Ciro Nogueira: “Temos um Lula analógico com o tempo digital”

Ciro Nogueira, conhecido como Cacique do Centrão, busca retirar o Partido da Pátria da base de apoio do presidente Lula. O senador afirma que a perda de popularidade do atual presidente é “irreversível”.

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(Imagem de reprodução da internet).

O ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e importante líder do Centrão, senador Ciro Nogueira (PP-PI), criticou as políticas econômicas do governo atual e espera que o PP cesse de ser base do presidente Lula nas próximas eleições.

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Ciro afirmou considerar difícil que o atual chefe do Palácio do Planalto consiga recuperar sua popularidade. Para o senador, o petista está “sem sintonia com a sociedade”.

da entrevista.

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O senador Álvaro Coluna afirmou que é um governo ultrapassado. Lula não está em sintonia com o seu tempo. É um homem isolado, que não foi capaz de dialogar com a sociedade. Lula não tem um celular. Uma pessoa que não tem um celular só vê o que lhe mostram. É uma pessoa que não tem sintonia com a sociedade. Um homem que não foi capaz de compreender o novo momento que o país vive.

Segundo Nogueira, o chefe do Palácio do Planalto não consegue, atualmente, sequer dialogar com uma parcela de seu próprio eleitorado, como os trabalhadores por aplicativo.

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Hoje, o primeiro emprego das pessoas é trabalhar no Uber, atuando como entregadores e similares. Lula pensou em sindicalizar essas pessoas. Eu vi uma pesquisa outro dia que as pessoas dizem “não, o Lula não sabe o que é que eu faço”. Então, ele é um homem completamente ultrapassado e isolado atualmente. É um homem fora do tempo. Temos um Lula analógico com o tempo digital.

Acesse a entrevista na íntegra.

Senador, como o senhor apresentaria a nova mega federação para o eleitor, unindo o senhor, ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que se tornou um importante interlocutor do governo, e dois partidos com quatro ministérios do governo Lula?

São líderes políticos do país que possuem uma identidade de bandeiras e defesas de causas que visam fazer o nosso país crescer. Vejo essa federação como uma grande bússola para o país. O Brasil foi feito de grandes ciclos políticos. O ciclo do PDS no passado, depois veio o ciclo do MDB, depois o ciclo do PSDB com Fernando Henrique. E eu acho que agora está se encerrando o ciclo do PT, com o presidente Lula. E nas eleições passadas de 2024, o Brasil mandou um grande recado de apoio ao centro no nosso país. Acho que 80% dos prefeitos eleitos no país, vereadores, têm um perfil de centro. Que é o perfil do nosso partido. Lógico também de outros partidos como PSD, MDB. O próprio Republicanos. Mas acho que essa federação deu um salto de união. Um salto, mesmo com várias divergências como você citou aqui, fomos capazes de criar um consenso que é chegada a hora de trabalharmos pelo país, trabalharmos por aquilo que produz, que empreende, tirar as amarras do crescimento do nosso país. O Brasil cresceu nos últimos 40 anos em torno de 170%, mas nós tivemos países aí como China que cresceu 3000%, Índia que cresceu 1000%.

A nova aliança é a mais poderosa no Congresso Nacional. São 109 parlamentares, 14 senadores, mais de 1.300 prefeitos e seis governadores. Você acredita que o governo Lula deve temer dessa federação?

Não, ele não tem que ter medo. Mas eu vejo essa federação como um grande dique de proteção à sociedade das medidas que esse governo, que está com baixa popularidade e está caindo cada vez mais, pode vir a tomar, que possam vir prejudicar o país. Essa federação, ela não é de apoio ao governo. Mas também não vai ser contra o Brasil. Todas as medidas que forem apresentadas pelo governo que possam fazer que as pessoas sintam confiança na política econômica do governo, vão contar com nosso apoio. Mas todas as medidas que vierem, principalmente com viés de arrecadação, de criar mais tributos, aumentar a carga tributária do nosso país, criar mais problemas para o país crescer, contarão com a oposição sistemática da federação.

Ele mencionou ciclos e citou o MDB, que foi um dos pilares do presidencialismo de coalizão. A perspectiva para os próximos anos é, em grande medida, essa: ser um garante do presidencialismo de coalizão? E o que é necessário para que o próximo presidente da República tenha essa base, considerando que não está conseguindo governabilidade apenas entregando ministérios e que as emendas parlamentares também não são suficientes para assegurar uma base congressual.

Nós agora focaremos na questão de elaborar o estatuto da federação. Em seguida, devemos convocar as convenções para aprovar este estatuto e a própria federação. Após essa data, urgentemente discutiremos a participação de representantes, mesmo que não sejam membros do partido que indicou, o que gera um certo constrangimento, considerando que temos um ministro em nosso governo sem o nosso apoio. Observo que, no Progressista, 80% a 90% da nossa bancada, especialmente nossos eleitores e filiados, possuem uma postura de oposição e pouca identificação com o governo atual. Essa situação cria um constrangimento. Da mesma forma, percebo no União Brasil. Essa saída de membros do governo será discutida após as convenções. Apesar disso, não afetará a votação dos deputados, pois o Congresso se tornou mais empoderado em relação à alocação de recursos, desde a chegada do presidente Bolsonaro. Anteriormente, trocava-se cargos por apoio político, mesmo que este não tivesse relação com o eleitorado. Isso é prejudicial à democracia e à política brasileira.

O próximo presidente da República precisa consolidar o União Progressista como um grande partido no Congresso Nacional. Serão apenas emendas suficientes para a relação “azeitada” entre Executivo e Congresso? Qual o futuro dessa relação?

Não há irregularidades nesse governo porque não há identificação com essas políticas que o governo Lula quer. Aumento do Estado, o assalto às estatais, aumento da carga tributária. Isso é exatamente o oposto do que nós defendemos nas eleições. O que os nossos deputados defenderam, os nossos senadores defenderam, os nossos governadores defenderam. Isso ocorre porque as pessoas não se lembram quem era o deputado que votaram. Hoje, na hora em que o eleitor vota em uma matéria, no minuto seguinte, os seus eleitores estão ali para cobrar, apoiar ou criticar. É uma nova forma que eu acho muito mais consistente, para que as pessoas prestem contas do seu mandato, não só nas eleições, mas no dia a dia da sua atuação no Congresso Nacional. Então, como um político que tem um perfil de centro-direita vai apoiar um partido da esquerda, como o Partido dos Trabalhadores? O eleitor desse político não aceita e isso vai acontecer cada vez mais forte, graças a Deus.

O senador, em determinados estados, causou desvios. Bahia, Acre e Pernambuco são alguns exemplos desses estados. Vocês buscarão dialogar com esses parlamentares que demonstram insatisfação e ampliarão a participação de mais partidos nessa federação?

É necessário dialogar amplamente. Com uma federação de 100 deputados, chegaremos a 114 com a adesão de novos membros. Se abri-mos a janela, teremos perto de 150 deputados. Deve haver muito diáe a criação de um projeto consistente em nível estadual. Este não deve ser personalista, não devem ser projetos individuais. É preciso pensar no crescimento da federação, para que haja pessoas que possam assumir projetos, e não apenas para eleger um deputado. É fundamental que a federação tenha um projeto coletivo, do partido ou da federação.

Qual é o desenrolar dessa conversa, no caso dos deputados que ameaçam deixar seus partidos, ou a União, ou o PP?

Acredito que há pouca movimentação. No Progressista ainda não observei nenhum parlamentar demonstrando intenção de deixar. Em relação ao União, ainda não tenho certeza. Contudo, devo ser sincero, atualmente o movimento é mais de adesão à federação do que de saída. Vocês poderão comprovar quando a janela partidária for aberta.

O senhor já manifestou que seu candidato é o presidente Jair Bolsonaro. Contudo, o cenário atual é que Bolsonaro está inelegível. Assim, existem duas alternativas à direita: a primeira, liderada nos bastidores pelo ex-presidente Michel Temer, de unir os governadores de direita do país. E o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à coluna, ele já declarou que talvez sua preferência fosse por um familiar. Dentro dessas opções, qual lado o senhor se sente mais confortável em apoiar?

Agora, não falo mais como presidente do Progressista ou líder da federação, falo como pessoa física. Vou apoiar o presidente Bolsonaro até o fim. Lutarei pelo candidato que ele apoiar. Lógico que vou tentar interferir, caso ele não seja candidato, na escolha desse candidato que ele irá apoiar. E aqui nós temos diversos nomes. Defendo também que podemos aglutinar essa intenção do ex-presidente Temer e aglutinar os governadores, que eu acho que isso é fundamental para uma vitória nas urnas, como o apoio do presidente Bolsonaro. Não são opostos. Acho que há mais sintonia para convergir do que para divergir. Vamos trabalhar até o fim, porque se isso acontecer, fatalmente nos levará à vitória nas eleições de 2026.

Você prefere apoiar o candidato indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro?

Exato. Contudo, irei me dedicar intensamente para garantir uma seleção adequada.

Uma opção adequada seria um integrante da família, considerando o que ele deseja? Acolheria bem à direita o apoio de um familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro? Ou estariam juntos, mas não necessariamente como uma chapa majoritária.

Acredito que tudo é possível, considerando que no cenário político brasileiro temos dois grandes líderes. Tanto Lula, caso seja candidato ou apoie um candidato, quanto Bolsonaro, caso seja candidato ou apoie um candidato, ambos estão no segundo turno. Não há como escapar dessa situação, não é viável uma terceira via. Contudo, é necessário construir um candidato com viabilidade. Considero que um candidato com ligação ao presidente Bolsonaro possui viabilidade se apresentar um discurso mais central. Se se isolar na direita, não será eleito.

Extrema direita difícil?

Não, não vem. Tem que vir mais para o centro. Atualmente, nosso eleitorado é 30% na direita, 30% na esquerda e 40% no centro. O Lula ganhou a eleição passada, porque fez um discurso mais para o centro. Apesar de ter errado e ido para a esquerda ao ganhar a eleição. Graças a Deus que ele fez isso. Mas se nós tivermos um familiar, tem de vir com um discurso mais para o centro. Mas não eu não vejo como impossível o presidente Bolsonaro apoiar um nome de um governador. Caiado, Tarcísio, Zézá, Ratinho Júnior, Teresa Cristina (…). Qualquer desses nomes seriam altamente viáveis para ganhar a eleição se tiverem o apoio do presidente Bolsonaro.

O governador de Goiás, que já lançou sua pré-candidatura, não seria um problema?

Não, considero legítimo que o Caiado tenha exposto seu nome em grande tela. Foi, sem dúvida, um dos melhores governadores da história de Goiás. Possui um discurso forte naquele que, para mim, será o tema da próxima eleição, relacionado à questão da segurança. Ele tem tudo o que precisa para se candidatar. A viabilidade eleitoral é o que vai determinar se ele se candidatar, e eu acredito que, se tentar agregar apoio do presidente Bolsonaro, uma série de situações podem ocorrer. Isso depende muito mais do Caiado e do eleitorado.

O senhor é um político experiente, ex-ministro da Casa Civil e crítico das medidas do governo Lula, notadamente as econômicas. Conforme declarado, as pesquisas indicam uma queda na popularidade do governo. Qual, na sua visão, é o maior erro do governo Lula atualmente?

Observar constantemente o retrovisor é essencial. O governo atual demonstra uma visão desatualizada. Lula não está alinhado com o momento presente, sendo um indivíduo isolado que não soube dialogar com a sociedade. Lula não possui um celular, o que limita sua percepção da realidade. É uma pessoa sem conexão com a sociedade, incapaz de compreender o novo cenário do país. Por exemplo, hoje o primeiro emprego de muitas pessoas é trabalhar no Uber, atuando como entregadores, por exemplo. Lula pensou em quê? Em sindicar essas pessoas. Vi uma pesquisa recentemente que revela que as pessoas dizem “não, o Lula não sabe o que é que eu faço”. ele é uma pessoa completamente ultrapassada e isolada. É um homem fora do tempo. Temos um Lula analógico em um tempo digital. Isso explica o que aconteceu. Acredito que o principal problema desse governo é que ele é um governo ultrapassado, não pela idade. Ronald Reagan foi um dos maiores presidentes dos Estados Unidos, sendo o presidente mais velho da nossa história. Lula é uma pessoa completamente ultrapassada, que não tem conseguido enfrentar os novos tempos que o mundo nos apresentou, os desafios que o mundo nos impôs. E não vejo como ele se reinventa. Isso explica o declínio irreversível em sua popularidade.

Senador, o senhor está agora junto, na mesma bancada, que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e que o senador Sergio Moro. As notícias recentes dão que o presidente Alcolumbre tem conversado com o Supremo Tribunal Federal para propor um projeto alternativo de anistia e que ele pediu ajuda ao senador Sergio Moro. Seria mais ou menos o que tem se chamado de “meia anistia”. O senhor vai conversar com o presidente Davi Alcolumbre e com o senador Sergio Moro para procurar que essa anistia proposta seja aquilo que vocês, mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acreditam ser necessário?

Defendo o voto contra a anistia, pois não se deve anistiar aqueles que depredaram prédios públicos, que devem responder por seus crimes. Considerar a figura da “moça do batom” como golpista, é um absurdo. Acredito que o Supremo Tribunal Federal reconheceu seu erro ao aplicar a pena. Não se justifica que uma pessoa condenada a 14 anos de prisão esteja em casa. É preciso virar essa página da história, evitando perder tempo com discussões improdutivas. O ex-presidente Sarney já disse que o Lula deveria ter agido como Juscelino. Juscelino, ao assumir o cargo, resolveu uma crise de golpes, concedendo anistia. É fundamental olhar para o futuro, focando em questões urgentes como a violência doméstica e o desemprego. O Congresso Nacional é um símbolo da democracia, e a vontade da maioria deve ser respeitada.

Qual é o projeto de anistia? A anistia do Davi Alcolumbre ou a anistia que está na Câmara dos Deputados?

Essa especulação permanece, não é? É necessário examinar o documento. O texto apresentado é o da Câmara, que se espera seja votado.

O senhor propôs uma alternativa ao projeto de ampliação da isenção do imposto de renda. Qual é a situação atual? O senhor já conversou com o presidente da Câmara?

Apresentamos uma proposta alternativa. O relator é o deputado Arthur Lira (PP-AL), um parlamentar experiente. A proposta é uma alternativa. O primeiro ponto de união é em relação ao que foi apresentado, que é manter a isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Isso é uma grande conquista. Fizemos uma proposta alternativa porque acreditamos que os grandes bancos são quem devem pagar essa conta, que estão fazendo um lobby abusivo no Congresso para evitar que aumentemos. Quero esclarecer que a taxação se refere ao lucro dos bancos, não ao faturamento ou outras situações. É o lucro. E os lucros acima de 1 bilhão de reais são quem devem pagar essa conta. Também se busca retirar parte dessas isenções que existem no país, que são de apenas 2,5%. Isso é muito melhor do que taxar 20 milhões de microempresas e do simples no nosso país que serão afetadas pela proposta do governo. A proposta do Progressista é muito melhor para a sociedade do que a que foi apresentada pelo governo.

Quais são os principais desafios que você identifica na federação União Brasil e PP? Como superar essas barreiras desse modelo de federação?

É muito diánão é? Fazendo um projeto. Eu volto a dizer: tem que se deixar os projetos individuais e pensar em um projeto coletivo, de construir uma grande federação, que é a maior do país em todos os níveis. Temos que pensar mais no projeto para o país. Eu espero que essa federação seja uma grande bússola política para o Brasil. É um novo ciclo que se inicia em que. Eu tenho certeza que nós vamos colocar os interesses do Brasil acima dos interesses individuais.

Fonte: Metrópoles

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