Corinthians, VaideBet e PCC: como começou a investigação policial
Investigação da Polícia Civil apura parceria entre clube e casa de apostas.

A parceria entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet, que teve início como o maior contrato de patrocínio master do futebol brasileiro, resultou em uma investigação policial que aponta para suspeitas de lavagem de dinheiro e associação criminosa, além de identificar ligações com o crime organizado. O caso, que levou à rescisão do contrato milionário e gerou instabilidade política no clube, está sob investigação da Polícia Civil de São Paulo, com apoio do Ministério Público.
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A controvérsia surgiu após revelações de que a empresa Rede Social Media Design LTDA, que intermediou o acordo entre a VaideBet e o Corinthians, teria repassado parte do valor da comissão a outra organização. Essa outra empresa foi identificada como Neoway Soluções Integradas em Serviços LTDA. A sócia da Neoway, Edna Oliveira dos Santos, residente em Peruíbe, litoral de São Paulo, declarou desconhecer o caso ao ser entrevistada.
A investigação policial, liderada pelo Delegado Tiago Fernando Correia, do DPPC – responsável por casos de lavagem de dinheiro –, com o apoio do Promotor de Justiça Juliano Carvalho Atoji, do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), utilizou a quebra de sigilo bancário para rastrear a origem do dinheiro pago em comissão pelo patrocínio. Foram identificadas contas pelas quais circularam R$ 1,4 milhão.
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A facção chegou por essa rota.
O valor, que foi subtraído em duas transferências de R$ 700 mil para a Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé, foi repassado por Cassundé para a Neoway Soluções Integradas por meio de duas transferências de R$ 580 mil e R$ 462 mil.
A investigação aponta que, em março do ano passado, a Neoway transferiu aproximadamente R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas, que por sua vez realizou mais três transferências para a UJ Football Talent Intermediação, no valor de cerca de R$ 870 mil.
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A UJ Football Intermediação foi identificada pela polícia como ligada ao crime organizado. O delator do PCC, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, alegou que a empresa era informalmente controlada por Danilo Lima, apelidado de “Tripa”, suspeito de integrar o Primeiro Comando da Capital. Gritzbach faleceu em novembro de 2024, durante uma operação no Aeroporto de Congonhas, em Guarulhos.
Investigações
Além de Alex Cassundé, que está sendo investigado, diretores de Augusto Melo também foram ouvidos pela polícia como suspeitos. O presidente Augusto Melo, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e o ex-superintendente de Marketing Sérgio Moura estão nessa lista. Marcelo Mariano foi o primeiro a prestar depoimento, em 14 de abril, seguido por Sérgio Moura, cujo relato se diferenciou do depoimento do ex-diretor administrativo. Augusto Melo compareceu para depor em 16 de abril.
A Polícia Civil observou que os depoimentos dos três investigados apresentaram divergências, sobretudo em relação à apresentação de Alex Cassundé, considerado o intermediário da negociação. Nenhuma das quatro testemunhos da Polícia Civil trouxe evidências sobre o relacionamento entre eles para concretizar o negócio.
A Polícia Civil acredita que o caso está próximo de ser concluído, com previsão de apresentação até meados de maio. Se a polícia identificar indícios de crime, os indivíduos serão encaminhados ao Ministério Público.
A decisão final sobre apresentar denúncia ou arquivar o inquérito policial caberá ao Promotor de Justiça. Há a possibilidade de os crimes enquadrados se tratarem de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Posições dos participantes
Diante das suspeitas, a VaideBet rescindiu o contrato em 7 de junho, após cinco meses de parceria. A empresa justificou a rescisão citando a suspeita de “laranja” no acordo e a violação de uma cláusula anticorrupção presente no contrato. A VaideBet afirmou que a falta de resolução e a simples “dúvida” ética sobre o acordo foram suficientes para determinar o fim da parceria. O contrato previa pagamentos mensais e um valor total de R$ 370 milhões em 3 anos, sendo o maior patrocínio master do futebol brasileiro.
O Corinthians reiterou seu compromisso contra práticas ilegais, informando que colabora com as autoridades nas investigações envolvendo terceiros, notificou a intermediária, contratou uma empresa para apuração autônoma e realiza apuração pelo Conselho Deliberativo. O clube assegura não ter envolvimento com os repasses financeiros a terceiros.
O caso VaideBet também foi um dos principais fatores que levaram ao pedido de destituição de Augusto Melo no Corinthians. A votação de admissibilidade do processo de impeachment foi aprovada, porém suspensa, com previsão de análise e defesa para 26 de maio.
A defesa de Cassunde ainda não se manifestou à CNN. O espaço permanece aberto.
Fonte: CNN Brasil