O artigo foi escrito pela cardiologista Silvia Ayub, doutora em emergências clínicas do Hospital Sírio-Libanês, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Você alguma vez considerou que a soma das doenças que mais matam no mundo é resultado de hábitos inadequados? Sim, é verdade. A maioria das doenças que mais causam mortes poderia ser evitada com alterações no estilo de vida.
O que você faria se soubesse que é possível evitar fatores de risco para doenças cardíacas adquiridas, como a insuficiência cardíaca, uma das principais causas de morte? Entre os principais agressores do coração estão o estresse, o tabagismo, o sedentarismo, a alimentação não saudável, a obesidade ou sobrepeso e o excesso de consumo de bebida alcoólica.
LEIA TAMBÉM!
Os desafios da insuficiência cardíaca.
A insuficiência cardíaca se caracteriza pela perda da capacidade do coração de bombear sangue de maneira eficaz para todo o corpo. Existem estágios de gravidade que variam de A até D, abrangendo pacientes em risco de desenvolver IC a pacientes com IC avançada que necessitam de terapias especiais. As opções de tratamento se tornam limitadas, principalmente em casos avançados, e a espera por um transplante cardíaco se torna uma alternativa.
Estudos recentes apontam uma nova alternativa para pacientes com insuficiência cardíaca grave. Um estudo conduzido pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês acompanhou, ao longo de dois anos, a evolução clínica de 20 pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca grave que receberam a implantação do Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda (DAVE) em vez do transplante cardíaco.
Os resultados, divulgados no periódico JHLT Open, demonstraram ser notáveis, com 90% dos pacientes sobrevindos após o implante e 80% permanecendo vivos nos dois anos subsequentes. Essas taxas são equivalentes às registradas nos centros de tratamento internacionais de maior destaque, evidenciando a eficácia do DAVE como uma alternativa adequada para pacientes em estado crítico.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O estudo realizado pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês, coordenado pelo cardiologista Roberto Kalil e um dos mais avançados do mundo, possui grande relevância. Os resultados comprovam a eficácia da opção terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Demonstrou também a eficiência de um modelo de gestão inovador adotado pelo Centro de Cardiologia para assegurar o acesso às tecnologias de ponta em áreas distantes dos grandes centros.
Como o aparelho opera
O aparelho mecânico foi projetado para auxiliar o coração a funcionar de forma mais eficiente. Ele é indicado para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, que não respondem a tratamentos tradicionais. Desenvolvido por empresas dos Estados Unidos e da Alemanha, o equipamento age como uma “bomba temporária” de fluidos, otimizando a circulação sanguínea e assegurando que órgãos essenciais recebam a oxigenação necessária.
Ele opera de maneira simples. Após a implantação, conecta-se ao ventrículo esquerdo do coração, removendo o sangue e bombeando-o para a aorta, que distribui o sangue para o corpo. Esse processo reduz a carga do coração, otimizando sua eficiência e a qualidade de vida.
Outro benefício relevante foi evidenciado no estudo. No curso do acompanhamento, 85% dos participantes retomaram atividades diárias, incluindo trabalho e exercícios físicos leves. Esses resultados indicam que o DAVE aumenta a longevidade em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, além de auxiliar na recuperação da autonomia e da qualidade de vida.
Como aumentar o acesso?
A implementação do DAVE, apesar de ser revolucionária, ainda enfrenta limitações devido ao seu elevado custo. Diante do cenário de desigualdade no acesso à saúde no país, a situação se torna ainda mais crítica quando se necessitam tecnologias médicas avançadas.
O financiamento do programa por meio de doações e incentivos fiscais possibilita que pacientes que não podem arcar com os custos elevados desse tratamento tenham acesso à tecnologia inovadora. iniciativas como o Coração Novo democratizam o acesso a cuidados de saúde de qualidade.
O estudo também buscou validar o modelo hub-and-spoke de gestão do serviço de cuidados, no qual as cirurgias para implantação do DAVE são realizadas em um centro especializado de referência nacional e o acompanhamento é feito em hospitais regionais, proporcionando todo o acompanhamento pós-operatório. O Sírio-Libanês é o único centro no Brasil a oferecer esse tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), atendendo pacientes de diversas regiões do país.
O modelo Hub and Spoke é uma estratégia amplamente empregada em setores como logística, saúde, tecnologia e políticas públicas. Sua estrutura compreende um “hub” (núcleo central) responsável por gerenciar e distribuir recursos, informações ou serviços para diversas unidades descentralizadas, denominadas “spokes” (ramificações ou satélites). Essa configuração facilita a organização, otimiza processos e aprimora a eficiência operacional, assegurando que os “spokes” operem de maneira integrada ao centro.
O modelo de cuidado colaborativo simplifica o acesso ao tratamento, assegurando que o acompanhamento pós-cirúrgico seja realizado mais próximo da residência dos pacientes, diminuindo a necessidade de deslocamento para São Paulo. Isso otimiza o gerenciamento do paciente, promovendo uma gestão mais ágil e eficiente dos recursos de saúde. O processo beneficia pacientes, o sistema e os profissionais de saúde, que também recebem capacitação especializada.
Apesar dos resultados do estudo serem promissores, ainda há desafios a serem superados. A educação da população sobre os sintomas da insuficiência cardíaca e o acesso ao diagnóstico e opções de tratamento são cruciais para que mais pacientes se beneficiem de tecnologias como o DAVE.
Ademais, o sucesso e a crescente aceitação do modelo hub-and-spoke podem possibilitar a implementação de outras tecnologias avançadas no sistema de saúde brasileiro.
O estudo realizado pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês, um dos mais avançados do mundo, é relevante devido à eficácia da opção terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca avançada e pelo modelo de gestão inovador, possibilitado pelo programa Coração Novo, que facilita o acesso a tecnologias de ponta em regiões distantes dos grandes centros.
Acompanhe a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e no Canal do Whatsapp e esteja sempre informado sobre as novidades do setor!
Fonte: Metrópoles