Diário do correspondente: as ruas milenares de Damasco

A capital síria apresentou-se como um local mais tranquilo em relação a outras capitais que já explorei em minhas viagens como correspondente.

11/06/2025 22h38

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A large Syrian flag flutters above Tishreen Park in Damascus on June 4, 2025. Syria's interim President Ahmed al-Sharaa has in six months established himself internationally and had crippling sanctions removed, but still needs to rebuild national institutions, revive the economy and unite the fractured country. (Photo by LOUAI BESHARA / AFP)

Apenas algumas cidades no mundo, principalmente em nosso continente, conseguem contemplar milênios. A história registrada na América do Sul é tão recente que não abrange nem um décimo dos anos de algumas cidades do Oriente Médio. Damasco é considerada por muitos historiadores a mais antiga capital continuamente habitada do mundo e, justamente por isso, suas ruas estreitas e fundações de pedra preservam vestígios de múltiplos impérios.

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Explorar uma cidade com mais de 5 mil anos de história significa confrontar suas diversas influências em cada bairro e em cada camada de solo que testemunhou o surgimento ou o declínio de inúmeras civilizações. A capital síria se revelou um local mais sereno no mundo árabe, em comparação com outras capitais que já explorei como correspondente. A concha de Bagdá, os ruídos constantes do Cairo ou a grande tensão no ambiente de Jerusalém não estavam presentes nas ruas de Damasco. Os sons eram cotidianos, porém carregados de tranquilidade.

Durante a recente guerra civil, Damasco sediou muitos dos protestos iniciais contra a ditadura de Assad, mas sua área central não sofreu tantos danos ou destruição quanto cidades como Aleppo ou Palmira, igualmente milenares. A população damascena vivenciou os dramas da guerra por meio de outras experiências. A escassez contínua de energia e água, o desemprego em massa e a desvalorização frequente do livremente flutuante lira síria. Ao conversar com os moradores, nos meus primeiros dias no país, pude perceber que, mesmo sendo pouco atingidos pelos bombardeios, cada um carregava uma história da guerra proveniente de diversas regiões da Síria, que de alguma forma se conectavam nos mercados de Damasco.

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A Grande Mesquita do Omayade, construída sobre as ruínas de uma basílica no século VII, após a invasão islâmica do Levante, também reflete a essência de Damasco. Diferentemente das estruturas circulares, com cúpulas elevadas e ornamentos luxuosos, a quarta mesquita mais relevante para os sunitas é mais rica no exterior, com um átrio central vasto em mármore, onde os comerciantes das caravanas se reúnem há séculos. O sorriso genuíno dos sírios ao perceberem que o país voltava a receber visitantes estrangeiros, incluindo da América Latina, revelava o semblante esperançoso de um povo que agora vislumbrava uma realidade um pouco mais promissora.

Aproximadamente 1 km da mesquita, encontramos o bairro cristão, onde o apóstolo Paulo transitou no século I, durante a consolidação da perseguição ao cristianismo primitivo. As igrejas armênias, siríacas católicas, siríacas ortodoxas, grego-ortodoxas e romanas católicas, apenas complementam a diversidade religiosa que historicamente compunha o Levante, que se sentiu ameaçada em sua base, com o terror jihadista do Estado Islâmico há menos de uma década. A cada rua e cena observada, uma nova dimensão da Síria era revelada.

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Visitar capitais frequentemente significa conhecer a realidade idealizada de uma nação, pois no coração do poder político as comodidades oferecidas a aquela população tendem a ser superiores às dos demais centros urbanos e áreas rurais do país. No caso sírio, Damasco foi uma bela vitrine de uma vida plural. Um pequeno frasco que traz as imperfeições de traumas históricos, mas os aromas da diversidade cultural apenas encontrada por ali de forma tão genuína.

Fonte por: Jovem Pan

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