Descubra como a Ciência Psicodélica molda o futuro dos psicodélicos nos Estados Unidos

O maior evento global focado no uso terapêutico de substâncias como MDMA, psilocibina, LSD e cetamina ocorre em Denver. Leia no Poder360.

18/06/2025 6h13

4 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

Em Denver, no Colorado (EUA), realiza-se a 4ª edição da Conferência de Ciência Psicodélica, o maior evento global dedicado ao uso terapêutico de substâncias como MDMA, psilocibina, LSD e cetamina. O Poder360 oferecerá a cobertura exclusiva da edição de 2025 para o público brasileiro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A Maps (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies), que organiza o evento, reúne cientistas, investidores, terapeutas, empreendedores e ativistas para debater o futuro e os desafios de um mercado que pode revolucionar a saúde mental, embora ainda careça de consenso político e validação regulatória, conforme o que muitos pacientes que utilizam essas substâncias esperam.

Desde a sua 1ª edição em 1993, a conferência tornou-se uma plataforma para o ressurgimento psicodélico. A edição de 2023, realizada em Denver, reuniu mais de 12.000 participantes e foi caracterizada pelo interesse em torno da legalização da psilocibina no Colorado e pela previsão de que o MDMA seria aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) já em 2024. Dois anos depois, a situação evoluiu: o Colorado manteve seu modelo estadual, mas a FDA recusou o pedido de registro do MDMA em 2024, devido a problemas metodológicos nos estudos.

LEIA TAMBÉM:

É nesse contexto que a edição de 2025 é realizada.

A conferência se consolida como um polo de legitimidade para uma nova economia psicodélica, que combina startups de biotecnologia, capital de risco, cultura de bem-estar e discussões éticas sobre ancestralidade, espiritualidade e saúde pública. A programação do evento, com mais de 500 palestras, painéis e workshops, reflete essa diversidade: abrangem desde estudos clínicos com psilocibina para depressão resistente até oficinas sobre “terapia de casal com MDMA”, xamanismo urbano e parentalidade psicodélica – uma proposta lançada pelo brasileiro Glauber Loures, que em 2024 inaugurou a iniciativa PPC (Psychedelic Parenthood).

Na área científica, os debates são conduzidos por universidades renomadas, como Johns Hopkins, Yale e UCSF. Investigadores apresentam dados de longo prazo sobre a segurança, eficácia e riscos do uso terapêutico de substâncias psicodélicas. Contudo, o avanço tecnológico enfrenta um obstáculo regulatório concreto: a FDA ainda não aprovou nenhuma droga psicodélica como tratamento padrão. A rejeição do MDMA, que representou um choque para o setor, evidenciou críticas sobre a condução dos ensaios clínicos, a relação entre pesquisadores e financiadores, e a viabilidade de incorporar experiências subjetivas no modelo biomédico tradicional.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No âmbito econômico, a previsão de um “boom psicodélico” continuou, mesmo com desaceleração. Empresas como Compass Pathways, MindMed e Lykos Therapeutics ainda recebem investimentos e investem em terapias assistidas por substâncias – combinando fármacos sintéticos com sessões de psicoterapia supervisionada. Alguns denominam isso de “medicina mental 2.0”, porém os críticos alertam para o risco de medicalização excessiva e exclusão social: os tratamentos são caros e, até o momento, estão restritos a clínicas privadas, sem cobertura pública.

A Psychedelic Science 2025 expande o debate sobre acesso, equidade e reparação histórica. Organizações indígenas e coletivos afro-americanos buscam maior protagonismo nas decisões éticas e legais relativas ao uso de substâncias, muitas das quais têm raízes em tradições medicinais e espirituais milenares. O evento contará, pela primeira vez, com um espaço dedicado a representantes de povos originários para apresentarem suas perspectivas e protocolos, ainda que persistam críticas sobre a forma como o setor lida com apropriação cultural e desigualdade racial.

O Colorado, onde a conferência é realizada, é atualmente um laboratório vivo dessa transição. Desde 2023, o estado permite o uso supervisionado de psilocibina em centros de cura licenciados. Em 2025, os primeiros atendimentos começaram a ocorrer – com sessões que incluem preparo psicológico, ingestão da substância sob supervisão e acompanhamento posterior. Apesar o modelo não ser médico nem recreativo, ele está sendo observado com atenção por outros estados e até por agências federais.

O experimento também apresenta desafios. O custo das sessões com psilocibina varia de US$ 3.000 a US$ 5.000, o que limita o acesso a uma parcela da população. Não há cobertura por planos de saúde, e muitos dos facilitadores ainda estão em processo de certificação. Além disso, há incerteza sobre como monitorar os efeitos a longo prazo e se será possível incorporar essas experiências em um sistema de saúde pública mais amplo.

A Psychedelic Science 2025 deve, funcionar mais como um ponto de equilíbrio, e não apenas como uma celebração. O entusiasmo inicial cedeu lugar a uma postura mais ponderada, embora ainda esperançosa. O evento de 2025 busca demonstrar que o futuro das substâncias psicodélicas envolve mais do que aprovação científica ou viabilidade comercial: necessita de debate público, ética aplicada e regulamentação adequada.

Como jornalista que acompanha o tema desde o início da efervescência psicodélica nos EUA, chama a atenção para a rapidez com que a discussão sobre “cura” se transformou em um produto. É evidente que estamos diante de uma mudança cultural em curso. Para o bem ou para o mal, a era psicodélica não é mais contracultura. Está na pauta de congressos, item de orçamento e proposta de política pública.

Se a ciência psicodélica alcançará suas promessas – ou será engolida pelo cinismo do mercado e pela lentidão da política – ainda é uma questão em aberto. Contudo, em Denver, esta semana, ela está sendo discutida em alto e bom som, por milhares de pessoas, em diversas línguas, com diferentes propósitos. O futuro pode não estar determinado, mas certamente está, sem dúvida, em debate.

Fonte por: Poder 360

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.