Crianças aguardam cirurgias por causa de irregularidades na administração de anestesia no Distrito Federal

No Hospital da Criança de Brasília, a situação mais grave envolve a concentração de mais de mil cirurgias agendadas.

24/04/2025 3h57

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(Imagem de reprodução da internet).

A demora por cirurgias pediátricas no Distrito Federal, já intensificada pela pandemia, poderá ter sido ainda mais afetada pelo domínio da Cooperativa de Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). Apurações da Polícia Civil revelam que a atuação da cooperativa se estende além do setor privado, gerando um bloqueio sistêmico também na rede pública de saúde.

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A situação mais grave se verifica no Hospital da Criança de Brasília, onde acumularam-se mais de mil cirurgias devido à escassez de anestesistas. Testemunhos da investigação indicam que a Coopanest estabeleceu condições financeiras insustentáveis para a contratação dos serviços pelo hospital. As tentativas de contratação por meio de editais públicos não obtiveram sucesso, e a instituição não conseguiu formar uma equipe mínima para atender à demanda reprimida.

O ex-presidente do Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (ICIPE), administrador do Hospital da Criança, informou que nenhuma empresa participou dos processos seletivos, mesmo após reuniões com a cooperativa. A razão, segundo ele, era que a Coopanest desaconselhava qualquer acordo que não estivesse alinhado com sua própria tabela de preços, que eram até sete vezes superiores aos valores do mercado nacional.

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A situação do Hospital da Criança não é isolada. A própria Secretaria de Saúde do DF enfrentou dificuldades semelhantes para contratar anestesistas para a rede pública. Um levantamento citado na investigação aponta que pelo menos 1.333 cirurgias gerais – 500 delas pediátricas – deixaram de ser realizadas por inviabilidade contratual diante dos valores exigidos pela cooperativa.

A investigação aponta táticas de intimidação contra médicos que questionam o domínio da entidade, além da pressão econômica. Profissionais que atendiam em um hospital particular – outro ponto de conflito com a Coopanest – foram alvo de denúncias anônimas no Hospital da Criança, onde também atuavam. As acusações incluíam relatos falsos de manipulação de escala e abandono de plantões, visando desqualificar a atuação desses médicos em diversas instituições.

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E-mails direcionados a colegas continham ameaças sutis, avisos sobre potenciais danos à carreira e até mesmo intimidações relacionadas a familiares. Uma das profissionais relatou que uma colega recebeu a informação de que seu filho, recém-formado em medicina, não conseguiria encontrar emprego em Brasília se ela persistisse em deixar a cooperativa.

A Operação Toque de Midaz, iniciada em abril pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF, confirmou as suspeitas: a Coopanest-DF é investigada por liderar um cartel com estrutura estável, responsável por monopolizar o mercado de anestesias no DF.

A operação investigou práticas como ameaças, coerção, perseguição profissional, formação de cartel e lavagem de dinheiro. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra anestesiologistas e gestores da cooperativa.

A operação se refere ao valor associado ao grupo, representado por “Toque de Midas”, e ao Midazolam – medicamento empregado em anestesias – em referência ao setor envolvido no esquema.

A Coopanest-DF nega irregularidades, afirmando operar há mais de 40 anos com princípios éticos. A defesa ressalta que os serviços prestados são legítimos e que a cooperativa colabora com os hospitais e profissionais do Distrito Federal.

Fonte: Metrópoles

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