Brasil e Venezuela retomam voos diretos após 8 anos

Voos semanais quinzenais restabelecerão as conexões entre os países, atendendo 271 mil venezuelanos no Brasil e impulsionando o turismo e o comércio.

05/08/2025 18h18

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(Imagem de reprodução da internet).

Brasil e Venezuela operarão seu primeiro voo direto em oito anos nesta terça-feira (5 de agosto), reconectando os dois países. A rota atende a uma demanda dos 271.000 venezuelanos residentes no Brasil e visa estimular o turismo e o comércio entre os vizinhos.

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Os voos serão operados pela companhia aérea brasileira Gol. No site da empresa, passagens de ida custam em média US$920 (Caracas–São Paulo) e US$220 (São Paulo–Caracas). Anteriormente, os passageiros pagavam pelo menos US$1.500 com conexões. O voo direto leva cerca de seis horas.

O voo inaugural parte do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, às 17h05 e tem previsão de chegada em Caracas às 22h10 (horário local de Caracas). Serão operados, em total, quatro voos por semana às terças, quintas, sábados e domingos entre os países. A diplomacia brasileira em Caracas acolheu o movimento. Breno Hermann, embaixador interino para negociações na embaixada do Brasil no Venezuela, afirmou que a retomada é muito positiva para o comércio, o turismo e as relações bilaterais.

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Estamos muito satisfeitos porque se trata de dois países vizinhos com relações históricas, porém sem voos diretos. Não fazia sentido. Isso incentivará o turismo e os negócios em ambos os lados. Venezuelanos têm muito a buscar no Brasil e vice-versa. Além disso, a conexão é fundamental para as relações, pessoas poderem ir e vir, tanto atores privados quanto governamentais, é um ótimo sinal”, disse Hermann ao BdF.

A demanda é impulsionada pela comunidade venezuelana no Brasil, que cresceu de 3 mil em 2010 para 271.500 em 2022, tornando-se a maior comunidade estrangeira no país. Essa ascensão migratória está relacionada às sanções dos Estados Unidos a Venezuela desde 2015, que provocaram o colapso econômico e a emigração em massa.

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Viagens sazonais e impacto no mercado

O advogado venezuelano de aviação, Rodolfo Ruiz, observou que os voos começariam durante as férias escolares da Venezuela, um período de alta demanda. Ele prevê que a procura aumente em torno das épocas de férias e das férias de dezembro. “A Venezuela se tornou um país que exporta migrantes. Comunidades foram estabelecidas em muitos países, incluindo o Brasil. Isso criou uma demanda durante um período em que os voos foram reduzidos. É um tráfego de ida e volta sazonal, feriados, períodos de interrupção das aulas, dezembro. Isso, por si só, justifica comercialmente”, afirmou ele.

A Gol espera entre 600 e 800 passageiros por semana e pretende vender 80% das assentos em cada voo.

A retomada é uma iniciativa empresarial da Gol, visto que não havia proibição formal do governo. Segundo fontes ouvidas pelo BdF, outros fatores também influenciaram a decisão, como a conectividade regional. Caracas atualmente não possui voos diretos para Argentina, Uruguai, Paraguai ou Chile. O hub de Guarulhos, em São Paulo, com voos diários para 35 países, servirá como porta de entrada para viajantes venezuelanos, facilitando também conexões para Europa, África e Ásia.

A Venezuela continua sendo um dos destinos mais isolados do mundo. Atualmente, possui voos diretos para Cuba, Bolívia, Colômbia, Santa Luzia, Panamá, Curaçao, Turquia, Portugal, Espanha, Rússia, China e República Dominicana. Os dois últimos países retomaram as conexões em junho de 2025 após suspenderem as ligações após as eleições presidenciais venezuelanas de 2024, que reelegeram Nicolás Maduro para um terceiro mandato.

Em julho de 2024, a Venezuela registrou aproximadamente 181 voos internacionais semanais. Após as eleições e a reação diplomática, esse número diminuiu para 83, reduzindo o tráfego de passageiros em 15 mil pessoas por semana. A Latam Airlines, que havia interrompido suas operações no país, retomou voos para Bogotá em 2025, elevando a média semanal para 100 voos até maio.

Histórico de voo e contexto político

Os dois países mantiveram voos regulares até 2016, o ano do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Após Michel Temer assumir o cargo, as relações se deterioraram. Maduro recusou o reconhecimento do novo governo, e o Brasil posteriormente retirou o reconhecimento dos resultados das eleições venezuelanas de 2018, fechando sua embaixada em Caracas. Venezuela reciprocou ao fechar sua embaixada em Brasília.

As companhias aéreas como Gol e Latam, que já tinham poucas operações, suspenderam totalmente as atividades, enquanto a companhia aérea estatal venezuelana Conviasa manteve voos limitados para Boa Vista, a cidade brasileira mais próxima da fronteira. As tensões aumentaram ainda mais durante o governo Jair Bolsonaro (2019–2022), e as sanções dos Estados Unidos sobre a Conviasa em 2019 prejudicaram suas operações internacionais.

A partir daí, os deslocamentos entre os países exigiam conexões por meio do Panamá, Colômbia, Peru, Chile ou até mesmo os Estados Unidos. A pandemia de COVID-19 em 2020 interrompeu todas as operações de voo, com retomada parcial somente em 2021.

A Conviasa operava voos de bandeira sem escalas de Puerto Ordaz para Manaus. Em 2023, sob a Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil restabeleceu as relações com a Venezuela e priorizou o retorno das operações de voos. A Conviasa retomou a rota Caracas–Boa Vista naquele ano, porém sem regularidade.

Nos últimos dois anos, os brasileiros utilizaram voos de conexão por meio do Peru, Chile, Panamá e Colômbia para chegar a Caracas.

Fonte por: Brasil de Fato

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