A Operação Toque de Midaz, que investiga práticas anticompetitivas na anestesiologia do Distrito Federal, revela um esquema de intimidação que vai além de ameaças diretas e boicotes: o emprego de denúncias anônimas para assédio a profissionais que desafiaram o monopólio da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas (Coopanest-DF).
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Médicos que atuaram em hospitais distintos do plano cooperativo enfrentaram denúncias direcionadas a órgãos públicos e empregadores, visando prejudicar suas trajetórias profissionais. Os relatos, em sua maioria sem fundamento, questionavam a conduta ética e profissional dos anestesistas, levantando irregularidades inexistentes.
A estratégia, segundo o inquérito, visava os profissionais que passaram a trabalhar em um hospital após romperem laços com o grupo associado à cooperativa. As denúncias anônimas, provenientes de canais internos de hospitais e órgãos públicos, imputavam aos médicos abandono de função e manipulação de escalas em benefício próprio.
Além dos prejuízos diretos à reputação dos profissionais, o uso contínuo dessas denúncias provocou transtornos emocionais, esgotamento profissional e o estabelecimento de investigações internas, mesmo que, em muitos casos, as acusações não tivessem comprovação.
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A prática não se restringiu aos médicos diretamente envolvidos. Parentes de anestesistas também foram alvo de pressões sutis. Em um dos casos reportados, familiares de um profissional receberam mensagens indicando que futuras oportunidades de emprego poderiam ser prejudicadas caso a ligação com o hospital discordante persistisse.
As investigações apontam que a tática se enquadrava em um conjunto de ações visando isolar e intimidar médicos que não aderissem às diretrizes do grupo dominante. Além das denúncias, foram identificadas ameaças de descredenciamento, exclusão da cooperativa e bloqueio de oportunidades profissionais em hospitais privados.
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A investigação também aponta que o clima de medo gerado por essa rede de intimidação prejudicou a atuação dos anestesistas no Distrito Federal e aumentou as dificuldades para aqueles que buscavam atuar de forma independente.
A Operação Toque de Midaz, conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Distrito Federal, investiga suspeitas de crimes como formação de cartel, organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro. Foram executados mandados de busca e apreensão contra gestores da cooperativa e médicos suspeitos de fazerem parte do esquema de coerção.
A operação recebeu o nome do rei Midas, da mitologia grega, que simboliza a ambição excessiva, e do medicamento midazolam, utilizado em procedimentos anestésicos.
Fonte: Metrópoles