Depois do apagão em São Paulo, o presidente da Enel renuncia ao cargo na empresa
23/11/2023 às 17h38
O presidente da Enel, Nicola Cotugno, está deixando o cargo na empresa. Ele liderava a divisão nacional desde 2018. A notícia foi divulgada pela CNN Brasil hoje (23) e confirmada pela Folha.
Essa mudança ocorre 20 dias após um forte temporal que deixou 2,1 milhões de clientes sem energia em 24 cidades da região metropolitana de São Paulo, alguns por até uma semana. Diante desses problemas, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chegou a solicitar o cancelamento do contrato com a Enel.
Em uma entrevista à Folha após o incidente, Cotugno respondeu às críticas sobre a demora da empresa em restabelecer a energia, argumentando que o evento foi extraordinário.
“Não estamos nos desculpando. O vento foi extremo”, afirmou. Ele explicou que a resposta à emergência foi dificultada pela grande quantidade de árvores caídas, o que obrigou a empresa a substituir postes e reconstruir extensas redes.
Após a interrupção de energia no feriado de Finados, São Paulo enfrentou novamente falta de energia em 15 de novembro, afetando cerca de 290 mil residências. Nessa ocasião, Cotugno esclareceu comentários anteriores sobre o apagão em São Paulo, afirmou que foi mal interpretado e pediu desculpas.
Leia também:
Procon Goiás Alerta Consumidores: Evite Fraudes na Compra de Azeite de Oliva
A data limite para pedir uma seção acessível para as eleições de 2024 é em julho
O TRE-RJ planeja registrar a biometria de 4,3 milhões de eleitores em 100 dias
“Não era a mensagem que eu queria passar. Eu, pessoalmente, e a empresa, fortemente, pedimos desculpas. Não usando vento, árvores como desculpas”, disse Cotugno.
Na semana passada, Cotugno foi convidado a participar de um debate na Comissão de Minas e Energia na quarta-feira (22) para discutir a interrupção no fornecimento de energia em São Paulo. No entanto, alegou outros compromissos e não compareceu. O convite foi feito em 11 de novembro.
Em comunicado, a concessionária afirmou que o executivo trabalhou por cinco anos na empresa e alega que a decisão de sua saída foi tomada em reuniões do conselho em outubro, antes dos problemas de falta de luz na cidade.
“Para apoiar o processo de substituição e enfrentar as recentes contingências, o executivo adiou sua saída para 22 de novembro”, disse a empresa em comunicado. O novo presidente será Antonio Scala. Enquanto os trâmites administrativos necessários para sua nomeação são realizados, o presidente do Conselho de Administração, Guilherme Gomes Lencastre, assumirá interinamente.
“A Enel Brasil agradece a Nicola Cotugno por sua dedicação ao Grupo e seus colaboradores, além do notável foco nos clientes e contribuições à sociedade”, conclui a concessionária.
O novo presidente, Scala, ingressou na Enel em 2009, tendo trabalhado em várias áreas, inicialmente na Itália e posteriormente no Brasil. Graduado em Administração de Empresas em 2002 em Roma, Scala atuou como sócio júnior na McKinsey & Company, concentrando-se nas áreas de energia, gás e finanças corporativas.
Quando questionado sobre a mudança, o prefeito Ricardo Nunes não associou a saída de Nicola Cotugno aos apagões causados pelas chuvas no início de novembro.
“O evento aconteceu no dia 3 de novembro, no dia 4 eu estava na Enel e, naquele momento, o Nicola já me falou: ‘Ricardo estou saindo e quero apresentar o novo presidente. [Ele disse] estou saindo porque estou indo para o setor privado, e não tem nenhuma relação com o evento do dia 3. Já estava decidido, tinha até o substituto”, afirmou Nunes.
A empresa registrou um aumento no lucro, ao mesmo tempo em que reduziu o número de funcionários
Como reportado pela Folha, a empresa italiana Enel assumiu a concessão da distribuição de eletricidade na região metropolitana de São Paulo em 2018. Desde 2019, ano completo de operações, o lucro da empresa duplicou, enquanto o número de colaboradores foi reduzido em 35%.
No Brasil, a Enel ocupa a posição de liderança no ranking das maiores distribuidoras de energia, com concessões em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
Apesar da liderança no setor de distribuição de eletricidade no país, a Enel não tem desempenho positivo no ranking de qualidade do atendimento elaborado anualmente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Em 2022, a Enel São Paulo ficou na 19ª posição entre as 29 distribuidoras de energia com mais de 400 mil consumidores no país. Tanto a Enel Rio de Janeiro quanto a Enel Ceará compartilharam a 23ª posição com a Cemig.
Apesar disso, a distribuidora paulista tem apresentado melhorias nos indicadores de frequência e duração de interrupções desde 2019. A empresa destacou, em nota, que investiu R$ 6,7 bilhões entre 2018 e 2022, a maior cifra na história da empresa.
A média de investimentos, ultrapassando R$ 1,3 bilhão por ano, é significativamente superior aos cerca de R$ 800 mil investidos anualmente nos cinco anos anteriores à aquisição da distribuidora, conforme afirmou a empresa.
Cotugno deixa a concessionária em meio a duas CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), uma na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e outra na Câmara Municipal da capital.
A CPI da Alesp foi iniciada em maio deste ano e, em 16 de novembro, Cotugno prestou depoimento. Ele pediu desculpas e alegou que suas declarações à Folha foram mal interpretadas. Além disso, tentou esclarecer a redução no número de funcionários desde que assumiu a concessão da distribuição de eletricidade na região metropolitana de São Paulo em 2018.
“O volume da força de trabalho [nas ruas] não se reduziu, houve um equilíbrio entre interno e externo. Não é uma força de trabalho menor. No mesmo período, a gente investiu em tecnologia para obter resultado melhor”, afirmou o então presidente da empresa no dia.
Durante o depoimento de Cotugno, a Alesp enfrentou pelo menos duas quedas de energia, cada uma com duração de poucos segundos.
Além das CPIs, a empresa está enfrentando processos judiciais. Em 10 de novembro, a juíza Laís Helena Bresser Lang, da 2ª Vara da Fazenda Pública, atendeu a um pedido da prefeitura e ordenou que a Enel apresentasse, em cinco dias, um plano de contingência para o fornecimento de energia elétrica na capital, juntamente com medidas para evitar problemas em dias chuvosos.