A reportagem revelou a identidade de 12 suspeitos envolvidos em um esquema de corrupção, que incluía abuso de poder, ameaças e exploração. O cartel de anestesia, coordenado pela Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF), atuou na capital do país por décadas e é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
As investigações apontam para o uso abusivo do poder econômico pela Coopanest-DF, por meio de seus diretores, que exerceram domínio de mercado e eliminaram a concorrência de anestesistas que não faziam parte da cooperativa, através da atuação coordenada de anestesistas e grupos cooperados. Essa prática pode configurar crime de cartel.
Conheça os nomes de alguns dos investigados:
Grupo organizado.
A apuração da PCDF indica que o esquema é conduzido por meio de grupos distintos de anestesistas, associados à Coopanest, que controlam o setor de procedimentos anestésicos em quase todas as unidades hospitalares do Distrito Federal.
Os documentos indicam que em cada hospital existe um núcleo responsável por definir as demissões e contratações, sem grande atenção aos critérios éticos. Testemunhos apontam que médicos de fora têm dificuldade em serem admitidos, a menos que recebam aprovação da cooperativa e do grupo local, seguindo rigorosamente as normas estabelecidas.
LEIA TAMBÉM!
Médicos autônomos e anestesistas iniciantes no Distrito Federal também são impedidos de exercer a profissão pelo tribunal do cartel. Os especialistas só conseguem atuar na rede privada se forem integrados a um grupo já estabelecido, filiado à Coopanest-DF.
A estrutura hierárquica da cooperativa também foi objeto de análise. Médicos que não compõem a sociedade majoritária dos grupos são informalmente chamados de “bagres” e assumem os plantões mais intensos — noturnos, aos fins de semana e com procedimentos de maior risco — recebendo valores fixos por hora trabalhada. Já os lucros efetivos são concentrados nas mãos dos sócios, que organizam as escalas e controlam os contratos.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A investigação também demonstrou que a abrangência do domínio da Coopanest-DF se estende ao setor público. Hospitais, incluindo o da Criança de Brasília, e a Secretaria de Saúde do DF, enfrentaram dificuldades na contratação de anestesistas em razão dos altos valores cobrados pela cooperativa. Um estudo citado aponta que mais de 1.300 cirurgias gerais, com 500 pediátricas, foram canceladas por inviabilidade financeira.
Na mira da polícia.
Essas práticas estão sob a Operação Toque de Midaz, iniciada em abril pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF. A ação executou mandados de busca e apreensão contra anestesiologistas e gestores da cooperativa suspeitos de coordenar um esquema criminoso com características de cartel, formação de organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.
A operação recebeu o nome em referência ao rei Midas, símbolo da ganância, e ao Midazolam, sedativo amplamente utilizado em anestesias, uma referência direta ao setor envolvido no esquema.
A Coopanest-DF negou veementemente qualquer irregularidade, afirmando que “não houve e não há cartel” ou ilegalidade em sua atuação. A cooperativa também declarou manter compromisso ético com seus cooperados há mais de 40 anos.
A coluna não encontrou a defesa dos envolvidos. O espaço permanece aberto para manifestação.
Fonte: Metrópoles