O corpo fossilizado de uma cigarra, com 47 milhões de anos, encontra-se em um fragmento de rocha. Apresenta aproximadamente 2,5 cm de comprimento e 68,2 milímetros, com suas asas nervuradas bem visíveis.
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Cientistas identificaram recentemente o inseto como um novo gênero e espécie, com base neste fóssil e outro quase tão bem preservado, encontrados no mesmo sítio. Apesar de serem fêmeas, sua localização na árvore genealógica das cigarras indica que os machos dessa espécie podiam cantar como as cigarras modernas. As encontradas na Alemanha há décadas revelam que as cigarras cantoras se dispersaram pela Europa milhões de anos antes do que se pensava.
Os fósseis representam os exemplos mais antigos de cigarras cantoras, chamadas de “verdadeiras” da família Cicadidae, de acordo com relatos de pesquisadores publicados em 29 de abril na revista Scientific Reports. A maioria das cigarras modernas pertence a essa família, incluindo as cigarras anuais que aparecem no verão em todo o mundo, além de ninhadas de cigarras periódicas de corpo preto e olhos vermelhos, que emergem de maio a junho no leste da América do Norte em ciclos de 13 ou 17 anos. A ninhada XIV, uma das maiores, emerge em uma dúzia de estados dos EUA neste ano. As cigarras são encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida, e existem mais de 3 mil espécies.
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O registro fóssil de insetos em geral é escasso, concentrado em poucas dezenas de locais. Apesar do grande número de espécies modernas de cigarras, paleontós identificaram apenas 44 fósseis de Cicadidae. O fóssil mais antigo de uma cigarra cantora foi encontrado em Montana, datando de 59 a 56 milhões de anos atrás, conforme declarado pelo Dr. Hui Jiang, paleontóe pesquisador do Instituto de Biologia Órgânica de Bonn, na Universidade de Bonn, na Alemanha. Seu parente recentemente descrito é a cigarra cantora mais antiga da Europa, informou Jiang à CNN por e-mail.
Devido à excelente conservação das estruturas corporais dos fósseis europeus, os cientistas identificaram o antigo inseto como pertencente a uma tribo moderna de cigarras, os Platypleurini, “que atualmente é distribuída principalmente em regiões tropicais e subtropicais da África Subsaariana e da Ásia, mas está ausente da Europa”, afirmou Jiang.
Estudos anteriores indicaram que essa linhagem evoluiu na África entre 30 e 25 milhões de anos atrás e se espalhou a partir daí, segundo Jiang. “Este fóssil retrocede em aproximadamente 20 milhões de anos o registro fóssil conhecido de cigarras produtoras de som da tribo Platypleurini, indicando que a diversificação desse grupo ocorreu muito antes do que se reconhecia anteriormente”, acrescentou o pesquisador.
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A descoberta indica que esse grupo de cigarras evoluiu de forma mais lenta do que as estimativas anteriores, segundo o Dr. Conrad Labandeira, geópesquisador sênior e curador de artrópodes fósseis no Museu Smithsonian de História Natural, em Washington, DC.
“Isso sugere que fósseis mais antigos do gênero Platypleurini ainda não foram descobertos”, disse Labandeira, que não participou da pesquisa. “Tais descobertas ajudariam a fornecer melhores calibrações para determinar uma taxa evolutiva mais realista.”
Os pesquisadores denominaram a cigarra Eoplatypleura messelensis. O nome alude ao local de descoberta: o Poço de Messel, na Alemanha, um sítio fóssil rico que data do Eoceno (entre 57 e 36 milhões de anos atrás). Os fósseis, escavados na década de 1980, encontram-se desde então na coleção do Instituto de Pesquisa Senckenberg e do Museu de História Natural de Frankfurt, na Alemanha, informou a autora sênior do estudo, Dra. Sonja Wedmann, chefe do departamento de paleoentomologia do Senckenberg.
Um lago vulcânico profundo, onde o oxigênio não alcançava o fundo, antes ocupava o Poço de Messel. Esse ambiente proporcionou condições ideais para a fossilização, e sedimentos de grãos finos da antiga bacia lacustre contêm uma variedade de vida do Eoceno, afirmou Wedmann à CNN por e-mail.
A notável conservação, não apenas de insetos, mas de todos os grupos de organismos, é a razão pela qual Messel é um patrimônio mundial da UNESCO, designação que recebeu em 1995, afirmou Wedmann.
O espécime mais completo dos dois fósseis de cigarra “é um dos insetos mais bem preservados do sítio de fósseis da mina de Messel”, acrescentou Wedmann. “O Senckenberg possui uma coleção de mais de 20.000 insetos fósseis de Messel, e entre eles, destaca-se pela sua preservação realmente bela e completa.”
Em termos de formato geral da cabeça e do corpo, o *E. messelensis* assemelha-se bastante aos cigarras modernos. Seu rosto – uma boca em forma de focinho – está intacto, mas uma análise mais aprofundada é necessária para determinar se ele o utilizava para se alimentar de tecidos vegetais chamados xilema, como a maioria dos cigarras modernos, afirmou Labandeira.
*E. messelensis* também exibe padrões e cores em suas asas. Essa característica confunde os insetos modernos que se fixam nos troncos das árvores, e pode ter desempenhado uma função similar, segundo Jiang.
Contudo, a *E. messelensis* apresenta diferenças sutis em relação às cigarras atuais. Por exemplo, suas asas anteriores são mais largas e menos alongadas do que as das espécies vivas atualmente, o que pode ter influenciado seu voo.
Jiang afirmou que não podemos saber o canto exato da cigarra antiga. Contudo, com base na estrutura corporal da cigarra e sua posição no grupo de cigarras canoros, “ela provavelmente produzia sons com função semelhante aos das cigarras modernas”.
Quando a Ninhada XIV se manifestar nos bilhões, no final da primavera e início do verão de 2025, seus cantos alcançarão níveis de 90 a 100 decibéis – tão altos quanto um trem de metrô. Outras espécies de cigarras emitem ruídos ainda mais intensos: o canto da cigarra africana Brevisana brevis atinge o pico em cerca de 107 decibéis, comparável ao som de um avião decolando.
O volume dos cantos das espécies antigas pode ter sido ainda maior, afirmou Jiang. O abdômen do *E. messelensis* é mais largo e maior do que o de seus parentes modernos, indicando que os machos poderiam ter possuído uma cavidade ressonante maior. Essa cavidade pode ter amplificado o som das estruturas vibratórias em seus abdômen, denominadas tímpanos, para gerar um zumbido mais alto.
“Claro que isso é apenas uma hipótese”, acrescentou Jiang. “Estudos futuros sobre como a morfologia se relaciona com a produção sonora em cigarras modernos ajudarão a testá-la.”
Empresa busca reverter extinção de outros animais.
Fonte: CNN Brasil