Do informalismo ao destaque: a ascensão do poder por meio de disputas

Com o início nos Jogos Africanos, o braço de ferro passa de atividade recreativa para esporte profissional no continente, com Gana à frente desse movimento.

13/05/2025 4h03

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(Imagem de reprodução da internet).

É irônico que seja difícil determinar as origens do braço de ferro, considerando que é uma competição instantaneamente reconhecível que resolveu inúmeras disputas.

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A cidade canadense de Wetaskiwin, palco da primeira edição do Campeonato Mundial da World Armwrestling Federation (WAF) em 1979, poderia ser considerada o berço do esporte, embora relatos de confrontos de braços entre competidores datem de períodos anteriores.

As versões do braço de ferro já haviam se consolidado no Japão, Espanha e Cuba antes do século XX, segundo antropós da época. Alguns até sustentam que são retratados nos hieróglifos do antigo Egito, embora tais alegações sejam questionadas.

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Em março último, o esporte teve sua primeira apresentação nos 13º Jogos Africanos em Accra, Gana, uma estreia organizada pelo presidente da Federação Africana de Braço de Ferro (AFA), Charles Osei Asibey.

Essa medida representa o mais recente passo de Asibey para honrar sua promessa de campanha de 2022: transformar o confronto direto em uma prática comum em todo o continente.

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“Anteriormente, na África, era apenas uma maneira de determinar o mais forte da comunidade, ou mesmo nas escolas”, disse Asibey à CNN. “As pessoas não consideravam o braço de ferro como um esporte. Era apenas um jogo comum. Nós o transformamos em um esporte.”

O termo técnico para um competidor de braço de ferro é “puller” e se refere à técnica, não à força bruta, que faz um campeão, enfatiza Asibey, com programas de treinamento focados no desenvolvimento de todos os aspectos do corpo.

Um atleta de baixo peso que seja mais ágil, rápido e com boa capacidade de rotação, vencerá um atleta mais pesado, explicou Asibey, que competiu até o ano passado.

Aquele embate não ocorreria no âmbito competitivo, com os competidores classificados por sexo e peso, como no boxe e nas artes marciais mistas. E, assim como o boxe apresenta diversas posturas ortodoxas e southpaw, o braço de ferro possui estilos de luta que se adequam às forças individuais do atleta.

Categorias

O estilo toproll, por exemplo, faz os competidores rodarem o pulso para dentro (pronúncia), e frequentemente se inclinarem para trás, para aumentar a alavancagem, enquanto a técnica hook envolve a rotação externa do pulso (supinação) para criar uma forma de gancho com o braço e puxar o oponente.

Atletas com maior estatura e braços alongados tendem a ser naturalmente toprollers, enquanto o estilo hook se mostra muito eficaz para indivíduos com experiência em powerlifting, supino ou modalidades similares que enfatizam a força do tríceps.

Durante as competições, os rostos dos atletas são um retrato visceral de concentração férrea, esforço que tensiona os tendões e competição feroz, mas é o respeito mútuo que define o esporte para Asibey. “Mesmo na derrota, você parabeniza seu oponente”, disse ele. “Você chega à mesa, aperta as mãos… sai da mesa, aperta as mãos e abraça um ao outro.”

Braços de ouro

A participação no braço de ferro nos Jogos Africanos do ano passado representou um retorno para Asibey, que, como ex-jornalista de radiodifusão nascido em Acra, havia fundado a Federação Ganesa de Braço de Ferro em 2016.

Os anfitriões obtiveram 41 das 84 medalhas totais do torneio, posicionando-se à frente dos 19 medalhas do Egito. Contudo, o Egito conquistou seis medalhas de ouro a mais que o Gana, garantindo a primeira posição no quadro de medalhas.

Dois atletas específicos adotaram o apelido “Braços de Ouro” da equipe, sendo responsáveis por metade das oito medalhas de ouro de Gana, incluindo elas. O capitão masculino Edward Asamoah obteve a vitória na categoria de 90kg tanto com o braço esquerdo quanto com o direito.

Membro do Serviço de Imigração de Gana, Asamoah tentou a sorte em uma competição nacional, iniciando uma aventura turbulenta. “A jornada não foi muito tranquila, com lesões e financiamento, mas valeu a pena”, disse ele à CNN. “Determinação e trabalho duro me trouxeram essas medalhas.”

Grace Minta alcançou uma ascensão rápida após receber duas medalhas de ouro em Acra, tornando-se a primeira ganesa a obter o ouro no Campeonato Mundial de Braço de Ferro, na Moldávia, cinco meses depois.

Após conquistar títulos continentais, tornar-se campeã mundial representou um novo marco para Minta, três vezes medalhista de ouro nos Campeonatos Africanos, que iniciou no esporte em 2017 após se destacar no arremesso de dardo e peso no ensino fundamental.

“Estou muito orgulhoso de ser um lutador de braço de Gana”, declarou Minta à CNN. “Desejo treinar os jovens que estão chegando, organizá-los para que também se tornem alguém no futuro.”

O desafio para a África é replicar o sucesso de Minta com maior frequência — uma tarefa difícil, considerando os grandes concorrentes do esporte. O cazaque obteve resultados expressivos nos campeonatos mundiais do ano passado, conquistando 52 medalhas de ouro como parte de um total de 159 medalhas.

Turquia e Geórgia ficaram em segundo e terceiro colocados no ranking de medalhas. O Egito liderou o grupo africano em 36º lugar, à frente do Gana, refletindo sua posição como a principal equipe de luta de braço no continente, conforme declarado por Asibey.

Afirma que, apesar do bom progresso da África, que possui nove nações registradas como membros da WAF, o aumento do financiamento auxiliaria a reduzir a diferença em relação a países como o Cazaquistão, que envia mais de 100 competidores para competições do Campeonato Mundial, em parte devido à relevância do esporte nas escolas.

“Isso porque eles sempre dominam, pois nesses países eles levam o esporte muito a sério”, disse Asibey. “Os Jogos Africanos trouxeram muitas coisas boas. Governos e instituições nos reconheceram… (Mas) Ainda não temos patrocínio. Lutamos para arrecadar dinheiro.”

Acreditamos que, em breve, organizações multinacionais ou corporativas investirão em nosso esporte. Esse apoio auxiliaria Asibey a assegurar o retorno da luta de braço aos Jogos Africanos no Cairo em 2027. Contudo, ele possui ambições ainda maiores.

Fonte: CNN Brasil

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