Especialistas analisam o plano de Milei para o câmbio inconsistente, que foge da linha ultraliberal
13/12/2023 às 16h25
O ministro argentino da Economia, Luiz Caputo, anunciou na terça-feira à noite um pacote com 10 medidas econômicas. As principais medidas incluem a redução do tamanho do Estado, a desvalorização da moeda e a transferência de responsabilidades governamentais para o setor privado.
Com algumas medidas liberais e outras, nem tanto, o fato é que o pacote causou ainda mais dúvidas sobre o futuro econômico do país, na visão dos especialistas.
Segundo Christopher Mendonça, doutor em ciências políticas e professor de relações internacionais do Ibmec-BH, a diminuição dos subsídios na área de energia e transporte é uma medida liberal que foi amplamente divulgada durante a campanha e já está sendo implementada no primeiro pacote. No entanto, é importante destacar que essa ação pode acarretar problemas sociais conforme for sendo aplicada.
Segundo o professor, o transporte público da Argentina depende bastante de subsídios do governo. Será necessário fazer um grande esforço para atrair o interesse do setor privado. Essa é uma decisão importante no momento, mas que deve ser temporária. Isso porque o transporte tem um impacto significativo na economia pública.
Além de reduzir o dinheiro que o governo dá para ajudar nas passagens de transporte, também vão reduzir a ajuda do governo para pagar as contas de energia. No entanto, não sabemos ao certo quanto dinheiro será cortado e nem a maneira como isso será feito.
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Mas de todas as medidas anunciadas, a que preocupou mesmo, na visão do professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan, foi a desvalorização do peso argentino em relação ao dólar, medida que vai impactar a vida do cidadão comum, já que esse perderá ainda mais o poder de compra e não terá acesso a produtos básicos.
De acordo com Trevisan, o problema ainda não foi resolvido e está gerando mais tensões políticas. Os fortes desvalorização do câmbio indica que o novo governo não está conseguindo controlar a situação cambial.
Uma mudança no pacote que interessou os especialistas foi a redução do repasse de dinheiro do governo federal para as províncias. Isso demonstra que o governo quer centralizar a administração dos recursos públicos na estrutura federal.
Milei quer enfraquecer os governos estaduais e municipais peronistas por meio de medidas centralizadoras. Dessa forma, ele pretende desmantelar suas estruturas locais.
No entanto, essa ação pode piorar a disputa com os governadores. De acordo com o professor Leonardo, ao cortar os repasses para os estados, haverá um impacto político significativo, exacerbando assim a briga com os governadores.
Além de outras medidas, Caputo também anunciou que não haverá mais impostos para exportação e irá modificar o processo de aprovação das licenças de importação. Essa medida afeta a relação comercial com o Brasil, o que contraria as promessas feitas durante a campanha de reduzir o comércio com países vizinhos.
Segundo Leonardo Trevisan, as montadoras brasileiras pararam de enviar carros para a Argentina. Apenas uma delas, aparentemente, teria vendido 27 mil carros para os argentinos sem receber nenhum pagamento em dólar, devido à falta de dinheiro por lá. Portanto, a ideia de liberar importações é apenas uma expressão, nesse contexto.
Foi comum o consenso de que em uma primeira análise do pacote, ele ficou muito aquém das necessidades do país e ainda está longe do perfil ultraliberal defendido inicialmente por Milei. No momento existem apenas diretrizes gerais, que são importantes, mas não existem detalhamentos.