Elites da especulação de descontos organizaram evento em local de influência para obter favores no INSS
Empresas investigadas por descontos irregulares, com envolvimento de empresários e um lobista do esquema, buscavam influência no INSS e no Congresso.

São Paulo — Entidades vinculadas a empresários e um lobista que estão sendo investigados no esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) chegaram a alugar e mobiliar uma mansão no Lago Sul, bairro luxuoso de Brasília, para criar uma federação de associações com o objetivo de fazer lobby no Congresso e no Judiciário e aparelhar o órgão federal em defesa de seus interesses.
A Federação Nacional dos Aposentados e Pensionistas (Fenap) seria representada por um parente do empresário Maurício Camisotti, que está sob investigação por meio de três associações envolvidas em irregularidades financeiras e foi alvo da Polícia Federal (PF). Outras duas entidades pertencem a Domingos Savio, também investigado e acusado de estelionato em outras apurações.
De acordo com informações internas das associações, o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, também estaria envolvido. As quebras de sigilo bancário da PF revelaram transferências milionárias entre o lobista e dois empresários conectados a oito associações que obtiveram faturamentos de milhões de reais por mês através de descontos em mensalidades de aposentadorias.
O escândalo do INSS foi exposto pelo Metrópoles em uma série de reportagens iniciadas em dezembro de 2023. Três meses depois, o portal noticiou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados aumentou significativamente, atingindo R$ 2 bilhões em um ano, ao mesmo tempo em que as associações enfrentavam milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
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As reportagens do Metrópoles provocaram investigação pela PF e forneceram subsídios às apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Um total de 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que originou a Operação Sem Desconto, deflagrada em 23/4 e que resultou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
O esquema dos participantes da fraude no INSS
O Metrópoles apurou que de oito entidades listadas no documento de constituição da federação, cinco estão ligadas a Camisotti. Três delas – Ambec, Unsbras e Cebap – já tinham acordos de cooperação com o INSS e estão entre as que mais descontaram valores de aposentadorias no esquema que gerou R$ 6,3 bilhões em faturamento desde 2019, conforme a Polícia Federal.
A ONAP e a URAP também aguardavam o convênio com o INSS. Conforme reportado pelo Metrópoles, a ONAP empregou o mesmo CNPJ pertencente a uma Liga de Beach Tennis do Rio de Janeiro, que anteriormente se transformou em uma associação de aposentados. A Polícia Federal apurou que essas entidades arrecadaram pelo menos R$ 53 milhões para Camisotti.
Domingos Sávio, ligado à Abapen e à Unaspub, obteve R$ 10 milhões de entidades que praticavam descontos associativos. Ele também atuava em nome dessas entidades. A Polícia Federal apurou que, nos últimos anos, ele expandiu sua rotina de viagens, que envolviam Brasília e Minas Gerais, para o Panamá e Miami (EUA).
Camisotti e Domingos Sávio, em conjunto, transferiram R$ 14 milhões ao apelidado de “Careca do INSS”. O lobista é suspeito de pagar propinas a ex-diretores do INSS e ao ex-procurador-geral do órgão, todos afastados ou demitidos. A operação envolveu a transferência de um Porsche e pagamentos a parentes e empresas desses dirigentes públicos.
O empresário Maurício Camisotti e o lobista Antonio Camilo Antunes negam qualquer irregularidade na atuação das empresas e das entidades que aplicam descontos sobre aposentadorias do INSS.
Fonte: Metrópoles