Brasil: morte de operário brasileiro provoca revolta de trabalhadores na Argentina

Trabalhador brasileiro faleceu em equipamento de trituração, contudo, a administração não desejou interromper a produção da fábrica de cerâmicas.

03/05/2025 14h53

4 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

O técnico brasileiro Regis Barcelos Fernandes, de 55 anos, ficou preso na trituradora de pedras destinada à fabricação de cerâmicas e porcelanatos na terça-feira (29/4). O ocorrido causou indignação entre os trabalhadores e levou a uma greve contra a empresa, pertencente ao representante máximo dos industriais argentinos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O incidente, na área de moagem da empresa, afetou 220 funcionários, localizados no município de Cerrillos, no Parque Industrial de Salta, ao norte da Argentina, a 1.500 quilômetros de Buenos Aires.

Regis Fernandes exercia a função de terceirizado da Cerâmica Alberdi há sete anos. A cada 20 dias, ele executava a manutenção da fábrica em Salta, uma das três unidades da empresa pertencente a Martín Rappallini, que, na segunda-feira (28), assumiu a presidência da União Industrial Argentina.

Por volta das 18h, o brasileiro realizava a manutenção da trituradora quando, por motivos ainda desconhecidos, a máquina foi acionada. Nesse momento, Regis estava dentro da máquina, sem permitir qualquer reação.

LEIA TAMBÉM:

Os trabalhadores acionaram os protocolos de emergência, com a participação da polícia e da Promotoria. O promotor Leandro Flores, da Unidade de Graves Atentados contra as Pessoas (UGAP), conduziu uma investigação para apurar as responsabilidades criminais.

Revolta dos trabalhadores

Diante da negativa da empresa em cessar a produção, o Sindicato de Operários da Indústria Cerâmica (SOIC) instaurou uma greve geral, com apoio da Federação Operária Cerâmica da República Argentina (FOCRA). Os trabalhadores em greve reivindicam equipamentos de comunicação, peças de reposição certificadas e treinamento em segurança para retomar as atividades.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O Sindicato dos Operários da Indústria de Confecção (SOIC) informou que a paralisação da fábrica é resultado da tentativa da empresa de esconder o local do acidente e de prosseguir com a produção, mesmo após a morte de um trabalhador brasileiro na máquina.

O óbito do trabalhador, ocorrido em circunstâncias que necessitam ser apuradas pela Justiça, foi desconsiderado pela administração. Requer-se que se esclareça a dinâmica do acidente e que sejam asseguradas medidas de segurança no ambiente de trabalho, conforme informações da RFI.

O diretor da empresa, Enrique Gatti, divulgou uma nota de pesar à família do brasileiro, descrevendo-o como “um especialista em manutenção de equipamentos de moagem que há anos prestava serviços à fábrica de Salta”.

A Cerâmica Alberdi S.A. lamenta o falecimento do Sr. Regis Barcelos Fernandes, especialista em manutenção, brasileiro, ocorrido em 29 de abril na fábrica de Salta. A empresa manifesta suas condolências à família e amigos, oferecendo apoio neste momento difícil.

A Cerâmica Alberdi cumpre rigorosamente todos os procedimentos de segurança definidos para esta operação. A segurança dos funcionários é nossa principal prioridade e estamos comprometidos em assegurar um ambiente de trabalho seguro e protegido, conforme declarado na nota da fábrica. O texto não contesta a alegação do sindicato quanto à não paralisação da produção após o acidente.

Problemas nos procedimentos de segurança

Apesar de a empresa assegurar o cumprimento de normas de segurança e proteção, dois acidentes graves foram registrados em outra unidade do grupo, localizada no município de José C. Paz, na província de Buenos Aires, desde dezembro. Um dos casos envolveu uma trabalhadora com lesões graves no braço, enquanto o outro resultou na amputação de uma mão de um trabalhador.

Reduzem os salários reais, negam reajustes para maximizar o lucro sem garantir as condições mínimas de segurança, denunciou o sindicato, rebatendo os argumentos da empresa. “Temos direito a um salário digno e também a não sermos obrigados a deixarmos a saúde e a vida no trabalho. Trabalhamos para sobreviver e terminamos morrendo no trabalho”, conclui a nota.

O falecimento do brasileiro ocorreu durante a mudança de turno, levando os seis funcionários que testemunharam o evento ao estado de choque. Os presentes relataram que, anteriormente ao acidente, Regis Fernandes sinalizou com o braço e a máquina iniciou a operação, o que causou a sua morte. Ao tentarem resgatá-lo, ele já não apresentava pulso.

O mais revoltante para os trabalhadores foi a atitude da empresa, que tentou prosseguir com a produção naquela mesma noite, ameaçando descontar o dia daqueles que não retornassem ao trabalho. Tivemos de lutar por um luto digno pelo nosso colega, descreveu o secretário sindical Sebastián Pineda.

Os responsáveis não queriam interromper o processo. Não conseguiam remover o corpo devido ao seu aprisionamento na moagem. Posteriormente, desejavam interromper apenas o setor de moagem. Era muito frustrante tudo o que estava ocorrendo, relataram, informando que o dia 1º de Maio foi um dia de luto para todos.

“Compram peças de reposição baratas e depois acontece isso. Eles nos dizem para reclamarmos no Ministério do Trabalho porque sabem que este governo defende os empresários e é contra os trabalhadores”, criticou Pineda.

Outro líder sindical, Pedro Linares, acusou a empresa de “retirar os sensores de segurança das máquinas para que a linha de produção não se interrompa caso uma placa de cerâmica entre torta no sistema”. “Os operários terminam arrumando as peças irregulares com as próprias mãos, num movimento que gera os acidentes graves”, denunciou.

Fonte: Metrópoles

Ative nossas Notificações

Ative nossas Notificações

Fique por dentro das últimas notícias em tempo real!

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.