Ex-presidente da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, afirma que destinará mais de 99% de sua fortuna para instituições de caridade

Em 2006, foi tomada a decisão e o investidor nega envolvimento, afirmando que a doação não afetará a família.

04/05/2025 5h25

7 min de leitura

Investidores buscam compreender o impacto do anúncio de aposentadoria de Warren Buffett. Aos 94 anos, ele finaliza uma das mais duradouras e bem-sucedidas trajetórias do capitalismo contemporâneo. A questão se torna inevitável: qual o futuro de Buffett? A decisão já estava tomada há anos: ele destinará mais de 99% de sua fortuna para doações.

O próximo investimento de Buffett não será uma decisão de última hora. Conforme toda grande alocação de recursos, o megainvestidor estudou muito e se planejou para esse próximo passo.

Tudo está registrado em uma carta intitulada “Meu Compromisso Filantrópico”. O documento foi redigido em 2006 e formaliza uma decisão que já havia sido tomada naquele mesmo ano.

“Primeiramente, meu compromisso: mais de 99% da minha fortuna será destinado à filantropia durante minha vida ou após minha morte”, escreveu Buffett há quase duas décadas.

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Apesar do gesto de desprendimento, o bilionário – que possui atualmente mais de US$ 160 bilhões – afirma que outras pessoas fazem mais por sociedade. Medido em dólares, esse compromisso é grande. Contudo, em termos comparativos, muitas pessoas doam mais aos outros diariamente.

Milhões de pessoas que contribuem mensalmente para igrejas, escolas e outras instituições, renunciam ao uso de recursos que, de outra forma, dariam suporte às suas famílias. Os dólares que essas pessoas depositam em urnas ou doam representam a perda de entretenimentos, refeições ou outros gastos pessoais.

O investidor afirma que, diferentemente de outros, a doação de 99% da riqueza da família não causará privações aos Buffett. “Minha família e eu não renunciaríamos a nada que necessitamos ou desejamos ao cumprir este compromisso de 99%.”

Este acordo assegurará meu estilo de vida e o dos meus filhos, sem alterações. Eles já receberam valores consideráveis para despesas pessoais e continuarão a recebê-los no futuro. Eles desfrutam de uma vida confortável e produtiva, e eu pretendo manter um padrão de vida que atenda a todas as minhas expectativas.

Dediquei uma pequena parte do meu tempo.

Apesar do reconhecimento do valor material do dinheiro, o investidor bilionário acredita que existem outras formas de auxiliar e admite que falhou nessa área. “Essa promessa me permite contribuir com o bem mais valioso, que é o tempo. Muitas pessoas, incluindo eu, tenho orgulho de dizer que meus três filhos doam muito do seu tempo e talentos para ajudar os outros”, declarou.

Presentes desse tipo costumam ser muito mais valiosos do que dinheiro. Uma criança com dificuldades, amparada e nutrida por um mentor atencioso, recebe um presente cujo valor excede em muito o que pode ser concedido por um cheque. Minha irmã, Doris, oferece ajuda significativa de pessoa para pessoa diariamente. Eu fiz pouco disso.

Em 2006, Buffett já havia doado cerca de 20% de todas as ações que tinha em carteira e demonstrou que tem pressa na alocação desse dinheiro – mesmo após a morte. “Continuarei a distribuir anualmente cerca de 4% das ações que retenho. No máximo, o valor de todas as minhas ações da Berkshire será destinado a fins filantrópicos até 10 anos após a liquidação do meu patrimônio”, disse.

Por que ele – um homem que viveu e teve a riqueza como principal símbolo – vai doar o resultado da vida?

A riqueza de Buffett reside em uma espécie de “loteria” genética e geográfica. Ele afirma que “minha riqueza veio de uma combinação de morar nos Estados Unidos, alguns genes de sorte e juros compostos”.

Eu e meus filhos recebemos o que chamo de loteria dos ovários. Inicialmente, as chances de meu nascimento em 1930 nos Estados Unidos eram de pelo menos 30 para 1. O fato de eu ser homem e branco também eliminou inúmeros obstáculos que a maioria dos americanos enfrentava na época.

Sua boa fortuna foi ampliada pela habilidade de Buffett em realizar negócios. “Minha sorte foi intensificada por viver em um sistema de mercado que, por vezes, gera resultados enviesados, embora, em sua maioria, seja adequado para o nosso país”, escreveu.

Reconhece ter trabalhado em uma economia que premia quem salva vidas com medalhas e um excelente professor, além de recompensar aqueles que identificam precificação incorreta de títulos com valores que podem chegar a bilhões.

Diante dessa situação, Buffett explica que a decisão de doar 99% do patrimônio não tem relação com culpa. “A reação da minha família e nossa sorte extraordinária não é de culpa, mas sim de gratidão.”

Veja a carta na íntegra:

Meu Compromisso Filantrópico

Warren Buffett

Em 2006, decidi gradualmente doar todos os meus ativos da Berkshire Hathaway para fundações filantrópicas. Não poderia estar mais satisfeito com essa decisão. Atualmente, Bill Gates, Melinda Gates e eu estamos solicitando que centenas de indivíduos ricos doem pelo menos 50% de sua fortuna para instituições de caridade.

Meu objetivo é que mais de 99% da minha fortuna seja direcionado à filantropia ao longo da minha vida ou após minha morte. Essa quantia, medida em dólares, é significativa. No entanto, em comparação, inúmeras pessoas fazem doações diárias, renunciando a gastos que poderiam beneficiar suas próprias famílias, como a compra de filmes ou jantares fora de casa.

Em contrapartida, minha família e eu não renunciaríamos a nada que necessitássemos ou desejássemos ao cumprir este compromisso de 99%. Além disso, este compromisso não me permite contribuir com o bem mais valioso, que é o tempo.

Muitas pessoas, incluindo eu, tenho orgulho de dizer que meus três filhos doam muito de seu tempo e talentos para ajudar os outros. Presentes desse tipo costumam ser muito mais valiosos do que dinheiro. Uma criança com dificuldades, amparada e nutrida por um mentor atencioso, recebe um presente cujo valor excede em muito o que pode ser concedido por um cheque. Minha irmã, Doris, oferece ajuda significativa de pessoa para pessoa diariamente.

Posso, contudo, utilizar uma série de certificados de ações da Berkshire Hathaway – “cheques de reivindicação” – que, após conversão em dinheiro, podem gerar recursos significativos e destiná-los a beneficiar outras pessoas que, por acaso, tiveram uma vida mais modesta. Até o momento, aproximadamente 20% das minhas ações foram distribuídas (incluindo ações doadas pela minha falecida esposa, Susan Buffett). Continuarei a distribuir anualmente cerca de 4% das ações que mantenho. No máximo, os rendimentos de todas as minhas ações da Berkshire serão destinados a fins filantrópicos até 10 anos após a liquidação do meu patrimônio. Nada será destinado a fundos patrimoniais; desejo que o dinheiro seja investido em necessidades atuais.

Essa garantia não afetará meu estilo de vida e o dos meus filhos. Eles já receberam valores consideráveis para despesas pessoais e continuarão a recebê-los no futuro. Eles desfrutam de uma vida confortável e produtiva. Eu também prosseguirei vivendo de forma a satisfazer todos os meus desejos na vida.

Certos bens materiais tornam minha vida mais agradável; contudo, muitos não o fariam. Prefiro ter um avião particular caro, mas possuir dezenas de casas seria um fardo. Frequentemente, uma grande quantidade de bens acaba pertencendo ao seu dono. O bem que mais valorizo, além da saúde, são amigos interessantes, diversos e de longa data.

Minha fortuna surgiu de uma mistura de viver nos Estados Unidos, boa sorte genética e juros compostos. Eu e meus filhos obtivemos o que chamo de “loteria dos ovários”. (Inicialmente, as chances de meu nascimento em 1930 nos EUA eram de pelo menos 30 para 1, e o fato de eu ser homem e branco eliminou inúmeros obstáculos que a maioria dos americanos enfrentava na época.)

Minha sorte foi favorecida por atuar em um sistema de mercado que, por vezes, gera resultados enviesados, ainda que, em sua maioria, seja adequado para o nosso país. Operei em uma economia que premia quem salva vidas em situações de conflito, reconhece um excelente professor com bilhetes de agradecimento dos pais, mas que recompensa aqueles que identificam erros de precificação com valores que podem chegar a bilhões. Em síntese, a distribuição de oportunidades é bastante aleatória.

A reação da minha família e a nossa sorte não são de culpa, mas sim de gratidão. Se utilizássemos mais de 1% dos meus cheques de reembolso em nós mesmos, nem a nossa felicidade, nem o nosso bem-estar seriam melhorados. Em contraste, os 99% restantes podem ter um impacto enorme na saúde e no bem-estar de outras pessoas. Essa realidade define um rumo óbvio para mim e minha família: ficar com tudo o que precisarmos e distribuir o restante para a sociedade, para suas necessidades. Nosso compromisso nos inicia nesse caminho.

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Fonte: CNN Brasil

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