Participei da última semana na China, integrando a comitiva do presidente Lula (PT) em missão oficial ao país que atualmente é o principal parceiro comercial do Brasil. Fui a única mulher entre os oito parlamentares convidados (dois senadores e cinco deputados), e posso afirmar com tranquilidade: retornamos com mais do que acordos. Retornamos com lições importantes, compromissos estratégicos e a confirmação de que o Brasil possui um papel relevante a desempenhar no cenário global.
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A visita à China neste momento de tensões entre as potências também foi um sinal político: indicar ao mundo que o Brasil não está vinculado a alianças automáticas, que não aceita ser tratado como quintal de ninguém. Nosso interesse é pela construção de um mundo multipolar, mais justo e cooperativo, que aborde com seriedade a crise climática, a desigualdade social e que impulsione os países do Sul Global.
O Brasil incorreu em atraso na disputa tecnológica, o que acarreta implicações. Atualmente, permitimos que nosso espaço seja ocupado por diversos satélites de Elon Musk. Contudo, por que não estabelecer um diásemelhante com a China, buscando também negociações sobre transferência tecnológica, desenvolvimento conjunto e capacitação de profissionais brasileiros?
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Durante a missão, estabeleceram-se parcerias em áreas essenciais: inovação em equipamentos para o tratamento do câncer, redes 5G, energias renováveis e reindustrialização com base em novas tecnologias. Essa retomada da indústria não pode ser vista apenas sob a ótica do mercado – ela deve gerar empregos de qualidade, fortalecer a soberania nacional e considerar os limites ambientais.
A parceria com a China se mostra estratégica neste momento. Os Estados Unidos têm sabotado a COP30, que ocorrerá no Brasil, em Belém (PA).
Necessitamos de parceiros para assegurar que a conferência prossiga e que a transição energética global considere não apenas a descarbonização, mas também a justiça, incluindo a justiça climática, juntamente com a justiça social, com a participação da agricultura familiar, das comunidades tradicionais e da classe trabalhadora.
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A agricultura e a mineração ainda exercem grande influência nas exportações brasileiras para a China. Contudo, essa dependência de produtos primários necessita de reavaliação. É fundamental impulsionar setores com maior agregação de valor, menos dependentes da degradação ambiental e mais alinhados ao conhecimento, à inovação e à sustentabilidade.
Não se trata de replicar o modelo chinês, mas de extrair aprendizados dele. A China evoluiu de um país agrário à maior potência industrial e tecnológica do mundo em poucas décadas. Isso ocorreu por meio de planejamento, investimento público e sem ceder seu futuro ao livre mercado. Talvez a principal lição seja a necessidade de um Estado robusto, com visão nacional, para impulsionar o desenvolvimento.
Retorno ao Brasil com diversos aprendizados e uma convicção: o nosso futuro dependerá das escolhas que realizarmos no presente. Cabe ao Parlamento brasileiro não apenas observar, mas sim participar ativamente dessas decisões, com ousadia e perspectiva estratégica. Há muito a desenvolver e um povo que merece viver em um país soberano, justo e apto aos desafios do século XXI.
Fonte: Carta Capital