Entenda os interesses envolvidos na eleição de Samir Xaud na CBF
Candidato respaldado por 25 federações almeja renovação diante de boicote de 21 clubes e questionamentos sobre a estrutura de poder da organização.

A eleição que poderá confirmar Samir Xaud como novo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) será no domingo (25.mai.2025).
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A eleição determinará o líder da organização até 2029, em face de debates sobre gestão, representatividade e o futuro do futebol no Brasil.
Quem é Samir Khoudji?
Samir Xaud, com 41 anos, é médico especialista em medicina esportiva e empresário. Ele assumiria a presidência da Federação de Futebol do Roraima, sucedendo seu pai, Zeca Xaud, que ocupou a função por aproximadamente 40 anos. A candidatura de Samir obteve o apoio de 25 das 27 federações estaduais, além de clubes como Vasco, Palmeiras e Grêmio.
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Em sua campanha, Xaud defende a profissionalização da arbitragem, o fortalecimento do futebol feminino e uma gestão que priorize todas as regiões do país.
Entre as sugestões de Xaud encontram-se a criação de programas para o desenvolvimento das categorias de base nas regiões Norte e Nordeste, e a revisão do estatuto da CBF, com o objetivo declarado de tornar a entidade “mais transparente e democrática”.
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Apesar do apoio de 25 federações, 21 clubes não participarão da eleição no domingo. O nome que mais agrada aos clubes era o de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol).
Quais são as expectativas dos clubes?
Os 21 clubes que optaram por não participar da eleição de domingo almejam transformações significativas na estrutura de poder da CBF. A principal demanda é a revisão do modelo eleitoral vigente, que concede maior peso às federações estaduais – cada uma com 3 votos, em oposição aos 1 voto dos clubes. Consideram que essa configuração restringe a representatividade dos clubes, que são os principais atores do futebol nacional.
Adicionalmente, esses clubes defendem a formação de uma liga independente, que operaria com maior liberdade na organização dos campeonatos nacionais, diminuindo a influência política habitual da CBF. A proposta busca fortalecer os clubes na administração do futebol brasileiro e aumentar a clareza nas decisões.
Por que 21 clubes não votarão.
De 40 clubes da Série A e B do Campeonato Brasileiro, 21 não participarão do torneio. A ausência se deve a divergências políticas, críticas ao processo eleitoral e insatisfação com a gestão da entidade.
Outra fonte de insatisfação é a crítica ao que denominam de “cartolagem”, termo que descreve o controle concentrado e a ausência de transparência que, segundo esses grupos, são constantes na CBF há décadas.
Um exemplo específico é o da Ponte Preta, que não terá seu voto contado devido a questões burocráticas: o clube protocolou solicitação por e-mail, porém a CBF exige o documento original.
Como opera o sistema eleitoral da Confederação Brasileira de Futebol?
O conselho eleitoral da CBF é composto por 27 federações estaduais e 40 clubes das Séries A e B. No sistema vigente, as federações possuem maior influência, pois cada uma conta com 3 votos, ao passo que cada clube detém apenas 1.
Histórico das administrações da Confederação Brasileira de Futebol
A CBF tem enfrentado uma trajetória recente marcada por questões institucionais. Nos últimos anos, ex-presidentes como Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e Rogério Caboclo renunciaram ou foram afastados do futebol devido a acusações de corrupção ou má conduta, o que comprometeu a reputação da entidade.
Ednaldo Rodrigues foi o quinto presidente da CBF a ser destituído do cargo nos últimos sete mandatos. Apenas Coronel Nunes, que exerceu a presidência interinamente entre 2017-2019 e em 2021, não sofreu afastamento.
Ricardo Teixeira liderou a CBF entre 1989 e 2012, renunciou justificando questões de saúde e posteriormente foi afastado pela Fifa por receber aproximadamente US$ 8 milhões em subornos. José Maria Marin assumiu em 2012, porém foi preso na Suíça em 2015 no caso “Fifagate” e julgado nos Estados Unidos em 2017.
Marco Polo Del Nero ocupou a presidência da entidade de 2015 a 2017, sendo afastado pela Fifa devido a denúncias de corrupção e mantido afastado preventivamente. Rogério Caboclo liderou a entidade de 2019 a 2021, mas foi afastado após denúncias de assédio, as quais ele negou.
Apesar de não atuarem diretamente na eleição, a Fifa e a Conmebol monitoram de perto o processo, principalmente devido ao risco de intervenção judicial ou de disputas entre clubes e a CBF, como já ocorreu em outras federações nacionais.
Observe o infográfico.
O que está em risco?
Samir Xaud deve ser eleito como candidato único. Na gestão, terá o desafio de implementar reformas estruturais, fortalecer o futebol feminino e a governança, conciliando os interesses das federações e clubes.
Ademais, é necessário assegurar a estabilidade da escolha do brasileiro, notadamente com a expectativa em torno da gestão de Ancelotti. O resultado da eleição determinará o curso político e esportivo da entidade nos próximos 4 anos.
O jornalista Juca Kfouri, que há décadas acompanha os bastidores do futebol brasileiro, vê a eleição como mais um capítulo da manutenção do sistema vigente na CBF. Segundo ele, “o que está em jogo é a manutenção do cartório que há décadas desmanda no futebol brasileiro e enriquece a cartolagem”.
Questionado sobre suas expectativas em relação a mudanças após a eleição, Kfouri respondeu de forma concisa: “âãs moscasâ”, indicando que apenas os ocupantes dos cargos se alteram, sem que a estrutura de poder seja transformada.
A falta de 21 clubes no processo eleitoral também foi mencionada, porém Kfouri optou por não comentar de forma direta.
Fonte: Poder 360