo de Lima” e anunciou o rompimento das relações e a suspensão dos voos para esses países.

A Venezuela cancelou tais voos por meio de um Notam (Aviso aos Pilotos de Voo, sigla em inglês). A determinação possuía validade de um mês a partir de 31 de julho e foi estendida no final de agosto. Em contrapartida, o Panamá também divulgou um Notam, porém com validade de três meses, até o final de novembro. Os voos entre os países ainda não foram restabelecidos.

O Notam é uma mensagem que pode ser emitida pelas autoridades de aviação dos países para estabelecer alterações temporárias nas operações aéreas. A restrição sobre voos é uma das medidas que pode ser utilizada por um país. Essas determinações são válidas por até três meses.

Turismo e arrecadação

A companhia aérea também analisa a demanda por turismo. O Brasil é um dos países que não exige visto de entrada para venezuelanos, o que facilita a chegada de turistas que desejam conhecer o Brasil. Para o governo venezuelano, o caminho inverso também é benéfico. Os arquipélagos de Los Roques, no mar do Caribe, e o Parque Nacional de Canaima, na Amazônia venezuelana, são dois dos roteiros mais visitados por turistas na Venezuela e podem aumentar a frequência com os brasileiros.

A ilha Margarita é um dos destinos com maior interesse e já teve uma forte presença de brasileiros no passado. Atualmente, o local recebe turistas russos e árabes, principalmente devido à facilidade dos voos diretos que existem entre Moscou e Caracas.

Para Ruiz, a retomada de todos esses voos apresenta também dois benefícios econômicos. Primeiramente, para os consumidores. Com a retomada dos voos, não apenas para o Brasil, mas também para República Dominicana e Panamá, a tendência é que os preços caiam. Segundo ele, já foi possível observar uma queda de 20% nos preços das passagens aéreas para destinos mais frequentes, como Colômbia, desde maio.

A segunda é destinada à arrecadação do próprio aeroporto de Maiquetia. O Aeroporto Internacional de Caracas cobra uma taxa para passageiros paga pelas companhias aéreas. Cada bilhete comprado para sair do país tem uma taxa extra de US$ 80 (R$ 440), inclusas nas passagens. Com 4 voos semanais, o valor arrecadado pelas empresas aéreas que fazem essa operação será maior.

Histórico de voos

Brasil e Venezuela mantiveram frequência de voos até 2016. Aquele ano foi caracterizado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que cedeu espaço para Michel Temer. Com ele, as relações diplomáticas entre Caracas e Brasília foram interrompidas. Maduro não aceitou o governo de Temer e a tensão aumentou após a eleição do chavista em 2018. O Brasil não validou os resultados e fechou a embaixada brasileira em Caracas. Em contrapartida, o governo venezuelano também fechou sua representação diplomática em Brasília.

Com isso, empresas aéreas como a Gol e a Latam, que já operavam poucos voos, suspenderam completamente o embarque de conexões. A companhia estatal venezuelana Conviasa manteve alguns voos para Boa Vista, a capital brasileira mais próxima da fronteira. Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, a tensão entre os países aumentou e, no ano seguinte, os Estados Unidos aplicam sanções contra a Conviasa, o que dificultou ainda mais as operações internacionais da empresa.

A partir daí, os voos entre o Brasil e a Venezuela passaram a exigir conexões em Panamá, Colômbia, Peru, Chile e nos Estados Unidos, operados por companhias como a Copa Airlines e a Avianca. Após a pandemia de Covid-19 em 2020, o tráfego aéreo foi suspenso completamente, com uma retomada gradual ocorrendo a partir de 2021.

A partir daí, a Conviasa iniciou operações de voos que conectavam Puerto Ordaz a Manaus. Em 2023, o governo Lula restabeleceu as relações com a Venezuela e a retomada dos voos para Caracas se tornou um dos objetivos dessas relações com Caracas. Nesse ano, a empresa estatal venezuelana inaugurou voos de Caracas a Boa Vista, porém, de forma irregular, sem uma programação regular.

Nos últimos dois anos, as opções incluíam voos para Peru, Chile, Panamá e Colômbia, que estabeleciam uma conexão com Caracas.

Fonte por: Brasil de Fato

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