Ex-diretor da Abin aponta dificuldades na investigação de “software espião”

Carlos Coelho afirmou ao STF, na sexta-feira (23), que colaboradores da Agência Brasileira de Inteligência responderam de maneira “agressiva” às perguntas referentes a investigações.

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(Imagem de reprodução da internet).

O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, declarou que servidores do sistema de espionagem First Mile se negaram a fornecer informações durante uma inspeção interna. Ele relatou que os funcionários demonstraram atitude “agressiva” ao serem questionados.

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O depoimento ocorreu na sexta-feira (23) em razão de testemunhos no âmbito do processo que investiga uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Coelho foi indicado como testemunha pela defesa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin.

A Polícia Federal, em suas investigações, constatou que o software FirstMile – desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) – foi utilizado ilegalmente para rastrear autoridades públicas, por meio da geolocalização de celulares sem autorização judicial.

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Coelho declarou, em seu depoimento, que efetuou uma cirurgia para apurar a contratação de todos os equipamentos de TI da Agência e que, ao investigar os responsáveis por operar o FirstMile, encontrou oposição.

O ex-diretor afirmou que, ao solicitar ao gestor do contrato do software First Mile, Marcelo Furtado, uma avaliação da ferramenta, recebeu da equipe de servidores a resposta de que “não se sentiam à vontade para atestar o que fora solicitado”.

O gestor de contrato, ao ser questionado sobre a regularidade da ferramenta e fornecer outras informações, demonstrou resistência. Em seguida, entrou em contato comigo alegando não se sentir à vontade para atender ao solicitado.

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Coelho afirmou ter procurado o então diretor do Departamento de Operações de Inteligência da Abin, Paulo Mauricio Fortunato, que teria reagido com hostilidade e orientou-o a não se envolver naquela questão.

Tive uma interação com o diretor do Departamento de Operações de Inteligência, o oficial Paulo Maurício, que se mostrou agressivo, afirmando que eu não tinha que me envolver em assuntos da atividade-fim e que isso deveria ser tratado no âmbito da direção-adjunta, conforme seu depoimento.

O delegado informou que a situação foi comunicada a Alexandre Ramagem e ao diretor-adjunto da agência, que tomaram medidas para apurar a contratação e o uso do software. Ramagem, conforme relato de Coelho, acionou a corregedoria da Abin para investigar o caso.

Sob investigação na “Abin paralela”.

Apesar de ter deposto como testemunha, Carlos Afonso Coelho também é alvo da operação Última Milha, conduzida pela Polícia Federal, que investiga a existência de uma estrutura de espionagem paralela na Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

O esquema, denominado “Abin Paralela”, investigava ilegalmente pelo menos 22 indivíduos, abrangendo parlamentares, funcionários públicos, quatro ministros do STF, jornalistas e até um governador, notadamente entre 2021 e 2022.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitou que o depoimento de Coelho não fosse realizado, em razão da investigação.

Contudo, o ministro Alexandre de Moraes permitiu a depoisição, estabelecendo que ele respondesse como informante do processo — sem a obrigação legal de declarar a verdade acerca dos fatos sob investigação, e ainda podendo exercer o direito ao silêncio em relação a quaisquer perguntas.

Fonte: CNN Brasil

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