A Duralex e sua trajetória no Brasil
Se você retratasse uma cozinha brasileira no final do século XX, certamente encontraria uma Duralex. Poucas marcas foram tão presentes na vida dos brasileiros nesse período quanto a empresa francesa. Desde a merenda escolar até os pratos em restaurantes, a Duralex estava sempre lá — resistente, marrom e quase inquebrável.
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Originária da França e rapidamente adotada no Brasil, a vidraria se tornou um símbolo de praticidade e resistência. Atualmente, vive uma nova fase nas mãos de colecionadores e entusiastas do design retrô. Apesar das dificuldades enfrentadas pela matriz na França, a Duralex continua firme no Brasil.
A história da Duralex
Fundada em 1945, no pós-guerra, pela Saint-Gobain, a Duralex se destacou pelo vidro temperado, que era aquecido a 600 °C e resfriado rapidamente, tornando-o mais seguro e resistente. Em 2011, a operação brasileira foi adquirida pela Nadir Figueiredo, a maior fabricante nacional de vidros domésticos, que comprou a Santa Marina, responsável pela produção local da Duralex. Desde então, a marca no Brasil opera de forma independente.
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A famosa linha âmbar (marrom) foi descontinuada em 2012, mas os produtos ainda estão presentes no mercado e na memória coletiva. Hoje, copos e pratos antigos se tornaram itens de colecionador, com preços que podem chegar a 400 reais em plataformas de revenda. A marca, por sua vez, mantém a produção local com modelos atualizados em vidro temperado, nas cores transparente e azul.
A origem da resistência
A Duralex foi criada em La Chapelle-Saint-Mesmin, na França, logo após a Segunda Guerra Mundial. A empresa dominou a técnica do vidro temperado, que conferia resistência e segurança aos produtos, evitando cortes profundos ao se quebrar. O nome Duralex deriva do latim “Dura lex, sed lex”, que significa “a lei é dura, mas é a lei”, enfatizando a confiabilidade do produto.
Essa combinação de características fez da Duralex uma alternativa viável à porcelana e louça convencional, especialmente para famílias de menor renda. Nos anos 1950, a marca começou a ser importada para o Brasil, e sua popularidade cresceu nas décadas seguintes, quando passou a ser fabricada localmente.
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De copo francês à mesa brasileira
A produção no Brasil teve início nos anos 1980 pela Santa Marina, que se especializou em vidros. A linha âmbar, composta por pratos, copos e xícaras de vidro marrom, se tornou um símbolo de durabilidade nas cozinhas da classe média. Nos anos 1990, os produtos da Duralex estavam amplamente disponíveis em escolas, refeitórios e restaurantes, sendo reconhecidos por sua resistência e preço acessível.
A Duralex chegou a empregar 1.500 pessoas e produziu mais de 130 milhões de unidades globalmente. No Brasil, sua popularidade era tão grande que o produto se tornou parte do cotidiano, até que, gradualmente, começou a desaparecer das prateleiras.
Desafios e mudanças
Na matriz francesa, a Duralex enfrentou problemas a partir dos anos 2000, devido à concorrência chinesa e ao aumento dos custos de energia. A empresa entrou em recuperação judicial em 2008 e novamente em 2020, quando a pandemia resultou em uma queda de 60% no faturamento. Em 2021, foi vendida por 3,5 milhões de euros para a International Cookware, que transformou a fábrica em uma cooperativa para preservar empregos.
No Brasil, a situação foi diferente. A Nadir Figueiredo, que já fabricava produtos de vidro há mais de um século, adquiriu a Santa Marina e os direitos da Duralex em 2011. Desde então, a marca opera de forma independente na América do Sul.
A nova fase da Duralex
Apesar da crise internacional, a produção brasileira da Duralex não foi interrompida. Contudo, a linha marrom foi descontinuada em 2012, e o portfólio atual se concentra em peças transparentes e azuis. A empresa aposta na nostalgia e na durabilidade como diferenciais.
Em 2019, a Nadir foi vendida ao fundo americano HIG Capital por 836 milhões de reais e passou por um processo de rebranding, agora se apresentando apenas como “Nadir”.