Compreendendo a campanha do Governo Trump contra as universidades prestigiadas
15/04/2025 às 17h27

Desde que retornou à Casa Branca, Donald Trump colocou em risco a pesquisa universitária nos Estados Unidos através da suspensão de financiamentos e interferência na administração de algumas das mais importantes instituições acadêmicas do mundo.
Com um Congresso submissa e controlado pelo Partido Republicano, além da Suprema Corte dominada por conservadores, o presidente dos Estados Unidos não teve dificuldade em cumprir sua promessa eleitoral de recuperar as instituições educacionais americanas do que chamou de “esquerda radical”.
O governo Trump determinou recentemente suspensões financeiras centenas de milhões de dólares para diversas instituições universitárias, entre elas Harvard, Columbia, Princeton, Johns Hopkins e Universidade da Pensilvânia. A administração ameaçou ir além dessa medida caso essas instituições persistam em uma suposta “postura antissemita”. De acordo com a visão atual do governo, isso inclui qualquer ação que questione o governo de Israel, como abrigar manifestações estudantis contra a guerra na Gaza.
O governo Trump ordenou investigar aproximadamente cem instituições de ensino superior por discriminação e antissemitismo. Algumas delas conseguiram recorrer na Justiça contra sanções, mas em geral eles estão se adaptando às pressões pois não podem desistir dos recursos federais.
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De acordo com um levantamento da agência Associated Press, estas universidades receberam US$ 33 bilhões entre os anos de 2022 e 2023, o que corresponde a uma média de 13% dos seus orçamentos anuais.
Recuso da Harvard
A Universidade de Harvard foi a primeira a se recusar a cumprir as exigências do Gabinete da Casa Branca, como encerrar programas de inclusão e diversidade que, segundo o governo Trump, “alimentam o assédio antissemita”. Por isso, nesta segunda
Na carta enviada para Harvard, o governo americano exigiu reformas amplas na administração da universidade. Além disso, foi pedido a adoção de políticas de admissão e contratação “baseadas em mérito”, além da realização de uma auditoria com estudantes, professores e líderes desta instituição.
Princetona, Colúmbia e Johns Hopkins
Universidade de Princeton foi suspensa do acesso às bolsa de pesquisa no valor totalizante em US$ 210 milhões ou R$ 1,1 bilhão. Essa medida afeta centenas de projetos que recebiam financiamento federal vinculados ao Departamento de Energia, à NASA e ao Departamento de Defesa.
O reitor da instituição, Christopher Eisgruber, descreveu as ações de Trump como a maior ameaça às universidades americanas por décadas. “Estamos comprometidos em combater o antissemitismo e todas as formas de discriminação e cooperaremos com o governo nesse esforço”, disse Eisgruber numa declaração. Princeton também defenderá vigorosamente a liberdade acadêmica e os direitos ao devido processo desta universidade, afirmou ele.
Columbia foi um dos primeiros locais a ser afetado pela atual ofensiva, após os protestos pro
A Universidade Johns Hopkins, um dos principais centros de pesquisa científica do país, perdeu US$ 800 milhões em financiamento. De acordo com o governo, a instituição deveria alterar sua posição sobre os protestos no seu campus e garantir que alunos e professores respeitem as diretrizes do governo sobre antissemitismo e apoio às organizações consideradas ligadas ao Hamas. Como consequência, a universidade anunciou demissões de mais de 2 mil funcionários.
Canetas Sem Freio
As medidas do governo Trump foram comparadas às adotadas durante a Guerra do Vietnã, período em que as universidades vistas como centros de ativismo antiguerra enfrentavam cortes orçamentários federais. Professores que expressassem posições críticas ao governo, principalmente durante a presidência de Richard Nixon, corriam o risco de perder financiamento para pesquisas e até seus empregos por serem considerados antiamericanos ou comunistas.
Porém, analistas avaliam que nenhum governo utilizou tão intensivamente ordens executivas
As suas ações têm despertado críticas até de seus aliados. “Ele traçou esses amplos planos de batalha, seja contra pessoas que ele acredita terem tentado destruí
Manifestantes, inclusive alguns grupos judaicos, sustentam que o governo Trump está equacionando as críticas à campanha militar de Israel em Gaza e a defesa dos direitos palestinianos com antissemitismo e apoio ao grupo terrorista Hamas.
Essa pressão pesa não apenas sobre instituições, mas também sobre estudantes. A prisão, a perseguição e as ameaças de deportação são exemplos disso. É o caso da doutoranda turca Rumeysa Ozturk, que foi levada à força sob custódia por agentes federais em plena luz do dia próxima a sua casa no Massachusetts e teve seu visto revogado.
Um ano atrás, ela assinou um artigo editorial no jornal estudantil da Universidade Tufts, onde está matriculada, defendendo que a instituição desistisse de investir em empresas vinculadas com Israel como reconhecimento ao “genocídio palestino”. Não é claro se esse foi o motivo da detenção, pois ela não estava diretamente envolvida em protestos. O governo apoia a Ozturk no Hamas.
Outro símbolo da repressão do governo estadunidense nas universidades é Mahmoud Khalil, ativista palestino e aluno pós
“Esta é a primeira prisão entre muitas que virão”, disse Trump em sua plataforma de rede social Truth Social à época. Acusado de ser um “aluno radicial apoiador da Hamas”.
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, declarou que rescindiu mais de trezentas visas para alunos em decorrência dessa campanha governamental.
“Luta Cultural”
Entre as matérias “proibidas” pelo governo Trump continua sendo abordadas aquelas relacionadas à diversidade, meio ambiente e direitos humanos.
Um dos exemplos mais icônicos dessa perseguição que o governo chama de “guerra cultural” foi a suspensão de US$ 175 milhões para a Universidade da Pensilvânia devido às políticas esportivas em relação a atletas transgêneros.
No centro da questão está a nadadora Lia Thomas, que se tornou o primeiro indivíduo transgénero a vencer o campeonato universitário americano de natação feminina, representando sua instituição. Sua vitória gerou uma onda de discussões e críticas, principalmente entre aqueles que acreditam que atletas transexuais têm uma vantagem injusta sobre as mulheres cis gêneros em competições esportivas.
O governo Trump afirmou que a universidade não está seguindo as políticas que o governo considera essenciais para garantir “igualdade” em atletismo feminino.
Fonte: Metrópoles