Ex-Banda Uó e Candy Mel comemoram as raízes populares em estreia solo, com o brega
Artista combina estilos populares, ritmos africanos e samba em “Cinco Estrelas”, destacando a importância da cultura fora do eixo Sudeste.

A ex-vocalista da Banda Uó, Mel Gonçalves de Oliveira, também conhecida como Candy Mel, lançou seu álbum solo, chamado Cinco Estrelas. O projeto, que teve início em 2019, é considerado um trabalho genuíno e repleto de referências pessoais e musicais de sua trajetória.
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Iniciamos pensando no que seria a Candy Mel em solo, afastada do U³, e buscando consolidar todas as minhas experiências também vivenciadas dentro da banda. Desejei ser muito sincera, e esta foi uma grande busca, uma pesquisa muito interessante de realizar em meu corpo.
Candy Mel explora em seu trabalho um trajeto sonoro que abrange da catira ao brega, com influências do samba do recôncavo, bolero, pop e música eletrônica. “Inicialmente, começamos com a catira, aquela mistura que tem muito do sertanejo, do meu Goiás, do Centro-Oeste, e vai passando por diversas outras sonoridades. Eu observei alguém comentando sobre o álbum de maneira muito positiva, afirmando que ele é um dos mais sinceros do ano, e de fato é isso.”
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A produção foi realizada ao lado de Nave e Fejuca, juntamente com um time diverso de compositores e artistas convidados, incluindo Liniker, Rico Dalasam, MC Tha e Jup do Bairro. “Para um debut, um primeiro álbum, consegui mostrar o que eu sou capaz e toda a minha pluralidade”, comemora.
A artista também critica a demora com que ritmos populares do Norte e Nordeste conquistam espaço na indústria musical do Sudeste, apontando para o preconceito do mercado. “O brega forma um país. O brega é parte da cultura brasileira. Em Goiás, ouvimos muito nos churrascos de família, tudo chega de uma forma muito gostosa. Mas há essa dificuldade de fazer com que esse ritmo chegue para o Brasil inteiro e tenha o reconhecimento necessário. É muito por preconceito da própria indústria”.
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Contudo, na sua visão, a resistência artística se torna cada vez mais coletiva. “Há um movimento muito grande de artistas de todo o Brasil abrindo espaço para essa sonoridade.”, comenta. “Eu acredito que o povo sempre vai falar muito mais do que qualquer instituição”, avalia.
Beleza é poder: presença trans além da representatividade.
Ao reunir artistas negros e LGBT+ no álbum, Candy Mel reforça os valores que orientam sua arte. “Para mim, foi muito importante trazer pessoas LGBT e negras para dentro do meu trabalho, assinalando o meu compromisso artístico com aquilo que de fato eu faço parte”, diz. “É sobre dizer que nós estamos aqui, em peso, fazendo o melhor que sabemos fazer de uma forma muito bonita”, explica.
Candy também comenta o simbolismo de ocupar espaços tradicionalmente negados às pessoas trans, especialmente no mercado da beleza. Para ela, estar presente em campanhas e espaços midiáticos não é apenas uma questão estética, mas política. “Beleza é poder”, declara. “Estar sendo vista nesse lugar de poder, de autoestima, é extremamente importante. Isso muda tudo, o cenário político, econômico. Passamos a ser vistas como humanas, como bonitas também, potentes”, argumenta.
A artista continua a refletir sobre os desafios enfrentados pela comunidade no Brasil, país que ainda ocupa o primeiro lugar nos casos de homicídio de pessoas trans. “A vida de uma pessoa trans não se apaga apenas com armas. É um movimento completo que se encerra: as impossibilidades de crescimento, de ter um emprego, de poder trabalhar em uma padaria. […]. Tudo isso dificulta a nossa existência e faz com que desistamos, em muitos casos”, lamenta.
Candy ressalta a relevância de ocupar espaços de poder para modificar essa situação. “É imprescindível que estejamos nesses espaços e que várias estejam circulando até o dia almejado, em que nossa presença seja natural”, defende, citando como exemplos as deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (Psol-SP), únicas a ter um mandato na Câmara Nacional.
A capacidade de punir qualquer forma de agressão reside na política institucional. É preciso ter uma psique extremamente firme, forte e eficaz para lidar com esses indivíduos, pois ninguém deseja oferecer oportunidades a nós. Essa é a grande realidade.
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Fonte por: Brasil de Fato