O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos líderes da nova federação entre União Brasil e Progressistas, não acredita que seja inviável que a direita se una em torno de um dos filhos de Jair Bolsonaro, caso o ex-presidente esteja inelegível.
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Em entrevista exclusiva à coluna, Nogueira comentou sobre as perspectivas que identifica para a direita em 2026, incluindo as recentes movimentações do ex-presidente Michel Temer para consolidar o campo ideológico em torno de um único candidato.
O líder da federação declarou que não é impossível apoiar um filho ou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas que seria necessário “ir ao centro”.
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Acredito que um parente do presidente Bolsonaro teria total viabilidade caso apresentasse um discurso mais centrista. Se ele se isolar na direita, não será eleito, ressaltando que seu candidato ainda é o próprio Bolsonaro.
Nogueira reiterou que deseja auxiliar o ex-presidente na seleção de um nome, caso a Justiça o declare inelegível. Acrescentou que Bolsonaro pode apoiar a união de governadores de direita para concorrer à eleição.
Não há como considerar inviável o apoio do presidente Bolsonaro a qualquer governador. Caiado, Tarcísio, Zema, Ratinho Júnior, Teresa Cristina (…), qualquer um desses nomes seria altamente viável para vencer uma eleição se contasse com o apoio do presidente Bolsonaro.
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Acesse a entrevista na íntegra:
O senador descreve a nova federação como uma bússola para o país, liderada por figuras como o ex-ministro da Casa Civil e o presidente do Senado, em parceria com dois partidos que possuem quatro ministérios no governo Lula. Ele considera que o Brasil é marcado por ciclos políticos, como os do PDS, MDB e PSDB, e acredita que o ciclo do PT está chegando ao fim. Observa que, nas eleições de 2024, o eleitorado brasileiro manifestou apoio ao centro, com a maioria dos prefeitos e vereadores apresentando perfil de centro, incluindo partidos como PSD e Republicanos. A federação, apesar das divergências, busca um consenso para impulsionar o crescimento do país, comparando-o com o crescimento de outras nações.
A nova federação é a mais robusta no Congresso Nacional. Contam com 109 parlamentares, 14 senadores, mais de 1.300 prefeitos e seis governadores. Não se deve temer que o governo Lula tenha receio dessa federação. No entanto, vislumbro nessa federação um importante escudo de proteção para a sociedade contra as possíveis medidas que o governo, com baixa popularidade e distante da população, pode implementar e que possam prejudicar o país. Essa federação não apoia o governo, mas também não estará contra o Brasil. Todas as medidas apresentadas pelo governo que gerem confiança na política econômica do país contarão com nosso apoio. Contudo, todas as medidas com viés de arrecadação, que aumentem a carga tributária e criem obstáculos ao crescimento do país, enfrentarão uma oposição sistemática da federação.
O interlocutor mencionou ciclos e citou o MDB, um dos pilares do presidencialismo de coalizão. A perspectiva para os próximos anos é, em parte, assegurar essa dinâmica. A questão central é qual base o próximo presidente da República precisa para garantir governabilidade, considerando que a simples entrega de ministérios não é suficiente. As emendas parlamentares também não parecem ser suficientes para consolidar uma base congressual robusta. A ênfase agora será na elaboração do estatuto da federação, seguida pela convocação das convenções para aprovar o estatuto e, posteriormente, discutir a participação de partidos, mesmo que não sejam os que indicaram os ministros, buscando evitar constrangimentos. O Progressista, com uma grande parcela de seus filiados e eleitores possuindo viés de oposição, representa um desafio. A política de troca de cargos ou favores por apoio político, comum no passado, é vista como prejudicial à democracia. O Congresso também se fortaleceu em relação ao controle de recursos.
O próximo presidente da República precisa consolidar o União Progressista como uma força relevante no Congresso Nacional. Apenas emendas parlamentares são suficientes para garantir essa posição? Qual o futuro dessa relação? É fundamental que haja identificação nos projetos de lei. Por que isso não ocorreu durante o governo atual? Porque não houve identificação com as políticas do governo Lula, como o aumento do Estado, o ataque às estatais e o aumento da carga tributária. Isso contraria o que foi defendido nas eleições pelos deputados, senadores e governadores. A falta de identificação se deve ao fato de que, antigamente, as pessoas não se lembravam dos deputados que haviam votado. Atualmente, os eleitores estão presentes no momento do voto e, em seguida, podem cobrar, apoiar ou criticar. Essa é uma nova forma de responsabilizar os políticos, não apenas nas eleições, mas em seu dia a dia no Congresso Nacional. Como um político de centro-direita pode apoiar um partido de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores? O eleitor desse político não aceita e isso acontecerá cada vez mais, graças a Deus.
O senador, em diversos estados, a federação promoveu divergências, como Bahia, Acre e Pernambuco. É necessário conversar com os parlamentares insatisfeitos e ampliar a participação de mais partidos na federação. Inicialmente, é preciso dialogar bastante. Com a expansão para 114 deputados, a janela de oportunidade pode levar a quase 150. É fundamental um projeto consistente, sem personalismo, visando o crescimento da federação. O objetivo é que pessoas possam defender projetos, e não apenas para eleger deputados, mas sim um quadro político de governadores, senadores e deputados federais nas eleições.
Quanto aos deputados, por exemplo, que ameaçam deixar seus partidos, ou a União, ou o PP, como está sendo essa discussão? Acredito que há muito pouco. No Progressista até hoje não vi nenhum parlamentar manifestando desejo de sair. Na União ainda não sei. Mas vou lhe ser franco, hoje o movimento é muito mais de entrar na federação do que sair. Vocês vão poder comprovar quando abrir a janela partidária.
O senhor já deixou claro em várias entrevistas que o seu candidato é o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, o cenário atual é que Bolsonaro está inelegível. Diante disso, temos duas opções à direita: a primeira, que está sendo capitaneada nos bastidores pelo ex-presidente Michel Temer, de unir todos os grandes governadores de direita do país. Do outro lado, o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à coluna, ele já deixou claro que talvez a preferência dele fosse por um familiar. Dentro desses dois cenários, qual lado o senhor fica mais confortável em apoiar? Eu agora não já não falo mais como presidente do Progressista ou líder da federação, falo como pessoa física. Eu vou apoiar o presidente Bolsonaro até o fim. Lutarei pelo candidato que ele apoiar. Lógico que eu vou tentar interferir, caso ele não seja candidato, na escolha desse candidato que ele irá apoiar. E aí nós temos diversos nomes. Eu defendo também que nós podemos aglutinar tanto essa intenção do ex-presidente Temer e aglutinar os governadores, que eu acho que isso é fundamental para uma vitória nas urnas, como o apoio do presidente Bolsonaro. Isso não são opostos. Acho que tem mais sintonia para convergir do que para divergir. Nós vamos trabalhar até o fim, porque se isso acontecer, fatalmente nos levará à vitória nas eleições de 2026.
Você deve apoiar o candidato indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. É isso mesmo. Mas eu vou trabalhar para que ele tome uma boa decisão.
Uma opção interessante seria um parente, considerando o que ele deseja? Acolheria bem o apoio a um familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro? Ou eles poderiam estar juntos, mas não necessariamente como uma chapa majoritária. Acredito que tudo é possível, pois temos no Brasil dois grandes líderes. Tanto Lula, caso candidato ou apoiando um candidato, quanto Bolsonaro, caso candidato ou apoiando um candidato, ambos estão no segundo turno. Não há como escapar disso, não se admite uma terceira via. Contudo, precisamos construir algo. Esse candidato deve ter viabilidade, e eu penso que um familiar do presidente Bolsonaro tem total viabilidade se ele apresentar um discurso mais central. Se se isolar na direita, não será eleito.
Extrema direita difícil? Não, não vem. Tem que vir mais para o centro. Hoje nosso eleitorado é 30% na direita, 30% na esquerda e 40% no centro. O Lula ganhou a eleição passada, porque fez um discurso mais para o centro. Apesar de ter errado e ido para a esquerda quando ganhou a eleição. Graças a Deus que ele fez isso. Mas se nós tivermos um familiar, tem de vir com um discurso mais para o centro. Mas não eu não vejo como impossível o presidente Bolsonaro apoiar um nome de um governador. Caiado, Tarcísio, Zema, Ratinho Júnior, Teresa Cristina (…). Qualquer desses nomes seriam altamente viáveis para ganhar a eleição se tiverem o apoio do presidente Bolsonaro.
O governador de Goiás, que já lançou sua pré-candidatura, não seria um problema? Não, eu acho que o Caiado, se eu deixei bem claro, é mais do que legítimo o Caiado colocar o seu nome, é um grande quadro. Foi, talvez, o melhor governador da história de Goiás. Tem um discurso muito forte naquele que, para mim, vai ser o tema da próxima eleição, que é a questão da segurança. Então, ele tem tudo. Agora tem que se viabilizar. Ele não vai ser candidato só porque lançou primeiro. Vai ser candidato se tiver viabilidade eleitoral e eu acho que se tentar aglutinar um apoio do presidente Bolsonaro, há uma série de situações que podem acontecer. Isso depende muito mais do Caiado, do eleitor do que de mim.
O senhor é um político experiente, ex-ministro da Casa Civil e crítico das medidas do governo Lula, principalmente as econômicas. Como mencionou, as pesquisas indicam uma queda na popularidade do governo. Qual, na sua visão, é o maior erro do governo Lula atualmente? Parece que o governo está olhando constantemente para o retrovisor. É um governo ultrapassado. Lula não está em sintonia com o tempo atual. Ele é um homem isolado, sem capacidade de diácom a sociedade. Lula não possui um celular, o que limita sua percepção. É uma pessoa que não compreende o momento atual do país. Por exemplo, hoje em dia, o primeiro emprego das pessoas é trabalhar no Uber ou como entregador. Lula pensou em sindicalizar essas pessoas. Uma pesquisa recente revela que as pessoas dizem “Não, o Lula não sabe o que eu faço”. ele é um homem ultrapassado e isolado. É alguém fora do tempo. Temos um Lula analógico em um mundo digital. Acredito que o principal problema desse governo é que ele é um governo antigo, não pela idade, mas pela falta de adaptação.
Senador, o senhor está junto, na mesma bancada, que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e que o senador Sergio Moro. As notícias recentes dão que o presidente Alcolumbre tem conversado com o Supremo Tribunal Federal para propor um projeto alternativo de anistia e que ele pediu ajuda ao senador Sergio Moro. Seria mais ou menos o que tem se chamado de “meia anistia”. O senhor vai conversar com o presidente Davi Alcolumbre e com o senador Sergio Moro para procurar que essa anistia proposta seja aquilo que vocês, mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acreditam ser necessário? Olho, eu defendo a votação na ação dessa anistia. Eu defendo que, mesmo as pessoas que depredaram prédios públicos, não sejam anistiadas puramente. Elas têm que pagar por aquele crime. Achar que aquela moça do batom era uma golpista, que tramou, é um absurdo. Então, eu acho que o Supremo viu que errou. Não tem cabimento a pessoa ser condenada a 14 anos de prisão e estar em casa. Então, viu que errou, que pesou na medida. Nós temos que, pelo amor de Deus, que virar essa página na nossa história. Eu acho que a gente perde muito tempo, como diz na minha terra, com um “defunto”. Vamos virar essa página. O presidente Sarney uma vez me falou: “olha, o Lula devia ter feito como Juscelino”. O Juscelino quando assumiu, teve uma discussão de golpe na época, ele virou essa página, anistiou isso. Vamos olhar para frente. Esse país tem que pensar nas pessoas que estão sendo violentadas dentro da sua casa, que estão sem emprego, que estão sem capacidade, que não estão melhorando de vida, do que ficar o dia inteiro tratando de anistia, de perseguição ao presidente Bolsonaro. Pelo amor de Deus, vamos virar essa página da nossa história. Olha, a coisa mais emblemática para mim, nós vivemos em um país democrático e o símbolo da nossa democracia é o Congresso Nacional. E não se quer respeitar o direito da maioria? Isso é um absurdo. A maioria quer votar esse projeto projeto da anistia. Tem que se colocar isso em votação, tem que se respeitar o direito da maioria. Depois o Supremo vai julgar isso, se ela é constitucional, se não é constitucional, mas nós temos que virar a página da nossa história dessa situação que ninguém aguenta mais essa discussão.
Qual é o projeto de anistia? A anistia do Davi Alcolumbre ou a anistia que está na Câmara dos Deputados geram muita especulação, não é verdade? É preciso examinar o texto. O texto que está sendo colocado é o texto da Câmara, que eu espero que seja votado.
O senhor apresentou uma proposta alternativa ao projeto que amplia a isenção do imposto de renda. Como está o andamento disso? O senhor já conversou com o presidente da Câmara? Já apresentamos uma proposta alternativa. O relator é talvez o parlamentar mais experiente da Câmara, que é o deputado Arthur Lira (PP-AL). É uma proposta alternativa. O primeiro ponto que nos unifica é no que diz respeito ao que foi apresentado, que é manter a isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Isso é uma grande conquista. Mas fizemos uma proposta alternativa porque achamos que quem tem que pagar essa conta são os grandes bancos, que estão fazendo um lobby absurdo aqui no Congresso para evitar que a gente aumente. Eu quero esclarecer, eu vi um artigo ontem do secretário da Receita Federal, que foi absurdo. Ali estamos taxando o lucro dos bancos, não é faturamento, não é outras situações. É o lucro. E lucros acima de 1 bilhão de reais, que é quem tem que pagar essa conta.
Quais são os principais desafios que você vê na federação União Brasil e PP? Como superar essas barreiras desse modelo de federação? É muito diánão é? Fazendo um projeto. Eu volto a dizer: tem que se deixar os projetos individuais e pensar em um projeto coletivo, de construir uma grande federação, que é a maior do país em todos os níveis. Temos que pensar mais no projeto para o país.
Fonte: Metrópoles