“Eu desejo justiça”, afirma pai de torcedora palmeirense falecida em 2023
A sessão do júri começou na segunda-feira (19) e decidirá se o réu é culpado pelo homicídio de Gabriella Anelli, de 23 anos.

“Se eu morrer pelo meu Palmeiras, eu estou feliz”. A frase foi dita diversas vezes por Gabriela Anelli, torcedora fanática do time verde e branco. Contudo, o pai da jovem nunca imaginaria que isso, realmente, ocorreria. “Eu ficava irritado com ela e dizia: ninguém vai morrer”, afirmou Ettore Amarchiano Neto.
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Ele veio de Curitiba com a esposa, a sogra e a nora para assistir ao Tribunal do Júri, que determinará se o torcedor flamenguista Jonathan Messias Santos da Silva é culpado pela morte de Gabriela. A sessão começou às 10h30 desta segunda-feira (19) no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
Jonathan é acusado pelo Ministério Público de ter arremessado a garrafa de vidro, cujos cacos atingiram o pescoço da torcedora, causando sua morte. Ela foi socorrida, mas faleceu dois dias depois devido a hemorragia. O crime a que responde é homicídio doloso (quando se assume o risco de matar), na modalidade de dolo eventual por motivo fútil, uma vez que foi praticado motivado por ódio pela torcida rival.
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Meu desejo é o mesmo que todo pai que perdeu uma filha vítima de homicídio almeja? Justiça. Que seja julgado e cumpra pena pelo crime que desestruturou uma família inteira, não é verdade? E, até o momento, eu e minha esposa não conseguimos superar a situação.
Ele e a sogra recordaram a paixão de Gabriela pelo Palmeiras, essa paixão que ela adquiriu do pai. Desde os quatro anos, Gabriela se acostumava a ir aos estádios e aos vinte e três continuava com o mesmo brilho nos olhos. Sempre que havia jogo do Palmeiras, ela acordava cedo e se arrumava. “Vai abrir o portão do estádio”, brincava o pai que agora não consegue mais frequentar o Allianz Parque desde a morte da filha.
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Passei muitos momentos felizes e tristes com ela, nas vitórias e derrotas. Mas não consigo mais entrar lá. Cheguei a ir um dia, fiquei dez minutos e saí, porque eu olhava o lugarzinho onde ela sempre gostava de ficar. Minha paixão pelo Palmeiras continua. Não foi o Palmeiras que fez isso, foi um torcedor flamenguista que se espera que seja condenado. Só não consigo mais frequentar o Allianz Parque, confessou o Ettore.
A avó Joana Anelli dos Santos, com lágrimas nos olhos, declarou sentir saudades de sua neta mais velha. “Todo dia ela me ligava, me enviava áudio pedindo um bolinho de chuva, se tinha almoço para ela (…). Uma menina cheia de vida, havia decidido retomar os estudos, fez a matrícula e era apaixonada pelo Palmeiras. Eu acho que isso não é defeito. É só saudade. Nós estamos aqui porque queremos justiça.”
Falta de segurança nos estádios.
O pai e o avô também solicitaram que os clubes de futebol garantissem maior segurança aos torcedores.
A única coisa que se pede é que os clubes de futebol ofereçam mais apoio e segurança aos seus torcedores. O maior patrimônio de um clube é o torcedor. Os jogadores eventualmente deixam, mas o torcedor é eterno.
Relembre o caso
Gabriella Anelli faleceu após ter o pescoço atingido por um objeto de vidro, em confronto entre torcidas rivais próximo ao Allianz Parque, em São Paulo, em 8 de julho de 2023. O ocorrido aconteceu durante jogo do Campeonato Brasileiro entre Palmeiras e Flamengo.
A vítima foi internada em estado grave, porém não sobreviveu aos ferimentos e faleceu dois dias após. O laudo do Instituto Médico Legal apontou que a causa da morte foi “hemorragia aguda externa traumática”. Outro torcedor também ficou ferido no tumulto.
Um suspeito fora detido em relação ao ocorrido. Contudo, essa detenção foi revogada após a exibição de vídeos às autoridades que indicavam que a garrafa de vidro teria sido lançada por outra pessoa.
Jonathan Messias Santos da Silva foi acusado de homicídio doloso por dolo eventual, com causa e motivo fúteis. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) aceitou a denúncia do Ministério Público, tornando-o réu.
A juíza Marcela Raia Sant’Anna determinou a conversão da prisão temporária de Jonathan para a prisão preventiva, considerando a medida essencial para assegurar a ordem pública, em razão da gravidade e hediondez do crime, impulsionado por ódio por torcedores rivais.
Em fevereiro de 2024, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que Jonathan Messias Santos da Silva seria julgado por júri popular. A juíza manteve a prisão preventiva, indeferindo o pedido de recurso em liberdade, em razão da gravidade do delito e do fato de o réu ter deixado seu estado sem se reportar às autoridades.
Investigação
Após investigações, a polícia paulista apontou Jonathan Messias como o responsável pela morte. Ele foi identificado como o principal suspeito através de câmeras de reconhecimento facial instaladas na região do estágio. Jonathan foi preso em sua residência no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, em 25 de julho, e posteriormente levado para São Paulo para prestar depoimento.
Jonathan Messias exercia a função de professor e diretor-adjunto em uma escola municipal no Rio de Janeiro. Não apresentava histórico criminal anterior ao ocorrido, e após sua detenção, a prefeitura do Rio de Janeiro o removeu de suas responsabilidades.
As investigações policiais, com a análise de vídeos, concluíram que Jonathan Messias foi a única pessoa a arremessar a garrafa no momento em que Gabriela foi atingida.
As imagens revelam Jonathan pegando uma garrafa no chão e arremessando-a pelo espaço entre os divisores que separavam as torcidas. A polícia conduziu uma sincronização de áudio e vídeo para identificar o instante do lançamento e descartar outras ocorrências.
O delegado encarregado declarou que, após arremessar a garrafa, Jonathan trocou de roupa antes de ingressar no estádio, instante em que foi reconhecido pelo sistema de reconhecimento facial.
A diretora do DHPP, delegada Ivalda Aleixo, declarou que o trabalho da perícia e da investigação aponta que o objeto lançado por Jonathan é o único que poderia ter atingido a torcedora. Ela contestou a alegação da defesa de que os vídeos eram editados, afirmando que selecionaram os vídeos do momento de interesse sem edição.
Análise tridimensional
O Instituto de Criminalística de São Paulo conduziu uma análise pericial em 3D para reconstruir o acidente, empregando anotações, fotografias convencionais e aéreas, obtenção de um escaneamento a laser do local e vídeos de celulares de testemunhas.
A análise 3D confirmou a hipótese de que Jonathan Messias Santos arremessou o objeto que atingiu Gabriela. O laudo pericial 3D indicou que ele se situava em um local com boa visualização e que o lançamento foi direcionado a uma abertura nas chapas metálicas, apesar da presença de Guardas Civis Metropolitanos e outras pessoas na trajetória.
O espaço entre o portão era de aproximadamente 0,70 metro e situava-se a cerca de 3,15 metros de Jonathan no momento do lançamento. Os peritos concluíram que as imagens corroboram a possibilidade já mencionada em laudo anterior de que Jonathan arremessou a garrafa. Esta análise pericial ainda seria confrontada com outras interpretações, como o laudo do IML e dados da investigação policial.
Fonte: CNN Brasil