“Escravas Virtuais”: mentor de automutilação no Discord é libertado da prisão
24/04/2025 às 2h27

Em São Paulo, o jovem Vítor Hugo Souza Rocha, apelidado de “Verdadeiro Vitor”, foi libertado após ser condenado por integrar grupos do Discord que incitavam estupros e mutilação de menores de idade, decisão da 1ª Vara de Crimes Praticados contra Crianças e Adolescentes do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Vitor Hugo esteve sob custódia, de junho de 2021 a junho de 2023, primeiramente no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros e, posteriormente, na Penitenciária II de Gálias.
A juíza Tânia da Silva Amorim Fiuza deferiu solicitação da Defensoria Pública, que sustentou o bom comportamento do réu, argumentando que o período em que ele permaneceu sob prisão provisória era equivalente à pena imposta em primeira instância, que era de um ano e dez meses de reclusão.
Segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), uma das funções de Vitor Hugo na organização criminosa era assegurar a impunidade dos membros, através do apagamento de arquivos e do armazenamento externo dos conteúdos por meio de criptografia.
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Os promotores afirmam que o jovem possuía conhecimentos extensos na área de tecnologia da informação e recebia e armazenava conteúdos ilícitos obtidos em crimes contra as vítimas.
No seu computador, havia uma pasta intitulada “backup das vítimas exploráveis (explanation team)”. Dentro de cada subpasta, o nome de uma vítima. Trata-se de dezenas de meninas violadas, coagidas e expostas, documentadas.
A acusação afirma que a organização criminosa recrutava jovens através do Discord, induzindo-os a acreditar em um suposto interesse amoroso ou de amizade.
Após estabelecerem a confiança das vítimas na relação virtual, passavam a demandar que lhes fossem entregues fotografias e vídeos íntimos, por meio de manipulação psicológica e práticas de controle que abrangiam desde a apresentação de “provas de confiança” até a vulnerabilização dos laços familiares. Além disso, pressionavam-nas para que fossem ao encontro deles, prometendo que, assim, poderiam viver a relação amorosa e morar juntos, informou a promotoria.
Escritas Virtuais
Uma gravação do Metrópoles, em maio de 2023, revela uma sessão de abuso psicológico, físico e sexual conduzida por meio do Discord. A filmagem apresenta Izaquiel Tomé dos Santos, apelidado de “Dexter”, que ordena que uma adolescente se sujeite a humilhações públicas durante uma transmissão para um público amplo.
Izaquiel, que, conforme o MPSP, fazia parte da mesma organização criminosa que Vitor Hugo, foi preso em abril daquele ano pela Polícia Federal.
“Escute aqui, sua vadia, se você falar ‘a’ agora, em cinco minutos você estará num hospital. Em cinco minutos, você vai ter que procurar outra família. Fale mais um ‘a’ assim para mim que eu faço você perder a perna necrosada hoje mesmo. Então tente você crescer a porra da sua moral para cima de mim, sua puta. Peça desculpa ajoelhado nesse momento.”
Não concordo.
Em janeiro, a Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito para apurar a conduta da plataforma Discord devido à apologia à violência digital. A ação ocorreu após a plataforma descumprir um pedido emergencial das autoridades, que solicitava o encerramento de uma transmissão ao vivo com cenas de violência direcionadas a crianças e adolescentes.
Equipes do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) registraram o instante em que a transmissão ao vivo ocorria, durante o acompanhamento de um grupo que compartilhava imagens. Apesar do pedido para interromper o servidor, a plataforma não obedeceu e o evento permaneceu ativo.
Homem em situação de rua é vítima de ataque com Molotov.
Em 2 de fevereiro, um adolescente de 17 anos ateou fogo a dois coquetéis molotov contra um indivíduo em via pública no Rio de Janeiro. A Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro informou que o ato foi planejado e transmitido ao vivo através do Discord.
O autor da agressão está sendo investigado por tentativa de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa, além da prática de apologia ao nazismo. Os policiais apreenderam um aparelho celular com conteúdo de pornografia infantil.
No último fim de semana, segundo o Núcleo de Observação e Análise Digital da polícia de São Paulo, um grupo planejava repetir o crime no Rio. O plano foi compartilhado online, por meio do Discord. Naquele domingo (20/4), o trio foi preso.
Fonte: Metrópoles