Ex-presidente Rompe tornozeleira e Revela Alucinações
O fim de semana foi marcado por uma notícia surpreendente: o ex-presidente rompeu a tornozeleira eletrônica, que o mantinha sob vigilância durante o período de prisão domiciliar. A revelação, que gerou grande repercussão, não se limitou ao evento em si, mas também à alegação da defesa do ex-presidente: a de que o estado mental dele estava comprometido devido à combinação de medicações em uso.
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Interferência Medicamentosa e Alucinações
O boletim médico liberado revelou que, na madrugada do incidente, o ex-presidente experimentou alucinações e uma confusão entre a realidade e a fantasia. A defesa descreveu o episódio como um “surto paranoico”, desencadeado pela interação de medicamentos potentes utilizados para controlar a dor crônica desde o atentado de 2018. Já são seis cirurgias decorrentes desse evento, com a mais recente uma operação extensa, que durou mais de doze horas, para tratar aderências intestinais e reconstruir a parede abdominal. O arsenal farmacológico inclui gabapentina, pregabalina e clorpromazina.
Complexidades e Riscos da Medicação
A gabapentina, um antiepiléptico que também modula a dor neuropática, a pregabalina, usada para controle de dor e ansiedade, que reduz a liberação de neurotransmissores excitatórios, e a clorpromazina, um antipsicótico com efeito sedativo intenso, são apenas alguns dos medicamentos utilizados. É importante ressaltar que, isoladamente, cada um desses medicamentos pode interferir na clareza mental. A combinação, dependendo do organismo de cada pessoa, pode ter um impacto oposto ao desejado. A questão surge: já tomei antidepressivos como a pregabalina e não tive alucinações? A resposta é que medicamentos têm efeitos adversos em cada indivíduo, incluindo o contrário do esperado, especialmente quando associados a outros tratamentos.
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Envelhecimento e Alterações Neuroquímicas
A complexidade da situação se agrava com o envelhecimento. Com o tempo, os neuroreceptores se tornam mais sensíveis, o metabolismo das medicações desacelera e as respostas cerebrais se tornam mais imprevisíveis. Uma dose que alivia a dor em um adulto jovem pode causar sedação, confusão, prejuízo cognitivo e até alucinações em idosos.
O cérebro cria o que não existe e reage como se fosse verdade. Por isso, o contato médico-paciente deve ser constante.
Atenção e Consciência
Vivemos em uma sociedade que demanda por produtividade e silencia todos os indícios de exaustão. Sem perceber, somamos comprimidos para silenciar dores, acelerar retornos, anestesiar incômodos, sem entender que cada substância tem efeitos, esperados ou não.
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A mente é mais delicada do que imaginamos. Pequenas alterações neuroquímicas podem afetar a nitidez da realidade, a intensidade do medo e a lógica das decisões. Cuidar da saúde mental é também observar alterações físicas, emocionais e cognitivas.
Nenhum sintoma deveria ser ignorado.
Reflexões sobre a Saúde Mental e o Uso de Medicamentos
Em uma cultura que exige urgência, buscamos atalhos e soluções rápidas, esperando o mínimo de efeitos colaterais possíveis, mesmo quando isso significa ignorar mudanças sutis no humor, na atenção ou na forma como interpretamos a realidade. Talvez o que falta hoje não seja mais um remédio, e sim a paciência de acompanhar o próprio corpo com a mesma dedicação com que cobramos eficiência de tudo ao redor.
Vivemos no tempo: a brevidade da vida. Não há por que insistir em amadurecer, reconhecer dificuldades e se aprimorar. O mundo conhece os atalhos e soluções mágicas, mas não aceita os efeitos colaterais do tempo. Se observar. Se conhecer. Se entender.
E se perguntar, sempre, se o que fazemos para aliviar o desconforto não está, aos poucos, embotando a consciência que nos sustenta. Porque às vezes, na pressa de silenciar a dor, apagamos também a parte que nos lembra quem somos, trocando a clareza por atalhos que prometem prazer, mas nos afastam de nós mesmos.
