Caravana pelo Catatumbo – 20 anos resistindo no território
Dez anos após sua primeira edição, a Caravana Internacionalista retorna ao Catatumbo para conversar com as lideranças locais e expor a situação ao mundo.

Com o lema “20 anos resistindo no território”, iniciou nesta sexta-feira (25) a caravana humanitária pelo Catatumbo, organizada pela Rede Hermandade e Solidariedade com Colômbia (REDHER).
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A marcha busca divulgar e expor o conflito que assola esta região há pelo menos 30 anos, porém que se agravou nos últimos meses.
Cerca de 40 organizações de 12 países da América Latina e Europa responderam ao chamado, incluindo o Brasil, representado pelo MST, MTST e MPA.
LEIA TAMBÉM:
● Em prol de uma Conferência Estadual de Mulheres democrática e participativa, em SP
● As mulheres negras: intersecções e desigualdades em saúde
● Brasil soberano, mundo multipolar
O Catatumbo, região norteoriental colombiana, é composto por 13 municípios no estado de Norte de Santander e desempenha um papel importante na geopolítica da região, pois faz fronteira com a Venezuela, que atualmente se encontra no centro das disputas imperialistas na América Latina. É importante lembrar que a Venezuela detém uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
Na região do Catatumbo, observa-se o aumento do conflito armado devido à disputa territorial, abrangendo a luta pelos recursos naturais, conduzida por grupos paramilitares, que impõe à população local diversas violações dos direitos humanos.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O paramilitarismo – compreendido como uma estrutura armada paralela que historicamente atende aos interesses do Estado colombiano – teve seu início nesta região, entre 1999 e 2000.
Naquele contexto, surgiu a CISCA – (comitê de integração social do Catumbá) – criada no âmbito da primeira caravana em 2004, e que atualmente desempenha um papel importante na organização da resistência dos setores populares e na reconstrução do tecido social por meio da integração das comunidades no âmbito econômico local e regional, para enfrentar o avanço do paramilitarismo, que retorna à cena regional por meio de diferentes grupos, ameaçando e assassinando líderes sociais e gerando terror nas comunidades.
As comunidades têm denunciado a violência paramilitar que se intensificou desde janeiro deste ano, com o emprego de novos métodos, principalmente digitais, para conduzir a guerra psicológica por meio de ameaças nas redes sociais, como TikTok e Facebook. Essas ameaças têm gerado, por um lado, o deslocamento de famílias inteiras que buscam proteger suas vidas, e por outro, o isolamento de outras famílias que, por receio das acusações públicas nas redes sociais, não deixam suas casas.
As comunidades coexistem num ambiente de terror, com ameaças e perseguições constantes nos territórios, com práticas de paramilitarismo para desestabilizar a organização político-social e destruir a resistência popular.
Atualmente, nenhum acordo de paz estabelecido pelos governos anteriores foi efetivamente implementado na história do conflito colombiano, sobretudo em relação à segurança, inclusão e permanência, o que expõe e torna a população afetada pelo conflito armado vulnerável a ações de extermínio, parte da estratégia de guerra na disputa territorial.
Segundo informações de lideranças locais, o governo atual, Gustavo Petro, não tem cumprido com o acordo de resolução definitiva do conflito para o estabelecimento da paz no Catatumbo e outras áreas da Colômbia. Ademais, não há a implementação de um plano econômico e de infraestrutura para o desenvolvimento da população local nas regiões de conflito.
Diante da falta de políticas públicas, a CISCA tem promovido a conscientização das famílias campesinas sobre um modelo produtivo com fundamentos agroecológicos, buscando a soberania alimentar, como parte da inserção comunitária em áreas sem investimento público.
Dez anos após sua primeira visita, a caravana internacionalista retorna ao Catatumbo para conversar com as lideranças locais e expor ao mundo a violência contra o povo colombiano.
Judite Santos – Coordenação Nacional do MST e integrante da Caravana Humanitária.
Fonte por: Brasil de Fato